domingo, 26 de junho de 2011

BARRADA NA PORTA





Era um sábado chuvoso nos idos anos 50. Relógios marcando meio dia e o comércio encerrando suas atividades, fato comum nas cidades do interior naqueles tempos.
Pai e filho tomam as últimas providências para concluírem o trabalho, fecharem a loja e se dirigirem para casa que era próxima pois o almoço já os aguardava. Todas as portas de aço estavam devidamente abaixadas e trancadas, menos a principal que era de esquina e por onde sairiam.
Como a chuva estivesse forte resolveram esperar mais um pouco visto que estavam sem guarda-chuva e até abaixarem a porta de aço e colocarem os cadeados estariam totalmente molhados. 
Enquanto o pai ultimava suas anotações na mesa que ficava nos fundos da loja, o menino resolveu abaixar um pouco a porta da esquina até uma altura que evitasse a entrada da chuva trazida pelo forte vento.  Assim pensando abaixou-a até a metade e dirigiu-se também para os fundos da loja para aguardar o pai.
Na residência os ânimos estavam ficando mais tensos com o atraso de ambos. A comida estava esfriando e uma demora maior obrigaria voltar todo alimento para o fogo novamente.
Tentou-se contato pelo telefone mas naqueles tempos qualquer chuva mais intensa provocava danos nos aparelhos impedindo ligações.
Tempo passando, comida esfriando e a paciência esgotando. Foi quando a esposa decidiu mandar a menina ir ao encontro do pai e do irmão para apressá-los. A garota ficou até feliz pois usaria pela primeira vez sua nova sombrinha azul de cabo longo, presente de aniversário.  
Ventava muito e a chuva caia com força e bem inclinada.  Buscando maior proteção, além de deslocar-se junto às paredes das casas, ela também inclinou a sombrinha deixando-a bem à frente de seu corpo. Andando dessa forma a menina tinha a visão prejudicada pois só conseguia ver um pouco mais de um metro da calçada a sua frente. 
Atravessou a rua correndo para molhar-se o menos possível. Embalada nessa corrida ela continuou em velocidade até enxergar por baixo da sombrinha, o degrau e a abertura da porta de esquina da loja.
O que se ouvi a seguir foi um enorme estrondo e um grito.
Barrada pela porta semiaberta a menina teve o rosto projetado com violência contra as ferragens da sombrinha que entortou a tal ponto que o cabo encostou no tecido. Entrou atordoada na loja, trocando as pernas e sem saber direito o que tinha acontecido. Chegou a pensar que havia sido atropelada por um caminhão. 
Tentando sozinha estancar o sangue que saia pelo nariz, viu quando o pai ao invés de acudi-la, dava uma enorme bronca no irmão por ter deixado a porta naquela posição semiaberta.   
Com dor e assustada com o sangue que escorria em seu rosto, a garota tratou de voltar para casa correndo novamente. Desta vez a travessia foi feita  até sem sombrinha, não se importando com a chuva que lhe molhava. Com toda a confusão ela até esqueceu do que havia ido fazer na loja. 
Logo depois pai e filho também chegaram na residência.
O almoço daquele sábado com certeza não foi dos mais festivos. 
O acontecimento porém acarretou outro problema. 
A sombrinha nova ficou muito danificada.  Com o impacto sofrido, o cabo entortou praticamente 90°, dobrando bem sobre o local de travamento das varetas, o que impossibilitava seu fechamento. Assim ficou a sombrinha aberta por um bom tempo sobre o armário, esperando um dia chuvoso para que a menina pudesse levá-la para consertar. 
No primeiro dia de chuva lá foi a garota bem constrangida caminhando com sua sombrinha entortada.  Para que o tecido ficasse sobre sua cabeça e lhe protegesse ela tinha que segurar o cabo na posição horizontal na altura de seu ombro, o que a obrigava a andar com o braço erguido. Isso despertou olhares curiosos em todo o trajeto.
Ao passar em frente a uma loja onde dois senhores conversavam, ouviu o comentário espantado entre ambos sobre o novo e estranho modelo de sombrinha.  Perguntaram-lhe então se não era desconfortável.
Rapidamente ela esclareceu:
- É modelo próprio para dias de chuva com vento forte - e pensando consigo mesma, completou mentalmente a frase – desde que não tenha nenhuma porta pela frente!           
                            
