quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O DESEJO PARA 2020

 



No primeiro almoço do ano de 2020 reunindo família e amigos,  lembro-me que decorei um dos pratos com as palavras FELIZ 2020.

Em pouco tempo entretanto, notícias vindas de longe começaram a trazer sérias preocupações ao mundo todo.  Já no início de março começamos a conviver com a pandemia causada pelo Covid 19. 

A princípio julguei, e creio que não fui a única, que seria um problema com duração de alguns poucos meses. Cheguei a costurar algumas máscaras de forma bem amadora para esperarmos o final da pandemia.

Grande engano!

Com muitas restrições, cuidados e receios, passamos por todo 2020 presenciando perdas de amigos, familiares e conhecidos. A felicidade desejada no primeiro dia do ano foi substituída pelo temor da doença.

Ainda sob o impacto de 2020 começamos 2021 mas agora sem grandes alardes, sem grandes festas, sem grandes promessas, sem grandes desejos a não ser nos livrarmos deste vírus mortal.

Assim chegamos agora às vésperas de outro novo ano.

Com certeza a situação da pandemia está bem mais controlada do que há 2 anos embora continue ainda se manifestando em diferentes variantes e exigindo a manutenção dos cuidados básicos.

A possibilidade entretanto de alguns encontros pessoais, de trocarmos abraços com pessoas amigas e queridas, de sentirmos de perto, na real como se diz, o CALOR HUMANO,  faz toda a diferença!

O isolamento necessário vivenciado recentemente nos mostrou como as artes em todos os seus aspectos, para mim destaco a música, tornam nossa vida mais feliz, mais leve, ao mesmo tempo que tal distanciamento reforçou a importância e necessidade do olho no olho, do abraço e do sorriso que brota espontaneamente assim que nos deparamos com pessoas que há muito não podíamos ver nem tocar.

Aos poucos e embora ainda com cuidados espero e desejo que em 2022 realmente possamos comemorar vitórias e sobretudo, possamos nos aproximar mais das pessoas e sentirmos de fato o calor humano em nossas vidas.

Talvez no próximo dia 1 eu repita a decoração do prato de 2020, desejando agora com muito amor, o reencontro de todos nós.

FELIZ 2022 a todos!

 

Santos, 30 de dezembro de 2021


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PROCURA-SE

           Em plena era tecnológica com tantos recursos à disposição informando distâncias, localizações, identificações, eles conseguiram perder um carro nas ruas de uma pequena e conhecida cidade mineira: Monte Sião. É bom que se esclareça que não era um carrinho de brinquedo não!

          Hospedados em Águas de Lindóia eis que o casal decidiu passar algumas horas em Monte Sião, cidade bem próxima e já em Minas Gerais.

          Lá chegando circularam com o carro contornando o jardim central mas não havia vagas. Acabaram entrando numa pequena rua nas proximidades e lá estacionaram o veículo.

          Feito isso foram tranquilos passear pelo comércio no centro da cidade.

          Após um bom almoço resolveram seguir viagem para outro município vizinho e próximo.

          Decisão tomada e eis que surge um problema. Na verdade um problemão.

          Ambos não se lembraram de anotar o nome da rua com um número próximo ao local do carro.

          Sabiam que era perto da igreja central mas não tinham ideia se era uma paralela, perpendicular ou muito menos transversal às ruas que circundam o jardim.

          Como não usaram o dr. Google Maps e nem seu companheiro Waze para lá chegarem, não havia como resgatar qualquer informação.

          Sob um sol escaldante das 13h puseram-se a percorrer todo o centro. O incrível é que para eles todas vitrines das lojas pareciam iguais e não conseguiam lembrar ao menos um ponto de referência.

          A saída seria acionar a polícia (grande mico) ou pedir a colaboração de algum motociclista para que ele rodasse pelo centro. O casal andara muito e àquelas alturas o almoço já tinha descido até seus calcanhares e diante da preocupação, já estava até quase se despedindo do corpo.

          Foi quando uma alma bondosa e extremamente solícita se prontificou a circular com seu carro por toda a região central. 

          Tudo combinado e eis que ela percebe que ele já não estava mais ao alcance de sua vista.

          Na ânsia de encontrar o pobre FOX abandonado ele continuou sua caminhada subindo e descendo as ladeiras.

          Contato telefônico não deu resultado. Sendo assim, ela acompanhada pela senhora benfeitora em seu carro, passaram a circular mas agora procurando não somente o carro, mas também seu motorista. Depois de várias tentativas e graças ao tal WhatsApp, ele e ela conseguiram combinar um ponto de encontro.

          Isto feito o FOX passou a ser o único foco da busca.

          Finalmente numa última tentativa eis que ela enxerga a placa do carro, que quietinho tranquilo esperava sob um sol de rachar mamona.

