Ao longo do dia as tensões se acumularam sem que ela conseguisse um momento sequer para respirar fundo.
Era preciso dar a dimensão exata a cada preocupação.
Deslocando-se de um local a outro, olhou no relógio e sentiu-se atropelada pelo tempo.
Receou que aquele dia estivesse irremediavelmente perdido.
Receou que aquele dia estivesse irremediavelmente perdido.
De fato foram horas conturbadas, mas conseguira já bem no final da tarde, administrar razoavelmente todas as questões.
Finalmente em casa, recebida pela alegre cachorrinha branca, conseguiu esquecer um pouco as atribulações que a acompanharam por todo o dia.
Já no chuveiro, a água morna escorrendo em seu corpo foi como uma bênção para acalmar a dor de cabeça e relaxar os músculos. A sensação foi tão boa que quando se deu conta estava cantarolando. Sentia-se bem mais leve.
Ao observar que as paredes do banheiro estavam embaçadas, um comportamento infantil lhe veio à mente e se pôs a escrever versos no vapor. Soltou a imaginação na ponta do dedo desenhando as palavras que lhe vinham à mente.
A noite de sono reparador ajudou a clarear as ideias e na manhã seguinte já estava pronta para enfrentar a maratona novamente.
Dessa vez a rotina do dia de certa forma foi tranquila.
No começo da noite como sempre, a recepção que recebeu assim que entrou em casa a fez esquecer o trabalho. Rolou no tapete da sala enquanto brincava com a cachorrinha.
Na hora do banho eis que teve uma surpresa!
Assim que a água quente do chuveiro começou a escorrer, o vapor novamente surgiu nas paredes à sua volta, dando vida às palavras lá anotadas na noite anterior.
Leu emocionada os poemas escritos em momentos de lirismo e inspiração.
A seguir, passou a mão sobre cada verso, sobre cada letra, juntando as gotículas de água que escorreram levando seu poema parede abaixo.
Apagou assim as palavras escritas, mas as reteve na alma.
Apagou assim as palavras escritas, mas as reteve na alma.
Escrever palavras no vapor é como deixar uma mensagem secreta.
As letras somem momentaneamente para reaparecerem de surpresa no próximo "embaçamento", revelando a espontaneidade de um momento.
Quem de nós nunca escreveu confidências no vapor?
Santos, 30 de maio de 2012
Texto a partir da frase:
"Nos banheiros de hotéis escrevi palavras no vapor, palavras essas que nunca mais irei lembrar, deixei-as de presente para Budapeste"
in BUDAPESTE (24/11/2011) by Débora Vasconcelos. Blog: www.extremosdemim.blogspot.com.br