Aposentadoria se
aproximava e planos entravam em ebulição em sua cabeça.
Decidiu que era
chegado o momento de partir para novas terras já que os familiares mais
próximos moravam em São Paulo e Campinas. Vivia o tal chamado tempo da
travessia, quando sentimos necessidade de trocar os caminhos.
Mudar-se para São
Paulo descartou de imediato. Depois de morar mais de 50 anos em cidade de médio
porte, concluiu que apesar de gostar da capital para passeios não se daria bem
e teria dificuldades principalmente para dirigir por lá. Já se
imaginou saindo no Jornal Nacional em rede, como causadora de confusões no
intenso trânsito paulistano.
Agora aposentada
desejava uma vida mais calma, sem horários, sem correrias.
Foi quando surgiu a
ideia de Santos, cidade que pouco frequentou mas da qual guardava boas
lembranças.
Assim pensou, assim
procedeu.
No meio do ano saiu a
tão esperada aposentadoria mas por causa de compromissos ainda
permaneceu em sua cidade até meados de dezembro. Neste meio tempo
providenciou residência em Santos, aquisição de alguns materiais necessários e
com tudo planejado e organizado, partiu de mudança para novos ares.
Foi num 15 de
dezembro.
Nunca havia se
sentido tão bem! Tudo era novidade!
A cidade a encantou
com a beleza do jardim da praia, com a alegria, com o agito, com as famílias
inteiras passeando pelo calçadão. Era época natalina e as festividades deixavam
tudo mais ainda bonito.
Estranhou no início o
fato de caminhar por tempos sem encontrar nenhum conhecido. Estava acostumada a
sempre topar com amigos, com ex-alunos, ex-colegas de trabalho a cada vez que
saia na rua em sua cidade natal. Em Santos era apenas um rosto
desconhecido no meio do povo e isso lhe dava uma sensação muito boa.
Explorou passeios,
museus, diferentes restaurantes e claro, a praia.
Ainda não sabia se
iria acostumar na nova cidade mas tudo indicava que não voltaria para o
interior apesar de adorar sua Rio Claro.
Dito e feito.
Adaptou-se rapidamente nesta bela cidade que à época de sua mudança,
apresentava inclusive um custo de vida menor. Infelizmente na época
da descoberta do pré-sal a ganância do homem fez os valores subirem, fato que
se mantém até hoje.
Passados os primeiros
meses de euforia e descobertas começou a rondá-la a sensação de inutilidade que
se apossa dos aposentados. Estava acostumada a trabalhar mais de 8
horas/dia e inclusive levar serviço para casa. De repente a
ociosidade começou a incomodar.
Foi quando procurou
uma escola, seu ambiente de trabalho por mais de 30 anos, para colaborar de
alguma forma pois conhecia bem a realidade das escolas públicas.
Teve a sorte de ser
muito bem recebida em uma unidade próxima à sua casa e que justamente
precisava na ocasião de alguém que entendesse de
informática. Começou então a colaborar um pouco na
Coordenação Pedagógica, campo que lhe era bem familiar. Assim passaram-se 14
anos neste voluntariado.
Neste meio tempo
envolveu-se em outras atividades que passaram a ocupar as horas de seu dia,
terminando com aquela sensação horrorosa de inutilidade. Entretanto,
até há pouco tempo por incrível que pareça, ainda não se sentia confortável ao
ir caminhar na praia em plena segunda-feira.
E assim neste ano
deu-se conta que já passaram dezessete dezembros desde que veio a Santos.
A saudade de sua
querida Rio Claro é enorme. Saudade dos amigos, de familiares e de um tempo que
foi bom demais. Volta e meia vai revê-la e embora se entristeça com mudanças
que a modificaram muito, a Cidade Azul jamais sairá de seu coração.
Relembrando a
canção-prece de Cristovão Barros e Aldir Blanc: Resposta ao Tempo.
" Tempo tempo
tempo tempo
Vou te fazer um
pedido
Tempo tempo tempo
tempo".
O tempo voa mas o bom
é que somos o piloto e com as experiências vividas podemos direcioná-lo para o
que nos faz bem.
Santos, 08 de janeiro
de 2021