2. Os talheres me acompanham há anos, pois todos foram adquiridos por minha mãe, quando a família era mais numerosa.
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
PACIÊNCIA ORIENTAL
domingo, 10 de setembro de 2023
EM STAND BY
Sempre gostei de ler algumas tirinhas divertidas de jornais como charges, caricaturas, cartuns, etc.
Desde criança lembro que ao pegar a revista O Cruzeiro que existia na época, ia direto para a última página procurar a criação de Péricles: O Amigo da Onça.
Ainda na infância fui fã também de revistas em quadrinhos como Luluzinha, Bolinha, Pato Donald, Zé Carioca, e toda a turma Disney.
Com um pouco mais de idade passei a me interessar somente pelas tirinhas satíricas que eram publicadas no jornal O Estado de São Paulo que meu pai assinava na época, e outros jornais que me caiam nas mãos, às vezes de maneira meio velada, como o famoso jornal O Pasquim.
Impossível esquecer a diversão que era ler as histórias de Graúna, Bode Orelana, os fradinhos, e toda a criação de Henfil.
No Estadão lembro, dentre outras, de Mutt e Jeff e a ótima Calvin e Haroldo (criação de Bill Watterson). Esta última já em meados da década de 80.
Acompanho até hoje esta dupla formada pelo garoto e seu tigre de pelúcia. Os temas são sempre atuais pois são extemporâneos e abordam amizade, família, escola, etc.
Sempre há algum comportamento dos personagens, que além de nos fazer rir, acaba por nos lembrar de algum fato da nossa própria realidade.
Assim aconteceu há poucos dias quando ao ler na internet a tirinha desta dupla, lembrei-me na hora de uma grande saia justa que passei por ter atuado exatamente como Calvin fez na tirinha, ou seja, demonstrar expressão de interesse mas deixar a mente livre e pensar em outras coisas diante de alguém com uma conversa que não nos agrada em absoluto.
Sempre ao final da tarde eu e outra professora tomávamos um ônibus da antiga frota José Alexandre Jr, para irmos de Rio Claro a Ipeúna, pois lecionávamos nesta cidade no período noturno.
O ônibus era muito velho e tremendamente barulhento. A estrada a ser percorrida também não ajudava em nada, pois era de terra batida, cheia de buracos e mal conservada.
Minha companheira de viagem era uma daquelas pessoas que falavam muito e sem parar. Havia um agravante: falava muito baixinho, em som quase inaudível.
Quando o ônibus chegava no ponto, eu sempre procurava entrar antes dela e buscava um assento onde só havia um lugar vago. Isso era proposital para evitar o falatório pelos 20 Km de viagem.
Às vezes eu não tinha sorte e acabávamos indo no mesmo banco.
Comecei então a usar um recurso que eu mesma chamava de stand by. Ficava olhando para ela demonstrando interesse, mas minha mente viajava por outros recantos. Mesmo que eu estivesse a fim de escutá-la, era muito difícil pois todo o barulho no interior do veículo cobria totalmente a voz fraquinha dela.
Certa vez passei um grande constrangimento.
Ela contava seus casos e estava sentada ao lado da janela aberta. Eu balançava a cabeça como se estivesse concordando com tudo, mas sem ter a menor ideia do assunto.
Até que de repente percebi que ela esperava uma resposta minha. Conclui erradamente que tinha que concordar e falei com toda a ênfase possível:
- Sim, é claro que sim!!! Qualquer um sabe disso!
Na mesma hora seu semblante transformou-se numa carranca, e enquanto fechava a janela do ônibus, disse em alto e bom som:
- Por que não me avisou? Bastava ter me pedido para fechar a janela!
Só neste momento entendi que ela havia me perguntado se o vento estava incomodando.
Nunca soube se a reação brava dela foi por ter considerado minha resposta malcriada e agressiva, ou por ter captado que eu não estava prestando a mínima atenção na longa história que me contava.
Apesar do climão que ficou, acabei saindo no lucro pois irritada com minha maneira de responder, não abriu mais a boca até o final da viagem.
Deste dia em diante achei por bem encerrar minha temporada de stand by, mas de certa forma foi até desnecessário, pois minha acompanhante também passou a procurar sempre um banco com um único lugar para sentar.
Santos, 10 de setembro de 2023
domingo, 2 de julho de 2023
PALAVRAS CERTAS NAS HORAS CERTAS
A conhecida expressão “palavra certa na hora certa”, nem sempre acompanha momentos delicados e muitas vezes preocupantes que vivenciamos no dia a dia.