          Fico imaginando se tal fato ocorresse numa cidade de grande porte!

          O jeito seria voltar pra casa de ônibus ou então esperar a madrugada chegar e ver se depois que todos os veículos estacionados fossem retirados, em qual rua estaria um velho e solitário FOX cinza.

Águas de Lindóia, 24 de novembro de 2021

Obs: agradeço muito à nova amiga Sueli, moradora e comerciante de Monte Sião/MG

Que bom que ainda podemos contar com pessoas como você!



quinta-feira, 14 de outubro de 2021

AI DE QUEM SAIR DO QUADRADINHO

 


 

Quantas e quantas vezes nós professores já comemoramos o 15 de Outubro, seja na condição de alunos ou de homenageados!

Lembro com clareza das festinhas que fazíamos desde o antigo curso primário quando crianças ainda, levávamos alguns pratos de doces e salgados para ao final da aula, festejarmos e parabenizarmos a professora.   Era tudo tão puro, tão verdadeiro que guardo estes momentos até hoje nas lembranças!

Com o passar dos anos as comemorações ficaram mais restritas mas sempre feitas com muito respeito e admiração.

Já durante o exercício do magistério tive assim como todos os colegas da época, momentos muito especiais que renderam bilhetes, desenhos e cartas com mensagens lindas parabenizando pela data. Gratidão era a palavra.

Guardo ainda hoje estas cartas e bilhetes recebidos de alunos que hoje são pais e até avós.  Creio que muitos colegas também mantenham estes tipos de lembranças que aquecem nossas almas ao recordá-las.

Infelizmente como em toda profissão entre os professores também conheci alguns poucos que não se adaptavam ao magistério e que atuavam como meros transmissores de conteúdos, sem nada a acrescentar àquelas cabecinhas ainda em formação que estavam sob nossos cuidados.

O aluno que por ventura chegasse a uma resposta um pouco diferente daquela que fora ditada nos famosos questionários feitos em sala de aula para serem decorados e respondidos nas provas, recebiam um X em vermelho sobre a questão resultando na perda de pontos no total da nota. E ai de quem se atrevesse a responder com palavras diferentes, embora com mesmo sentido.

O raciocínio lógico, o ângulo diferente captado pelo aluno, bem como sua criatividade não eram levados em conta pelos transmissores de conteúdos, ao contrário, eram cerceadas todas e quaisquer respostas que fugissem às esperadas. Tais comportamentos desconsideravam que a pergunta poderia estar mal formulada e dar margem à diferentes interpretações.  A comunicação não havia sido clara e objetiva.

O importante não é apenas saber O QUE avaliar, mas também COMO avaliar!

Lembro bem de uma situação onde uma criança estudante de escola de zona rural, em seu terceiro ano após estudar sinônimos e antônimos, recebeu na prova o seguinte exercício:

Escreva o contrário de: bonita, calor, claro. A criança respondeu em sua simplicidade: atinob, rolac, oralc.

A princípio a resposta foi considerada errada, mas a maneira como foi feita a pergunta deu margem a esta resposta que deveria ser considerada certa seguida de uma clara explicação à criança.

É aí que se encontra toda a diferença entre o verdadeiro professor e o mero transmissor de conteúdos.

Mais um dia 15 de outubro nos alerta para o DIA do PROFESSOR.

É justamente aos profissionais movidos pelo idealismo do verdadeiro professor educador, que deixo aqui minha homenagem, meu respeito e minha gratidão.

 

                                        PARABÉNS PROFESSORES!!!!!

 

Santos, 14 de outubro de 2021.


sábado, 18 de setembro de 2021

PARABÉNS PELO SEU DIA

 

   

                                   


                     Avessa às fotos constituía-se numa missão quase impossível clicá-la sem que abaixasse o rosto ou se ocultasse por trás de objetos.  

Nestas tentativas acabei colecionando fotos sui generis como por exemplo se escondendo entre as roupas penduradas num varal ou até virando literalmente de costas.  O interessante é que ela era uma mulher muito bonita desde jovem e conservou a beleza até partir.

Como ainda não havia a facilidade de hoje o jeito era esperar a revelação chegar para apenas  constatar o que já se sabia: novamente ela havia conseguido sucesso ao se ocultar.

Assim era minha mãe, reservada, simples, sem nunca pedir nada para si e muito menos exigir. Pensava sempre no bem estar dos outros.  Devido a isso era difícil presenteá-la nas datas festivas pois ao ser consultada sempre dizia não querer  e nem precisar de nada.

Hoje logo pela manhã meus pensamentos viajaram através do tempo e do espaço pois 18 de setembro é SEU DIA.   A pergunta veio instantaneamente:  O que gostaria de ganhar?  E eu mesma respondi com sua frase típica: Não preciso de nada! Só quero sossego!