Santos, 26 de maio de 2011 

Ps:  
1. A preocupação em dar a bronca  (aliás uma enorme bronca, certo Edo?) foi maior do que acudir um nariz arrebentado.....rsss
2. Os dois senhores que estranharam o modelo da sombrinha foram Mauricio e Emílio Chacur, proprietários de uma loja na rua 3 - Bazar São Paulo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MEIAS DE OUTONO

Conviver com uma pessoa extremamente bagunceira é difícil.
Igualmente complicado é morar com alguém excessivamente organizado.
Ela se encaixava na segunda situação. Desde os tempos de namoro já sabia que ele gostava de cada coisa em seu lugar, devidamente anotado, arrumado e tantos “ados” quantos fossem possíveis.
Com o passar dos anos e já casados, ele foi aperfeiçoando cada vez mais sua criatividade de um modo geral, principalmente no quesito organização. 
O armário embutido do quarto do casal era bem espaçoso e tomava uma parede toda do cômodo, de cima abaixo.  Já foi assim projetado em função do território que ele precisava para seus pertences.
No início fez-se a divisão do espaço em duas partes iguais. Entretanto isso durou pouquíssimo tempo.  Logo ele se viu atrapalhado e sem lugar para guardar suas coisas.
As camisas que não usava no dia a dia, e as tinha em quantidade razoável, eram guardadas em suas caixas de origem, devidamente empilhadas e etiquetadas com todo capricho.  Dizia que assim procedia para facilitar a identificação de seus conteúdos.
Quem abrisse seu lado do armário veria além de camisas nos cabides, muitas embalagens empilhadas. Coladas nas laterais das caixas, tiras brancas de papéis com grandes letras de forma feitas com pincel atômico colorido, exibiam informações tais como: camisa branca fina de mangas compridas, camisa azul clara de mangas curtas, camisa bege de lã, e assim por diante. Lembravam prateleiras de uma camisaria dispostas de maneira até melhor e mais racional.
A esposa logo começou a ter seu lado no armário invadido por caixas alheias. Para evitar problemas, aos poucos foi passando a usar o armário do quarto vizinho. Não demorou muito para que ele tomasse posse de todo o espaço.
Os filhos, em sua ausência claro, divertiam-se abrindo as portas famosas e rindo muito pois sempre havia alguma ideia nova lá dentro.
Certa feita a mãe ao abrir o armário espantou-se muito com algo que viu. Ficou tão pasma que chamou a filha para ver a última novidade em termos de organização.
Ao entrar no quarto, ela encontrou a mãe parada diante das portas abertas do armário com uma caixa retangular nas mãos. 
Era uma caixa de meias. O pai havia passado também a guardar cada par de meias dentro de uma caixa.
Nessa em particular que a mãe segurava, havia uma etiqueta em sua lateral onde caprichosas letras vermelhas informavam: MEIAS DE OUTONO.
Ele chegara ao cúmulo de classificar meias segundo a estação do ano mais própria para usá-las e o fez de forma tão precisa, que em pleno país tropical distinguiu meias para usar no outono de meias para usar no inverno.
Enquanto elas ainda espantadas se divertiam com aquilo, o dono das meias chegou de improviso e as flagrou com a caixa nas mãos.
Quis saber o que se passava e a mãe aproveitando que a bronca esperada não veio, questionou-o curiosa sobre a classificação das meias.
A explicação foi dada com toda calma e tranquilidade que lhe eram peculiares:
- Essas meias esquentam muito meus pés tanto no verão como na primavera. Já experimentei usar no inverno e vi que elas não aquecem bem.  Então as classifiquei assim para usá-las somente no outono. Simples assim. Mais alguma pergunta?
Diante dos olhares atônitos das duas, pegou a caixa, guardou-a no lugar, fechou o armário e saiu assobiando como era seu costume.
Estava encerrada a visitação pública aos seus pertences.

