domingo, 22 de maio de 2011

UM DIA DAQUELES - Parte 2

Há um ditado popular que diz que desgraça atrai desgraça.
Neste caso específico diria que trapalhada atrai trapalhada.
Há dias ela vinha convivendo com o mesmo problema e já havia passado um grande constrangimento ao dar entrada num singelo pedido de exame de fezes. Havia deixado a mercadoria coletada em casa devidamente guardada num armário e levou para análise, um potinho completamente vazio.
O problema é que a história não acabou por aí!
No dia marcado para retorno à médica, chovia tanto que cachorro bebia água em pé, como dizia meu avô!
Depois de dar várias voltas com o carro eis que conseguiu uma vaga bem em frente ao prédio do consultório. Aliás, diga-se de passagem, uma vaga apertadíssima e ela corajosamente parou o trânsito na avenida para fazer a manobra.
Ao concluir a árdua tarefa, já estava suando muito e um tanto nervosa como soe acontecer.
Porta do carro aberta e ainda sentada pôs a bolsa no ombro, com certa dificuldade abriu a sombrinha no espaço entre a porta e o capô, pegou a chave do carro e virou as pernas em direção à calçada.
OPA !!!!!!!!!!
Na beirada da calçada, bem na direção de seus pés, havia uma enorme montanha de fezes caninas.
Com a chuva, aquilo tudo estava, como direi? - totalmente esparramado!
Parou no ato, com as pernas ainda levantadas e a sombrinha já aberta.
Assim ficou por alguns segundos e chegou a sorrir perguntando-se o que Gene Kelly faria numa situação dessas em seu Dançando na Chuva!  Será que sairia sapateando por cima de tudo aquilo?
Esticou-se o mais que pôde visto ter pouca estatura (portanto pernas curtas) e cuidadosamente apoiando os pés distantes das mimosas fezes, conseguiu sair do carro. Esse alongamento improvisado provocou leves fisgadas no ciático, afinal já fez 15 anos há tempos.
Foi quando o fato se deu!
A bolsa que até então estava quietinha e apoiada em seu ombro direito resolveu escorregar e pra seu espanto ...proft....caiu em cheio em cima de toda aquela mer_cadoria.
Apesar de ser moça de família quase boa, não se conteve e soltou um sonoro palavrão. Afinal este tipo de subproduto estava azarando sua vida já há dias.
Em baixo de chuva, mal se protegendo com a sombrinha, mancando um pouco por conta da dorzinha no ciático, pegou a bolsa e como único recurso disponível, esfregou-a no tronco de uma árvore usando as folhas molhadas para limpar o estrago.
Nesse momento ficou feliz em usar uma bolsa Victor Hugo made em Paraguai.
Feito isso e com a classe recuperada entrou no consultório. Na sala de espera sentou, pegou uma revista e apoiou a bolsa no sofá ao seu lado.
Imitando a expressão das demais pessoas, fez pose de quem não estava nem aí com a consulta. Afinal, pensou consigo mesma, ir a uma proctologista é tão natural quanto ir ao cabeleireiro.
Quando a secretária falou seu nome, levantou-se e ao erguer a bolsa ficou apalermada com o que viu. 
O tecido claro do sofá apresentava várias manchas na cor marrom, velhas conhecidas suas!  Não havia limpado a bolsa direito e a sujeira que ainda restava nela, saiu toda no sofá.
Na pressa não teve outra saída a não ser jogar a revista sobre o local.
Ao sair da sala da médica olhou disfarçadamente para o cantinho do sofá e lá estava a revista bem quietinha, impávida e exatamente no mesmo local.
Foi embora na maior dúvida: será que realmente ninguém quis lê-la ou acharam que naquele local ela dava um toque especial à decoração do ambiente, escondendo uns tons marrons que destoavam de tudo?            
                       
Santos, janeiro de 2011

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