O jeito era procurar algo de seu gosto e presenteá-la assim mesmo.

Há mais de 21 anos não posso mais surpreendê-la.  Nos primeiros anos de sua partida levava flores mas atualmente só posso lhe oferecer orações.

Hoje porém é dia de festa e gosto sempre de recordar os bons momentos quando a alegria irrompia pela casa provocando gargalhadas em todos.  São justamente estas ocasiões que relembro agora quando a senhora completaria 93 anos.

Como esquecer a tal expressão "bita véio" sempre que queria distância de algo ruim ou complicado? Virou até um bordão na família e é repetido pelas gerações mais novas.

Lembro também da história da mola na bunda dando o maior susto num entregador, dou risada ao recordar o caso do Cristo sem um braço que para ela virou um guarda de trânsito, a história da dentadura fujona, da cadeira de praia que quase causou a 3ª Guerra Mundial, a correria dos netos para o banho ao ouvirem sua voz se aproximando e interrompendo o jogo que não acabava nunca (até hoje a cena das canelinhas dos dois girando tão rápidas me fazem lembrar do desenho do bip bip fugindo do coiote) e muitos outros momentos de pura descontração.

Como esquecer as tardes em que ia ajudar a fazer empadinhas na casa de tia Daiza? Toda empadinha que ficava meio feiosa elas comiam e assim quase não sobravam salgadinhos para assar.  Riam até não mais poder.

É dona Daisy, a senhora partiu cedo demais mas deixou muitas lembranças boas em todos que a conheceram e com certeza deixou também imensas saudades.

Parabéns Mã, como os filhos a chamavam, e esteja em paz.

Um dia nos encontraremos para recordar estes momentos marcantes que entraram para a história da família. Com certeza daremos novamente boas gargalhadas.

 

Santos, 18 de setembro de 2021.

Para minha mãe Daisy Arnold Cerri, desejando-lhe muitas felicidades.

Uma das únicas fotos obtidas com sucesso:


terça-feira, 7 de setembro de 2021

A DICOTOMIA DO RADICALISMO


 


Não há algo que me deixe mais irritada do que o radicalismo em todos os seus aspectos.

Jamais e em tempo algum a inflexibilidade, a intransigência, a intolerância e o sentir-se dono da verdade absoluta desconsiderando opiniões contrárias pode ser considerado um comportamento racional.

Através da inteligência (quando ela existe, claro) temos condições de analisar individualmente cada situação que se nos apresenta e com o bom senso que deve nortear nossos pensamentos, verificar até que ponto concordamos ou não com posturas e atitudes diferenciadas das nossas. 

Com certeza encontraremos prós e contras nestas análises. Isto é perfeitamente lógico e esperado. 

Entretanto o que se vem observando já há anos é o radicalismo exacerbado que literalmente cega as pessoas. Enxergam somente aquilo que lhes convém, que coincide com suas ideias, que em suma, reforça a imensa convicção de estar totalmente certo não se dando nem ao trabalho de examinar de modo imparcial, qualquer contestação.

Isto vem ocorrendo em todos as áreas culturais sejam visuais como desenho, pintura, escultura, fotografia, seja na literatura abordando poemas, crônicas, contos, romances.   ouvi observações extremistas como "nada do que se faz hoje em dia presta" como também  o inverso:  "que mau gosto tinham os nossos antepassados"!

Em se tratando de política então não é necessário nem exemplificar.

Abomino tanto radicais de esquerda como radicais de direita.  Os considero pobres de espírito em grau agudo. Chego a pensar que estão com a mente bloqueada por ideologias em suas concepções críticas que através da persuasão provocam alienação da consciência do homem.

Chega-se ao cúmulo de sermos obrigados a optar por um ou por outro lado sem qualquer outra saída, ou seja: para a direita extremista se você não concorda com ela então é taxado de esquerdista.   A mesma situação ocorre caso você discorde da esquerda extremista que fatalmente lhe rotulará de reacionária e retrógrada.

Vejam bem, estou me referindo ao radicalismo exacerbado.

Tais assuntos estão cada vez mais contaminados por inverdades que nos conduzem para um abismo e uma dicotomia da população que jamais vimos.

Quando será que o ser humano usará realmente sua inteligência e bom senso para analisar e se posicionar diante de fatos tão importantes e necessários, sem se considerar o dono da verdade absoluta?

                        Será que o ser humano ainda pode ser considerado um  ser pensante?

                        Lembrei-me agora do conto de fadas de Hans Christian Andersen: A Roupa Nova do Rei.

 

Santos, 07 de setembro de 2021.


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

ELA ... A VACA





Creio que com o passar dos anos, ou seria melhor dizer, passar das décadas, ficamos mais atentos às lembranças do passado seja ele distante ou mais recente. 

