segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A PALPITEIRA



Interessante como certas pessoas não resistem à tentação de palpitarem em determinadas questões alheias, mesmo quando não são (diria até, que principalmente quando não são) solicitadas para isso.
Independente do desejo de ser útil ou não, a impressão que passa é a da necessidade de mostrar conhecimento e domínio sobre o assunto.  Daí, à vontade de exibi-los, é um passo!
Felizmente tenho encontrado pelo caminho que trilho já há algumas décadas, poucas pessoas com este perfil.  De um modo geral, as opiniões foram muito bem-vindas e bem intencionadas.
Um caso, entretanto, ficou registrado não somente em minha memória, mas também na memória das pessoas que o presenciaram.
Durante um curso básico para iniciantes em informática, já não tão jovens, as orientações eram dadas individualmente para cada cursista, passo a passo, de tal forma que ele próprio realizasse as tarefas no computador.
Alguns alunos tinham um pouco mais de conhecimento sobre o assunto, enquanto outros partiam da estaca zero; daí a importância do atendimento individual.
Enquanto eu explicava como formatar um texto a uma pessoa que nunca havia sentado diante de uma máquina destas, comecei a ouvir palpites da aluna ao lado, que a cada explicação minha, citava outros comandos possíveis para se conseguir o mesmo resultado na formatação.
Um olhar atravessado, simplesmente não resolveu.
Aquele comportamento foi causando uma grande irritação, já que a pessoa que estava sendo atendida, ao ouvir os comentários da colega, começou a se confundir.
Seguindo as normas da boa educação, a princípio solicitei que parasse de palpitar, pois o objetivo era ensinar bem um comando e quando a aluna se sentisse mais confiante e segura, poderia explorar e assimilar outros diferentes caminhos na formatação de um texto.
A palpiteira, entretanto, fez ouvidos moucos, sempre acrescentando alguma outra informação, a cada orientação que era dada.
Foi quando minha paciência, que é até razoável, foi para o espaço.
Pedi que se calasse e na sequência, já com a voz mais elevada, desencavei uma antiga frase muito usada por minha mãe nestas situações:
- Quer dar licença?! Cada um desce do cavalo como quiser!!!  E tenho dito!
Se ela entendeu ou não eu não sei. Talvez, esteja procurando o cavalo até hoje, mas foi o que bastou.
Com ar de assombro, finalmente a palpiteira se calou.

Santos, 9 de dezembro de 2013 


Para Alice, que desconhecia a frase e riu muito presenciando a cena.