 Santos, 06 de junho de 2011  

                 Ao Sr. Italo, meu pai, uma homenagem relembrando uma de suas "artes".
                 Extremamente conservador, crítico e de temperamento forte, aliados à tranquilidade,   calma e bom humor junto aos amigos.  Sua criatividade se manifestava em excêntricas "invenções" caseiras. Tinha o hábito de andar sempre assobiando (geralmente marchas militares e o Hino Nacional) e o fazia muito bem. Teve atitudes muito humanas mas as fez em silêncio e só viemos a saber depois de sua partida.    Sua criatividade em termos de organização merecerá um conto à parte.

domingo, 12 de junho de 2011

A LÓGICA INFANTIL

Nos horários em que não havia expediente, ele circulava livremente por aqueles corredores e fazia daquele espaço seu local de brincadeiras.
Tinha no máximo cinco anos, mas era super ativo e vivia dando preocupações à avó, zeladora daquela repartição.   A despeito de suas reinações, era figurinha conhecida e querida por todos que por lá circulavam.  Sua vivacidade era notável.
Durante a semana, recebia ordens de não sair do espaço destinado à zeladoria, pois a avó estaria trabalhando e sem tempo de lhe dar atenção.
Geralmente essas normas eram quebradas uma vez que ele jamais teve paciência para ficar sentado diante de uma televisão ligada, por mais divertido que fosse o programa.
Era comum encontrar o garoto circulando fora da área que lhe era permitida.
Naquela manhã de inverno ocorria uma reunião em uma das salas e aquela figurinha infantil foi vista circulando pelas proximidades. Já próximo do horário de almoço, a reunião estava chegando ao seu final quando alguém deu um alerta de cheiro de queimado no ambiente.  No mesmo instante todos concordaram e passaram a olhar as lâmpadas e fios procurando o ponto de partida daquele cheiro forte de coisas queimando.
Não demorou muito para que algumas labaredas surgissem por trás dos vidros da janela aberta, com o fogo já dando algumas lambidas para dentro da sala.
Pânico geral. Todos saíram rapidamente do local buscando o pátio externo, bem distante dali. Todos não; três funcionários já munidos de extintores de incêndio se dirigiram para o local das chamas.
Um amontoado de sucata formada por restos de móveis e papéis velhos alimentavam o fogo que já havia alcançado uma altura razoável.
Com certa dificuldade já que nunca havia mexido com isso, o funcionário esvaziou dois extintores para conseguir apagar todos os focos do incêndio.
A uma distância segura, a zeladora e seu neto acompanhavam todo o trabalho.
Quando só havia cinzas e pouca fumaça saindo, começou o questionamento sobre o que teria provocado aquilo.  Não havia rede elétrica por perto, não havia sistema de gás. Era somente um amontoado de material que ali estava acumulado.
Uma a uma cada possibilidade foi sendo descartada até que se observou ali perto, caída no chão, uma caixa de fósforos com alguns palitos usados ao lado.
Os olhares se dirigiram para o pequeno garoto que até então estava muito quieto, fato inusitado para todos.
A avó percebendo a situação começou a questioná-lo para que contasse o que sabia e o olhar arregalado dele o denunciava. 
Quando todos já haviam concluído que ele era o causador de toda aquela confusão, o garoto mostrando ares de revolta resolveu fazer sua própria defesa e muito indignado falou com toda convicção que a lógica infantil lhe permitiu:
- Esse fogo não fui eu que fiz não!!!  e fazendo um gesto com o dedo indicador e o polegar deixando-os a uma distância de uns dois centímetros um do outro, completou:
- O fogo que eu fiz era pequenininho assim ó, e não grandão como esse que o tio apagou!