Vira e mexe e sem prévio aviso, me vejo vasculhando o baú da memória e por sorte sempre as lembranças que encontro são as que me fazem sorrir ou até rir muito mesmo que sozinha.

Lembranças tristes raramente batem à minha porta.

Há duas noites lendo um livro interessante (O Livreiro) emprestado por uma amiga, a certa altura o autor descreve a história de quando adquiriu um cofre para guardar o dinheiro arrecadado aos sábados em sua loja no final da década de 60, visto que os bancos não abriam nesse dia e claro, nem se pensava em caixa eletrônico ainda.

No mesmo instante e com muita nitidez veio em minha mente um enorme cofre de cor verde musgo que pertencia ao meu avô. Não sei se por eu ser muito pequena mas aquele cofre parecia imenso para mim.

Por uns tempos ele ficara nas dependências do escritório da família no térreo do sobrado da rua 3 com avenida 8 em Rio Claro.  Posteriormente com o fechamento do comércio da família este cofre foi para o quarto de meu avô.

Lá ele guardava papéis importantes, dinheiro e até sua flauta.

Era comum naqueles tempos chamar-se os cofres de burra (ou burras). Há até a expressão: "Enchendo as burras" , que significa estar guardando valores ou dinheiro.

Sendo assim meu avô e todos nós da família também nos referíamos ao cofre chamando-o de burra.

Certa manhã de domingo minha irmã caçula com seus 6 ou 7 anos saiu de casa, atravessou a rua e se enfiou na casa de avô Adolpho que era bem próxima. Ficou por lá pouco tempo e logo voltou. 

A mãe quis saber o motivo do retorno tão rápido e ela explicou que não havia ninguém por lá, apenas o avô em seu quarto. Na sequência completou com a frase que me fez lembrar deste caso há duas noites ao ler O Livreiro:

- Ele tava abrindo a VACA no quarto.

Gargalhada geral.

A menina fez uma "leve" troca de bichos.

Anos depois durante uma compra em supermercado, procurando leite e verificando marcas e preços e ao constatar que um tipo estava em oferta, meu irmão negou-se a levá-lo pois achou o nome do produto assaz esquisito e que não lhe passava confiança.  O leite era da marca Dona Vaca.  Talvez tenha achado o nome explícito demais. Na verdade a estranheza em minha opinião deveria ocorrer caso o nome fosse Senhor Boi.

Anos depois a vaca surgiu novamente no seio familiar.

A sobrinha caçula em fase final de alfabetização fazia um joguinho de palavras cruzadas próprio para crianças. 

Eis que a dica dizia "Vive no brejo". Havia três espaços a serem preenchidos num total de quatro pois no segundo espaço já havia a letra A.

A garota mais que depressa gritou.

- Já sei, é VACA!

Estranhou no mesmo instante o olhar espantado dos adultos demonstrando claramente que ela errara. 

Foi quando resolveu explicar o motivo de sua certeza que era vaca, pois  já ouvira muitas vezes todos dizendo a expressão:

- A vaca foi pro brejo. Então quem mora no brejo é a vaca! 

E quem vai agora contra a lógica infantil?????

 

Santos, 2 de agosto de 2021.

 

Relembrando Tutu e avô abrindo uma vaca no quarto, sr. Edo e sua cisma com o nome do leite e Luíza com sua brilhante associação entre o dito popular e as palavras cruzadas.



 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

O FOGÃO



Ao ver belas fotos clicadas por uma amiga recordei de imediato da antiga casa da rua 2 em Rio Claro, onde na cozinha havia um grande fogão a lenha no canto da parede e próximo à janela.

Era coberto com ladrilhos vermelhos com traços verdes formando desenhos, aliás, os mesmos encontrados no piso da cozinha.  Na copa era igual também apenas trocando a cor verde pela branca.

Ao lado do fogão havia sempre uma pazinha e um tipo de vassoura italiana sem o cabo, que eram usadas para ajeitar as cinzas que iam esparramando-se pela abertura onde se colocava a lenha.

Sobre o fogão havia 3 ou 4 bocas que quando não estavam em uso, eram fechadas por placas de ferro.

Crianças ainda sempre tivemos responsabilidades na casa como por exemplo, recolher  todas noites as cadeiras de vime que ficavam na área de entrada, auxiliar nas pequenas tarefas na cozinha e dentre estas, uma em especial era destinada ao meu irmão.

Esta tarefa consistia em limpar e retirar toda a cinza do fogão assim que ele terminasse de ser usado.  Isto deveria ser feito com muito capricho e cuidado também pois a quentura às vezes ainda persistia no ladrilhos.

Lembro-me bem que ele fazia tal trabalho mas não gostava nem um pouco. Mesmo assim não o liberavam desta obrigação.

