Splasch....splasch.....splasch.....
O
inconfundível barulho de sacolinha plástica sendo manuseada sempre me faz
recordar uma reunião de trabalho.
O
típico ruído se ouvia a todo instante e estava intrigando a responsável pela
reunião que de frente para a plateia fazia suas explanações sobre
procedimentos administrativos a serem executados.
Compondo
a mesa diretiva mais três pessoas também trocavam olhares inquisidores diante
do barulho repetitivo.
Quando
outra pessoa tomava a palavra o barulhinho curioso não acontecia. Bastava a
dirigente reiniciar sua fala e pronto....splasch...splasch...splasch....
Até
que identificou-se que tal ruído vinha da primeira fileira da plateia, mais
precisamente das mãos de um diretor de escola. Em seu colo além dos papéis
utilizados na reunião, havia um saquinho plástico branco não transparente que
era constantemente mexido pelas mãos de seu portador.
A
curiosidade foi grande e uma das componentes da mesa diretiva, sem grande
alarde, levantou-se e passou a ocupar uma cadeira que até então estava vazia
justamente na primeira fila.
Ficou
atenta e com os olhos fixos no saquinho branco esperando o momento em que ele
fosse novamente tocado. Não demorou muito pois assim que a dirigente
retomou sua fala o tal splasch se fez ouvir no recinto.
Neste
instante o segredo foi desvendado pelo olhos atentos daquela que estava sentada
próxima.
O
diretor havia levado de maneira disfarçada dentro do tal saquinho, um mini
gravador que era ligado e desligado a todo instante. Foi o recurso que ele
encontrou para poder ouvir e estudar novamente as orientações no momento de
executar o trabalho.
Consciente
das dificuldades que geralmente ocorriam na elaboração das tarefas
administrativas, ele resolvera gravar as explanações para minimizar tais
problemas e reduzir as falhas.
Se
no dia a dia havia essa preocupação no tocante à escrituração
escolar, em contrapartida contornava as dificuldades de seu cargo de
forma bem satisfatória visto que a escola situava-se num
bairro periférico e naquela época com sérios problemas econômicos e
sociais. Creio mesmo que outra pessoa não teria fibra para permanecer tantos
anos à frente desta unidade escolar como ele permaneceu.
A
despeito destas adversidades procurava manter o bom humor o que de certa forma
ajudava a diminuir os ralhos de seus superiores.
Um
fato em especial sempre me faz rir ao lembrá-lo.
Na
necessidade de se passar aviso urgente para todas as escolas o recurso
disponível na época era somente o telefone. A internet
não havia ainda se popularizado nem tampouco o celular. É bom que se esclareça
que não havia também o tal identificador de ligações.
Em
uma dessas ocasiões a funcionária começou a ligar rapidamente para todas as
unidades. Ao telefonar para a escola deste diretor não reconheceu de
imediato a voz dele, ao passo que ela sim teve sua voz reconhecida por
ele. Na dúvida e achando que havia ligado para número errado, a funcionária
quis saber de onde estava se falando. Num momento de descontração e para zoar
um pouco como se diz hoje em dia, ele respondeu de pronto:
-
É da Funerária Santa Maria, sua morte nossa alegria!
Assustada
com tal resposta a funcionária desligou imediatamente o telefone. Claro que
logo a seguir nova ligação desfez a confusão e todos acabaram rindo muito da
situação.
Em
momentos assim que paramos e pensamos que se há de procurar colher sempre as
virtudes das pessoas pois é sabido que falhas todos nós as temos.
Santos, 02/11/2019