Muitas vezes profissionais de diferentes áreas acabam derrapando nas palavras, por assim dizer, ao se dirigirem às pessoas às quais estão prestando atendimento.
Talvez isso ocorra por falta de bom senso, falta de ética, falta de respeito ou simplesmente pura falta de educação mesmo.
Quando menos esperamos ouvimos uma afirmação ou simples comentário que nos deixa em estado de alerta sobre o que está acontecendo ou prestes a acontecer.
Assim ocorreu com ele minutos antes de uma cirurgia de catarata ao ouvir do médico uma pergunta que o deixou preocupado.
Já na mesa de cirurgia e prestes a passar pelo procedimento, escutou a seguinte indagação que lhe causou grande ansiedade:
- É plano de saúde ou particular?
O motivo de tal pergunta naquele exato momento provocou-lhe mal estar de imediato, pois já imaginou, não sem razão, que haveria diferença no atendimento entre uma e outra situação.
Pergunta feita em hora totalmente inadequada.
Durante uma entrevista de emprego, a responsável pelo setor de RH quis saber o que a candidata mais adorava na vida, mas por vergonha e constrangimento nunca havia contado a alguém..
Diante da postura pouco confortável que notou na jovem, ela reforçou a pergunta de maneira insistente. Acabou por desistir diante da negativa recebida seguida da afirmação que tal pergunta era desnecessária, ofensiva e invasiva demais.
Ainda no campo da oftalmologia, outra situação de total falta de bom senso foi vivenciada pela jovem senhora, ainda na casa de seus 40 e poucos anos, durante uma consulta sobre a possibilidade de uma cirurgia para correção da miopia.
Foi desaconselhada pelo médico alegando que pela idade dela, logo provavelmente teria problemas de catarata e então não convinha fazer o que ela desejava pois seria trabalho perdido. Entre chocada e decepcionada com o comportamento do profissional, retirou-se incrédula com a falta de tato do mesmo.
É necessário haver cuidado e bom senso com as palavras dirigidas aos que buscam uma solução para seu problema.
Ao mesmo tempo que elas podem aliviar quem as escuta, se forem mal colocadas podem ocasionar danos maiores que os próprios problemas.
"As palavras voam, e às vezes pousam". Cecília Meirelles
Santos, 02 de julho de 2023.
quinta-feira, 8 de junho de 2023
TIO CARLOS
Assim era tio Carlos, irmão de minha avó paterna.
Sempre muito elegante, não saia sem vestir um terno, colete, gravata, e muitas vezes chapéu e guarda-chuva.
Morava com sua mãe viúva em Jundiaí onde tinha seu trabalho na antiga ferrovia da cidade.
Era uma festa para os sobrinhos-netos quando vinha a Rio Claro na companhia da mãe ou sozinho, visitar a família.
Era risada garantida.
Muito piadista se divertia contando fatos engraçados acontecidos com ele ou com amigos. Às vezes até representava a cena.
Não lembro de tê-lo visto sério ou preocupado. Seu semblante era sempre alegre.
Uma de suas peripécias mais conhecidas ocorria nas viagens de trem de Jundiaí a Rio Claro, quando sua mãe não o acompanhava.
Tinha muita facilidade para dormir e assim que o trem partia, ele literalmente "apagava" como se diz. Dormia a viagem inteira.
Por várias vezes aconteceu dele não acordar quando o trem estava parado na estação de Rio Claro, mas sim, quando o comboio já estava partindo seguindo viagem.
Aí então, assustado, pegava sua malinha e esperava chegar até na porteira da Avenida 8, quando a velocidade do trem ainda não era muita. Ato contínuo jogava a bagagem e dava o que ele chamava de salto mortal.
Caia sempre "catando coquinhos" e terminava a queda completamente de quatro, sobre pedregulhos e terra.
Apesar do susto ainda assim ficava feliz, pois afinal suas irmãs moravam perto desta porteira e isto o poupava de maiores caminhadas. Chegava esfolado, arranhado e com o terno sujo, mas gargalhando do fato.
Certa vez durante umas férias escolares em São Paulo, passei uns poucos dias hospedada no apartamento de seu irmão Antônio, juntamente com minha tia e seu filho. Tio Antônio, é bom que se esclareça, também era brincalhão e divertido.