Quando nossa mãe engravidou da caçula tínhamos eu e ele, 6 e 7 anos respectivamente e claro, nem desconfiávamos do que nos aguardava o futuro. Os tempos eram outros e as crianças jamais participavam de conversas com adultos.

Seguindo os costumes da época quando estava próximo ao nascimento, minha mãe achou por bem nos reunir para tentar contar o fato de que ganharíamos um  irmão ou uma irmã.

Àquelas alturas meu irmão já havia visto dias antes na casa de um amigo vizinho, um belo fogão a gás em plena atividade.  Ficara maravilhado com a praticidade.

Lembro-me de estarmos sentados na cama ouvindo minha mãe fazendo a pergunta que tanto havia ensaiado:

- Vocês querem ganhar um irmãozinho?

Enquanto eu me alegrava já pensando em uma menina para brincar, meu irmão foi mais rápido e soltou a frase:

- Não!  Eu prefiro ganhar um fogão a gás.

Silêncio geral.  Os adultos não esperavam que ele tivesse tanta urgência de se livrar do fogão a lenha.

Com certeza uma cegonha não aguentaria trazer pendurado no bico, um belo fogão.

A reação de minha mãe foi rir mas tal fato acabou virando piada na família.

Ainda na infância quando havia qualquer entrevero que envolvesse a caçula, logo ouvia-se o comentário dele isentando-se de qualquer problema ou culpa, afirmando peremptoriamente que seu pedido tinha sido fogão a gás e não irmã. Portanto os demais que resolvessem a questão.

Não me lembro exatamente quanto tempo depois deste fato realmente meu pai  comprou o bendito fogão a gás, mas creio que foi logo após o nascimento da menina.

A verdade é que por um bom tempo e ainda até hoje às vezes e em tom de brincadeira, chamamos a irmã caçula de fogão.

A cabeça de uma criança é realmente uma caixinha de surpresas!

 

Santos, 29 de julho de 2021

Para Maria Eliza Aily por me proporcionar  esta viagem ao túnel do tempo com suas fotos e para Tutu, a caçula que quase foi permutada por fogão a gás.

 

terça-feira, 6 de julho de 2021

Aconchego













"Estou de volta pro meu aconchego, trazendo na mala bastante saudade" *

Quem já não cantarolou mesmo que apenas mentalmente uma parte desta música?

Particularmente fiz e faço isso com frequência ao retornar para casa depois de uma viagem, por melhor que tenha sido.

Espaçosa ou pequena, simples ou luxuosa, a casa em que moramos tem uma energia especial com a qual nos identificamos.  Não é simplesmente uma casa ou um prédio, mas sim o lar que nos acolhe.

Morei muitos anos em um mesmo local mas com o passar do tempo e novas necessidades surgindo optei por mudanças, morando posteriormente em dois apartamentos para finalmente me instalar neste atual.

Em cada residência lembro perfeitamente dos locais em que gostava de ficar sentada apenas curtindo e observando o espaço à minha volta.  Eram momentos de deleite e extremo bem estar que me davam uma sensação plena de felicidade.

No sobrado em Rio Claro meu cantinho preferido eram os primeiros degraus da escada onde sentava e ficava observando a sala e a área de ventilação com seus vários vasos cheios de folhagens e flores.

Já no apartamento ainda na cidade, meu local preferido era uma poltrona na sala de estar cuja posição permitia ver também toda a sacada com suas folhagens e parte do azul do céu tão decantado pelos rio-clarenses.

Em Santos e já em apartamentos menores o jeito foi adequar cantinhos para chamá-los de meus.

Apesar de bem pequeno fui muito feliz nos 10 anos que morei no apartamento anterior a este. Transformei cada parte da sala em local que me dava prazer enorme de ficar apenas olhando e curtindo objetos, telas, flores e o céu que me espiava através da enorme janela.

Aqui não é diferente.

Com espaço um pouco maior montei o cantinho da saudade onde ficam objetos que contam histórias ocorridas na família há quase um século como o jarro inglês, muitas fotos e peças que marcaram minha vida. Cada uma me conta um conto.

No restante da sala de estar estão os demais móveis com pequenos objetos de decoração e algumas telas feitas com carinho e cores fortes que levantam o astral.

O prazer que sinto ao olhar para qualquer um destes cantinhos é imenso e constante. É como se me abraçassem oferecendo um aconchego de colo de mãe. Transmitem muita paz e alegria ao mesmo tempo.

Consegui até organizar um pequeno galinheiro na bancada da cozinha e a cada viagem, mais uma galinha vem para enriquecer a turminha que ficou internacional.

Na sacada estão vasos de vários tamanhos. Adoro o verde das folhagens enfeitando os espaços e mesmo agora no inverno há flores e muitos botões abrindo. É sinônimo de vida!

