Estava lá de passagem como gostava
de frisar, deixando claro que na primeira oportunidade se removeria para outra
escola mais central.
Era uma boa administradora,
competente, responsável e correta.
Entretanto, apesar de toda esta
capacidade profissional, o relacionamento pessoal deixava a desejar, pois evitava
maiores aproximações com todos os subalternos.
Era tida como arrogante por boa
parte do pessoal, mas particularmente creio que suas atitudes refletiam mais
uma autodefesa, uma maneira de manter a autoridade. Talvez receasse que a amizade pudesse ser confundida
com liberdade e, portanto, não a cultivava mesmo.
A escola se localizava num bairro
periférico da cidade e sua clientela era formada por alunos que enfrentavam
sérios problemas familiares, econômicos e sociais de um modo geral.
Para aquela criançada não passava despercebida
a postura muito superior da diretora, e isto só reforçava a antipatia que
sentiam por ela.
Numa tarde ensolarada as aulas
aconteciam num clima tranquilo, sem nada que afetasse o bom andamento dos
trabalhos.
“De repente, não mais que de repente” *, como já disse Vinícius, uma
gritaria teve início numa sala e na sequência, a professora saiu em disparada em
direção ao corredor sendo seguida por todos os alunos, que berravam dando o alarme: Um rato! Um rato!
As salas vizinhas ficaram
alvoroçadas e as aulas foram interrompidas.
Nas portas de cada sala do corredor, cabeças e mais cabeças espiavam
tentando ver o que acontecia.
Um grande e assustado rato que
corria atordoado entre as pernas das crianças, acabou encurralado num canto de parede. Os alunos acostumados com situações deste
tipo mataram rapidamente o bicho com algumas pedradas, mesmo antes que qualquer
adulto pudesse tomar alguma providência.
Foi bem nesse momento que a
diretora chegou ao local do fato e já criticando o comportamento da professora
e alunos, quis saber o motivo de tanto reboliço.
Mostrando-lhe o animal morto, as
crianças contaram que ele estava andando sobre o varão que prendia a cortina e
acabou caindo sobre a mesa da professora.
Mantendo seu ar de superioridade,
ela fez uma expressão de desdém e comentou:
- Não acredito que vocês alvoroçaram
a escola toda por causa de um ratinho deste!
No mesmo instante ouviu-se a divertida
e oportuna resposta de um dos garotos:
- Ratinho? Por acaso na casa da senhora os ratos são
maiores????
A gargalhada foi geral, inclusive
por parte da professora.
Sem resposta a dar, a diretora
voltou para sua sala permanecendo quietinha lá até o final do expediente.
“Quem fala o que não deve, ouve o
que não quer!”
Santos, 25 de fevereiro de 2014.
*Soneto da Separação – Vinícius de Moraes