Saímos a pé os quatro (eu, tia, primo e tio Carlos) para passearmos pelo centro da cidade, hoje chamado de centro velho. A certa altura do passeio, tio Carlos precisou separar-se do grupo. Combinamos o reencontro às 17h bem na esquina de uma grande loja de departamentos chamada Mappin.
Já nos primeiros anos da década de 1960, a região era movimentadíssima.
Atrasamo-nos um pouco e ao chegarmos ao local combinado, havia tanta gente na calçada que não conseguíamos enxergar tio Carlos, que era de pequena estatura e bem magro. Chegamos a pensar que São Paulo inteira havia combinado de se encontrar naquela esquina.
Assim que ele nos avistou, tentou se aproximar e se fazer ouvir, mas sem sucesso. Não teve dúvidas: abriu seu enorme guarda-chuva e agitando-o começou a ensaiar uns passos de dança.
No mesmo instante formou-se uma roda de pessoas perto dele e isto nos chamou a atenção, facilitando o reencontro.
Quando parou a tal dança e fechou seu guarda-chuva, houve quem na improvisada plateia lhe pedisse para continuar, mas ele educadamente declinou.
Em plenos anos 60 tio Carlos, como se diz nos dias atuais, "causou" na famosa esquina do Mappin.
Infelizmente seus últimos tempos de vida foram de muito sofrimento.
A despeito disso, e já em outra dimensão, creio que continue a fazer sorrir quem dele se aproximar.
Tio Carlos, as gerações mais novas não o conheceram, mas saiba que suas histórias estão perpetuadas na família.
Santos, 08 de junho de 2023
sexta-feira, 3 de março de 2023
ANOS DOURADOS DE ESTUDANTE
Uma foto encontrada em rede social, um comentário feito por um nome conhecido mas já há muito tempo sem contato, ou até mesmo um fato corriqueiro, já me remete aos anos dourados de estudante.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
A CUBA DA PIA
Os seres humanos são mesmo muito díspares.
Cada um tem sua personalidade, costumes, temperamentos e ….…manias.
Há que se ter respeito, empatia e muito jogo de cintura para que a convivência seja tranquila quer seja entre familiares, amigos, ou até mesmo desconhecidos.
Na casa moravam apenas mãe e filho.
Ela com temperamento bastante autoritário. Ele dependente emocionalmente dela desde a infância.
Uma pessoa da família moradora em outra cidade foi convidada para um churrasco com amigas. Sendo assim viajou para o interior a fim de participar deste encontro e ao mesmo tempo aproveitar para fazer uma visita na casa onde moravam a mãe e o filho acima citados.
Chegou no meio da manhã e justamente no dia em que a funcionária da casa havia faltado. Foi então lhe solicitado (talvez o termo certo fosse…ordenado) que providenciasse um almoço rápido à base de ovos.
Não se furtou a isso embora não dispusesse de muito tempo, pois considerou a idade da dona da casa.
Feitos os pratos ambos almoçaram e já na sequência ela começou a lavar as louças, enxugá-las e guardá-las (era o costume da casa), sempre seguindo as instruções ditadas. Mãe e filho permaneceram sentados perto só observando o serviço.
Olhando no relógio a visita constatou que já estava bem atrasada para o encontro com as amigas.
Passou o rodinho de pia e a secou com o pano determinado.
Rapidamente correu até o quintal e pendurou o pano no varal.
Ao voltar para a cozinha ouviu num tom bem reprovador a fala da dona da casa
- Aqui nós secamos a cuba. Você não a secou!
Por um instante a visita pensou em ignorar tal cobrança, mas voltou correndo ao quintal, trouxe o dito cujo pano, secou a dita cuja cuba e voltou a colocá-lo no varal.
Feito isso achou por bem retirar-se antes que outra ordem lhe fosse dada já que estava bem atrasada para seu compromisso.
O mais curioso da história é que esta visita também tem o costume de enxugar a cuba da pia em sua casa, só não o fazendo na ocasião em função da pressa necessária no momento.
“Mania é coisa que a gente tem mas não sabe porquê”*...
Santos, 28 de fevereiro de 2023.
* Música: MANIAS - compositores: Celso Cavalcanti e Flavio Cavalcanti.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
ELA E O UBER
Acreditando ou não em horóscopos, há dias nos quais as coisas ficam tão complicadas que acaba-se dando uma olhada nas previsões do dia.
Para Carol e Nanci, com os agradecimentos pelas muitas risadas que nos proporcionaram.