Quem de nós não gosta de um aconchego? É bom demais tê-lo no olhar, no tocar e principalmente no SENTIR.

É o que realmente representa a palavra lar, onde o coração bate mais forte!

 

Santos, 06 de julho de 2021.

 

Para Eunice Nedog Leme, pela sugestão do tema e pela bela atitude de partir em busca do aconchego familiar. Isso sim faz a vida valer a pena!

 

Música: De volta pro meu aconchego

Autores: Dominguinhos e Nando Cordel.






segunda-feira, 28 de junho de 2021

SEUS 80 ANOS

 




Conhecemo-nos há muitos anos e sua simpatia, dinamismo,  conversa fácil, bem como suas muitas histórias vividas, me cativaram desde sempre.

Admirava sua alegria de viver bem como sua preocupação com todos, inclusive comigo que nem da família era.

Embora não nos víssemos com frequência conversávamos por telefone praticamente todos os domingos pela manhã. 

Por volta das 10h o telefone tocava e eu já sabia que ouviria sua voz  desejando-me um bom dia e uma boa semana. Dificilmente ela falhava nas ligações. Em um domingo que isto aconteceu resolvi tomar a iniciativa e ligar para cumprimentá-la mas acabei provocando um pequeno constrangimento, pois se encontrava assistindo uma missa e se atrapalhou para desligar o celular.

Pessoa de coração amoroso e também de pulso firme que soube criar muito bem os filhos mesmo  tendo passado por momentos difíceis.

Gostava muito de ouvir suas histórias como as da época em que jovem ainda, tinha aulas com Mário Lago no Teatro Municipal de São Paulo chegando a conviver com alguns artistas que ficaram famosos posteriormente.

Quando completou 80 anos veio comemorá-los fazendo-me uma visita. Apesar de terem sido poucos dias pudemos passear bastante e visitarmos lugares dos quais dizia sentir muitas saudades como a Ilha Porchat e a cidade de São Vicente. Ficou emocionada ao pisar na areia da praia e sentir as ondinhas molharem seus pés, pois não fazia isso há anos.

Lembro-me como rimos assistindo juntamente com uma amiga  a peça "Trair e coçar é só começar", no Teatro Municipal de Santos. Ela estava feliz.

Numa véspera do Dia de São Pedro, há três anos, ela partiu.

Por um bom tempo eu ainda ficava esperando inutilmente o toque do telefone nas manhãs de domingo quando sua voz tão conhecida me desejava uma feliz semana.

Cumpriu com louvor e distinção sua passagem aqui na Terra e com certeza entrou para sempre na história de vida de quem a conheceu.

Esteja em paz dona Ida e fique com Deus, como sempre me dizia!

 

Santos, 28 de junho de 2021.

Para dona Ida Rossi.


segunda-feira, 14 de junho de 2021

A PAZ QUE O MAR ME TRAZ

 


Não tínhamos o hábito de viajar nas férias quando crianças mesmo porque meus pais possuíam uma casa comercial e nestes períodos éramos "escalados" para auxiliar no balcão o dia todo.

Particularmente para a praia creio que vim somente três vezes antes da idade adulta. 

A primeira foi quando eu e meu irmão tínhamos perto de 2 e 3 anos respectivamente.  A segunda foi aos 14 anos quando um casal vizinho convidou-me para acompanhá-los por uns dias juntamente com sua sobrinha Lucinda que era minha amiga. 

A terceira e última foi novamente com a família mas foi meio atribulada.  Nesta ocasião eu deveria ter em torno de 16 anos. Viemos de carro e meu pai perdeu-se ao passar por São Paulo. Se não me engano isso ocorreu tanto na ida como na volta da viagem.   Foram poucos dias mas ao menos respiramos o ar praiano apesar de alguns problemas como peles queimadas e ânimos exaltados.

Sem dúvida a segunda viagem foi a que mais aproveitei pois passeamos bastante por São Vicente e principalmente Santos que me cativou muito já naquela época.  Adorei o jardim, mesinhas na calçada, descontração, alegria. Fiquei encantada com o trecho formado pela Av. D. Ana Costa e suas palmeiras imperiais,  com a orla e seus hotéis na região principalmente o tradicional e ainda existente Hotel Atlântico.

O tempo passou e anos mais tarde já como professora as bonitas lembranças da cidade despertaram saudades. Acompanhada dos sobrinhos pequenos resolvi passar um período das férias escolares em Santos. Este fato se repetiu por alguns anos e sempre ficávamos em hotéis na região do Gonzaga. Foi uma época que deixou doces recordações.