Santos, 09 de maio de 2011                                                    

quarta-feira, 8 de junho de 2011

CRIANÇA ADORMECIDA




            Nada transmite mais pureza do que a face de uma criança adormecida.
O semblante tranquilo, inocente, irradia uma calma que contamina o ambiente.
Como se percebesse que está sendo observada, a criança move os lábios suavemente e um sorriso ilumina seu rosto.
Com o que sonhará neste momento este ser tão pequenino?
Sonhará com as brincadeiras do dia? Com algum passeio realizado?
Serão sonhos coloridos de um futuro não muito distante?
Quem dera essa inocência toda assim permanecesse ao longo dos anos!
Quem dera o mundo não pintasse nessa face, expressões da ironia, da desconfiança, do egoísmo, tão comuns aos adultos.
O brilho colorido da infância dificilmente mantém seus tons firmes à medida que os anos avançam. A pureza que habita o mundo infantil não resiste às influências que recebe.
Um som se ouve ao longe. É a voz da mãe chamando pela criança.
Os olhos infantis se abrem devagar querendo ainda prolongar o seu sonhar.  O sorriso permanece nos lábios semiabertos.
Lentamente se levanta e vai ao encontro da mãe que a aguarda.
Desfaz-se o encanto do momento.
No leito revolvido e ainda quente de seu corpo, jazem as esperanças de uma noite de sonhos.
A criança acorda para a vida!

Rio Claro, setembro de 1968 

sábado, 4 de junho de 2011

CAIPIRICES NA CAPITAL

Convocado para uma reunião de trabalho na Capital, o grupo formado por dez pessoas desembarcou no terminal de ônibus e seguiu direto para o metrô.  Era final de tarde e a imensa agitação provocou um pouco de receio em todos.
No interior onde moravam, não havia esse movimento intenso de pedestres circulando nas calçadas.
O hotel previamente reservado localizava-se no chamado centro velho de São Paulo e era o mais indicado ao grupo porque além de ser perto do local da reunião que aconteceria nas primeiras horas da manhã seguinte, também era próximo à estação de metrô.
Deslocando-se atabalhoadamente pelas calçadas congestionadas, o grupo chamava a atenção não somente por conta das malas, mas principalmente pelos típicos trejeitos interioranos.
No curto trajeto percorrido a pé entre o metrô e o hotel, as mulheres que constituíam a maioria do grupo, observaram a existência de grande quantidade de lojas de calçados. Isso despertou um desejo que principalmente as mulheres conhecem muito bem: uma vontade incontida de fazer compras.
Como se aproximava o horário de fechamento do comércio, aceleraram os passos para deixarem logo as bagagens no hotel e voltarem rapidamente até as lojas de calçados.        Entretanto, dez pessoas chegando num balcão de hotel para efetuarem os registros obviamente causaram certo tumulto e os poucos funcionários demoraram mais do que o esperado para acertarem os detalhes. Enquanto isso, ali mesmo, foi feita a divisão das duplas que ocupariam cada apartamento. 
Antes que começassem a subir com as malas, combinou-se que dali a cinco minutos todos deveriam estar retornando ao hall de entrada do hotel, já que teriam menos de uma hora antes do fechamento do comércio.
O cansaço da viagem, o atordoamento normal por conta de tanto atropelo e, claro, as trapalhadas características de alguns elementos, corroboraram para uma série de confusões que atrasaram mais ainda os apressados hóspedes.
Uma das primeiras duplas a receber a chave do apartamento foi justamente a última a descer e o fez de maneira triunfal em função da grande confusão que aprontou.
Assim que entraram no quarto, uma das mulheres já foi dirigindo-se ao banheiro enquanto a outra ficou aguardando sua vez.
Quando o banheiro foi desocupado, ela para lá se dirigiu e no intúito de ganhar tempo, de cabeça baixa, já foi tirando o cinto e desabotoando a calça jeans. 
Abriu a porta e entrou no banheiro, ou melhor, pensou que havia entrado no banheiro.  Fechou a porta atrás de si e de calças já abertas e ainda olhando para baixo, espantou-se ao ver carpete no chão. 
Que coisa mais estranha, pensou consigo mesma.  Banheiro com carpete!!!
Foi quando levantou os olhos e levou o maior susto.
Estava no corredor de acesso aos quartos. Na pressa e com a cabeça abaixada, não notou que a porta do apartamento ficava bem ao lado da porta do banheiro. Havia aberto a porta errada e saído do quarto.
Deu um pulo e certificando-se que ninguém a havia visto (as câmeras de segurança ainda não eram tão usuais), entrou novamente no apartamento onde sua companheira, pasma e de boca aberta, queria saber onde ela havia ido com as calças quase arriadas.
Não foi possível explicar naquele momento pois ria tanto que teve de correr ao  banheiro, não sem antes certificar-se de que desta vez abria a porta certa.
Finalmente prontas e já com certo tempo perdido pelo imprevisto, foram até o elevador.   Aflitas, já achavam que os demais amigos do grupo não as esperavam mais. 
Quando o elevador chegou depois de uma boa demora, a outra companheira que se encontrava bem à frente teve também seu momento de trapalhada.
Ao abrir a porta do elevador que era muito pequeno e totalmente revestido com espelhos, ela que estava sem seus óculos de grau, viu nos espelhos os reflexos de si própria e da amiga. Dizendo “está cheio”,  fechou novamente a porta liberando o elevador que desceu em seguida. Ainda chegou a ouvir a amiga gritando “somos nós no espelho”, mas sem mais tempo para segurá-lo.
Mais alguns momentos até que finalmente estavam descendo para o térreo. Ambas riam tanto dentro do elevador que uma delas acidentalmente encostou-se num botão de alarme do painel. Uma sirene forte começou a soar e não sabiam como desligá-la.
Quando chegaram ao térreo e a porta do elevador abriu, se depararam com uma grande comissão de recepção formada pelos assustados amigos e por vários funcionários do hotel, prontos para atenderem a emergência anunciada.
Explicações devidamente feitas e muita gozação de todos, lá foi o grupo na correria pelas calçadas para os últimos minutos de compras.
Na saída ainda ouviram o comentário de um funcionário do hotel que rindo muito, os comparou a Mazzaropi no filme “Um caipira em Bariloche”.
Qualquer semelhança com certeza não foi mera coincidência......


