quinta-feira, 19 de maio de 2011

A MOLA

O senso de humor não era seu ponto forte. Não era dada a gostar de piadas, a assistir comédias e nem sempre aceitava brincadeiras que a envolvessem.
A despeito disso possuía uma facilidade muito grande para emitir frases de efeito nas horas mais inesperadas, o que tornava o fato em pauta muito engraçado, provocando muitas risadas.
Um desses momentos acabou desencadeando nela própria uma grande crise de riso, fato muito raro de ser observado.
Numa manhã até então tranquila estava sozinha no quintal de sua casa ocupada com afazeres domésticos quando ouviu a campainha soar indicando que alguém esperava ser atendido na entrada da residência. 
Como estava com as mãos ensaboadas lavou-as, enxugou-as e somente depois dirigiu-se até a porta da rua. A distância a ser percorrida era grande e sua idade já não permitia que se locomovesse com muita agilidade.
Enquanto fazia todo esse percurso, o som estridente da campainha começou a se repetir insistentemente deixando-a cada vez mais irada à medida que se aproximava da frente da casa.
Até que muito irritada abriu de supetão a porta da rua no exato momento em que um rapaz apertava o botão da campanhia pela enésima vez.
Foi o que bastou. 
Com as mãos na cintura e em posição autoritária de quem tira satisfações soltou a frase em alto e bom som:
- VOCÊ PENSA QUE TENHO MOLA NA BUNDA? VOCÊ APERTA AÍ E EU JÁ PULO AQUI?
O rapaz totalmente desconcertado diante das palavras daquela senhora ainda tentou se justificar dizendo que repetiu várias vezes o gesto pois não ouvia a campainha soar.
          Recebeu a resposta  alterada que não era para ele, na rua, ouvir o som, e sim para quem estivesse dentro da casa. 
         Constrangido o rapaz sem dizer mais nada entregou a encomenda e tratou de sair o mais rápido possível de cena com medo que lhe sobrasse algum sopapo já que uma séria ameaça pairava no ar.
       Ela então imaginando-se sentada sobre uma grande mola e saltitando pela casa acabou tendo uma crise de riso que se repetia toda vez que se lembrava do fato.
          Concluiu afinal que não seria má ideia ter uma mola na bunda!


Eis D. Daisy, minha mãe, pessoa ímpar em todos os sentidos a quem presto uma homenagem contando esse fato.  Espero que não fique muito irada comigo por  divulgar seus "causos" e assim matar um pouco as saudades.

Santos, 19 de maio de 2011.

7 comentários:

  1. Muito legal, Lígia, relembrar o fato antes já contado por você e aqui descrito com uma leveza e graciosidade próprias de sua personalidade. Pouco convivi com D.Daisy mas, especialmente por esta foto, vejo-a sempre no rosto da Luíza. Assim, ela estará sempre presente, viva dentre de todos vocês!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Selma. Escrever nossas histórias foi a forma que encontrei para matar as saudades!

      Excluir
  3. Linda história e homenagem. Inesquecíveis momentos, relembrados nessa crônica tão bem escrita, com tanto carinho e bom humor. Parabéns, Ligia, me emocionei, pois tb já não tenho minha mãe ao meu lado e as boas lembranças dela são o que fazem meu coração sorrir.

    ResponderExcluir
  4. Sempre que penso nela, e não são poucas vezes por dia, a vejo apenas nos momentos alegres, descontraídos e felizes. Sinto assim que ela está bem onde quer que esteja.

    ResponderExcluir
  5. com sempre suas histórias e narrativas de fatos são excepcionais e nos encantam Bjs saudades


    ResponderExcluir
  6. Muito espirituosa tua mãe. Com certeza quando falou braba com o rapaz descarregou toda raiva de ouvir o rapaz ter sido tão impaciente. kkkkkkkkkkk muito bom

    ResponderExcluir