Anos mais tarde perto da aposentadoria e considerando que familiares mais próximos já não moravam mais na minha cidade natal, lembrei-me da beleza e alegria de Santos, e claro, de sua grande faixa de areia e praias que possibilitam caminhadas que gosto muito de fazer.

Decidi assim mudar para esta cidade e pouco tempo depois minha irmã também fez  mesmo.

Fui muito bem recebida e me adaptei instantaneamente apesar das saudades da Cidade Azul e das pessoas que por lá deixei. Sempre que possível retorno para visitar minha Rio Claro. 

E assim já se foram quase 18 anos nos quais todos os dias agradeço a possibilidade de andar neste belo e sempre bem cuidado jardim,  fazer caminhadas na areia, observar a alegria que há na cidade o ano todo e curtir muito a paz que o mar me traz!

Gratidão sempre!

 

Santos, 14 de junho de 2021


Para Eunice Nedog Leme pela sugestão do tema.










segunda-feira, 7 de junho de 2021

A VISEIRA PINK


Não tinha por hábito frequentar com assiduidade consultórios médicos, mesmo porque não sentia necessidade alguma.

Com os passar das décadas e o desgaste natural das peças internas, viu-se obrigada a adotar tal hábito a fim de preservar a saúde e qualidade de vida.

Recentemente devido a problemas na visão procurou um  oftalmologista.  Recebeu o diagnóstico da necessidade de uma cirurgia que nos dias atuais é até relativamente simples desde que se respeitem os cuidados pós-operatórios exigidos.

Sem outra opção ela partiu para os preparativos  essenciais para tal evento.

Na data marcada a cirurgia foi efetuada com pleno sucesso. Voltou para casa com todas as orientações sobre os cuidados a serem tomados no período de recuperação.

Disciplinada que sempre foi, seguiu à risca tais orientações até que ...

Até que se deparou com uma necessidade: lavar os cabelos sem que a água e muito menos shampoo chegassem até o olho operado.

Poderia ir a um salão de beleza ou pedir ajuda a outra pessoa, mas optou por ajeitar-se sozinha.

Pensando nas estratégias a serem adotadas para preservar o olho, rapidamente lembrou-se de uma viseira pink que ganhou há tempos sem nunca usá-la já que tem uma cor chamativa demais.

Buscando ainda uma maneira de tornar mais confortável sua posição durante  o processo, colocou um banquinho de plástico dentro do  box.  Desta forma ficaria sentada e poderia inclinar a cabeça mais para trás de maneira a tornar a lavagem mais segura e obviamente usando o chuveirinho.

Esquema todo pronto e eis que ela olha para o tal banco e uma séria preocupação surge. 

Ele era de plástico e dobrável fechando-se justamente por um encaixe bem no centro do assento.  Cismou que sentar-se sobre ele poderia ser um risco caso esta parte articulada bem no centro resolvesse abrir mais ou fechar-se e isso com certeza lhe provocaria um grande desconforto.

Com tal pensamento resolveu dispensar o tal banquinho perigoso e usando apenas a viseira iniciou a tarefa necessária.

Para sua alegria deu tudo certo e o acessório preso em sua cabeça realmente impediu que a água chegasse aos seus olhos.

Satisfeita e feliz com o resultado de sua estratégia tomou tranquilamente seu banho e lavou os cabelos usando a chamativa viseira pink na qual se lia ironicamente em grandes letras a palavra Motorzão.  

Quem dera!!!

 

Santos, 07 de junho de 2021.

 

terça-feira, 4 de maio de 2021

HOJE É SEU DIA VIVIAN BRESLAUER

 




Apesar da tristeza que a saudade causa é impossível lembrar de você sem sorrir.

Nossos momentos sempre foram acompanhados de muita alegria pois você era expert em "tiradas" espontâneas que às vezes me pegavam desprevenida deixando-me  de saia justíssima.

Uma vez por semana tínhamos o que você chamava de Tarde de Madame. Saíamos para um cafezinho gostoso nas bonitas cafeterias da cidade, sempre num ambiente alegre e descontraído.

Lembro bem de uma tarde em que combinamos um encontro na frente de uma loja do shopping. Cheguei antes e enquanto lhe esperava fiquei olhando a vitrine ao lado de um casal desconhecido.

Você foi chegando e com uma expressão muito séria no rosto falou em alto e bom som:

- Muito bonito, hein! De sandálias novas e me devendo ainda muita grana.

O casal ao lado me dirigiu um olhar reprovador e acusador.

Fiquei tão aflita na hora que não sabia se lhe desmentia, se dava risada ou se lhe mandava à merda! ...rs.

Minha expressão devia estar muito cômica entre envergonhada e espantada e você não se segurou - para meu alívio e rindo muito acabou explicando a brincadeira ao casal.