Santos, 25 de maio de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O CANÁRIO GASPAR (Para a menina Luíza)

          

           Vivi, uma garotinha muito esperta, morava numa casa grande com um quintal cheio de árvores e flores.
          Um dia enquanto sua mãe cuidava do jardim, Vivi foi até o quintal para andar na sua bicicleta. Foi correndo pela grama quando de repente levou o maior susto!
        Um passarinho amarelo, bem pequenino, estava encolhidinho atrás de umas flores e Vivi quase pisou nele sem querer. Abaixou-se e viu que ele estava tremendo, com uma asinha machucada e por isso não voava.
          Pegou-o com carinho nas mãos e chamou sua mãe que logo arrumou uma gaiola para por o bichinho. Ele tremia muito e mal parava no poleiro.
Vivi e sua mãe passaram remédio na asa do pássaro e o colocaram na gaiola.


    A mãe da garota explicou que aquela ave toda amarelinha era um canário.
          Vivi resolveu dar-lhe o nome de Gaspar que era o nome de um amiguinho da escola.
          Depois de uns dias a menina viu que Gaspar já voava dentro da gaiola e que a asinha já estava curada. 
          Gaspar apesar de já estar bom, continuava com carinha triste e não cantava.
          A menina entendeu que aquele passarinho gostava mesmo era da liberdade de poder voar para onde quisesse.
          Mesmo triste por pensar que talvez nunca mais visse Gaspar, resolveu pedir à mãe que abrisse a gaiola.
          Nessa mesma hora Gaspar saiu voando alegre e ficou dançando no ar em volta de Vivi cantando alto, piiuuuu....piuuuuuuuuuu........piuuuuuuuuu.
          O canário, muito feliz, entrava e saia da gaiola cantando sem parar.
          Daquele dia em diante, todas as manhãs Vivi acordava com o canto bonito de Gaspar que vinha até a casa, pousava na janela do quarto da garota e cantava bem alto chamando-a para brincar.
          Depois ia embora alegre, não sem antes fazer malabarismos sobre a cabeça de Vivi, que sorria feliz.



Rio Claro,  outubro de 2003.