Quando atravessávamos a rua na faixa de pedestre e o motorista parava o carro para nos esperar, enquanto eu dizia simplesmente obrigada, você mostrava seu melhor sorriso e abanava a mão dizendo baixinho: viado.

O motorista sempre respondia com outro aceno e mais sorrisos. Eu ria muito mas  ficava receosa de que qualquer dia eles escutassem direitinho a palavra que você pronunciava entre dentes.

Muitas histórias que escrevi foram baseadas em seus casos. A última foi sobre o dia em que me pediu para matar uma barata que na verdade era um simples buraco na parede. Como rimos naquela tarde!

Que hoje Vivian, esteja onde estiver, você continue a espalhar alegria!

Esteja em paz amiga e feliz aniversário!

Santos, 4 de maio de 2021.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

O VÍDEO E A ARANHA


 


Recentemente fui convidada a realizar uma atividade que nunca havia feito e que me envolvia diretamente.

O objetivo era falar algumas palavras a respeito de uma data comemorativa muito importante de uma unidade escolar onde estudei e trabalhei, ou seja, a escola "Marcello Schmidt" em Rio Claro/SP.

A ideia me agradou de imediato pois realmente tal escola é parte muito importante na história de minha vida pessoal e profissional.

Pensei rapidamente sobre o que falaria e iniciei a gravação. 

Óbvio que marinheira de primeira viagem já comecei enroscando e gaguejando.  Tudo bem, erros fazem parte do aprendizado.

Depois de várias tentativas para falar sem dificuldades e também em um tempo não muito longo para não ficar cansativo, eis que de repente me vejo a explanar direitinho tudo o que desejava.  Já no finalzinho quando mentalmente comemorava o êxito, aconteceu um imprevisto.

Fui atacada sorrateiramente pela Síndrome do William Bonner.

Ao encerrar minha explanação falei com toda ênfase: BOA NOITE A TODOS!

Não sei de onde veio esta bendita Síndrome mas foi o suficiente para estragar toda gravação. Sei que há meios para se editar e corrigir estes erros em vídeos mas os desconheço ainda e não quis incomodar pessoas que pudessem me ensinar.

Finalmente depois de algumas horas consegui gravar a contento e da maneira que desejava. Creio que está até razoável.  

Como o arquivo ficou um pouco grande não consegui enviar por whatsapp mas felizmente minha sobrinha veio em meu socorro e usando um editor conservou o vídeo sem cortes mas com tamanho mais reduzido possibilitando seu encaminhamento para a responsável na escola.

Faço um parênteses aqui para elogiar minha sobrinha e todos os professores que em 2020 tiveram que, como se diz, "virar nos trinta" para gravarem suas vídeoaulas  sem qualquer orientação maior e sem qualquer aparelhagem que facilitasse tal serviço. Aprenderam na raça a gravar e editar vídeos usando recursos próprios. Parabéns a todos.

Trabalho concluído e  satisfeita já encaminhei o material para a escola organizar as comemorações de aniversário.

No dia seguinte à toda esta aventura "gravadorística", quando o Sol ainda mal surgira no horizonte, um susto grande me fez dar vários tapas no ar acertando inclusive alguns tabefes no próprio rosto.

Ao olhar para a parede branca vi uma enorme aranha preta com direito a teia e tudo, vindo bem na direção de meu rosto no lado esquerdo.

O reflexo imediato foi usar as mãos para espantá-la mas ela, teimosa que era, continuava a se aproximar.  Nestas tentativas de espantar o bicho alguns tapas acertaram em cheio minha face.

Até que....

Até que percebi que fechando o olho esquerdo a aranha com sua teia simplesmente desapareciam.  Bastava abrir o olho e lá estava ela dançando e se divertindo às minhas custas.

Já havia ouvido falar de mosquinhas imaginárias que algumas pessoas enxergam por algum problema de visão, mas aranha tão grande assim e com direito a teia e tudo nunca ninguém havia comentado.

Pensando nas prováveis causas deste fato lembrei-me que havia ficado umas 2 a 3 horas usando direto o celular enquanto gravava e regravava o vídeo. Talvez a exposição excessiva à tela do aparelho tivesse ocasionado o surgimento da bendita aranha.

Após consulta ao oftalmologista soube que se trata de fato relativamente comum em pessoas que já tiveram 15 anos há muito tempo que é o meu caso, e que provavelmente não tem nada a ver com a exposição ao celular.

Para melhorar mais ainda a situação, a aranha (com a qual acabei fazendo amizade e me acostumando a ela), já não tem aparecido com muita frequência.

Entretanto algumas poucas vezes ela ainda aparece para me desejar bom dia.

 

Santos, 30 de abril de 2021

 

Obs:: 1. À Escola "Marcello Schmidt" pelos 110 anos de muito sucesso.

           2. Para Carolina com os agradecimentos pelo socorro prestado!