À
medida que caminhamos pela vida, adquirimos o hábito de olharmos com mais
frequência para trás, quer seja para recordarmos algo bom, quer seja para matarmos
alguma saudade ou então para vivenciarmos ao menos em pensamentos, momentos
marcados por belas emoções.
Isto
é até compreensível já que em certa altura de nossa existência, a estrada que
se abre à frente terá com certeza menos quilômetros a serem percorridos, do que
o trajeto que deixamos para trás.
Noto,
entretanto, que perdemos muito do precioso tempo atual justamente nesta parada,
neste pit stop, observando o que
ficou em cada curva percorrida.
Não sei se por questão cultural ou mesmo
social, quando se entra na conhecida fase dos “enta”, reduzimos erroneamente as
expectativas de vivenciarmos grandes mudanças ou grandes transformações.
Nossos olhares já não buscam um horizonte
longínquo; contentam-se com o que enxergam até na esquina mais próxima.
Fazendo uma retrospectiva, lembro-me
que ao chegar aos quarenta anos passei a recordar com muita frequência, fatos
da infância e da juventude, quando então julgava que o mundo poderia ser
conquistado com um simples abraço. Talvez inconscientemente em função disso,
passei a valorizar muito mais esta época da vida, do que o próprio momento que surgia
em meu dia a dia.
Curiosamente dez anos depois, quando
completei meio século de vida, as lembranças do que vivi aos 40 anos, mostraram
que na verdade em qualquer momento de nossas vidas, sempre haverá novos
horizontes a serem explorados e descobertos. Cada tempo tem seu sonho.
Se
por um lado recordar nos faz bem, pois não devemos e nem podemos esquecer nossas
raízes, por outro lado, este hábito precisa ser bem administrado para que não
nos impeça de olhar para frente e não nos tire o direito, a curiosidade e muito
menos a emoção da descoberta do que há depois da próxima curva na estrada da
vida.
Pelos caminhos vamos colhendo e
guardando lembranças, mas sempre em busca de novos sonhos e novas esperanças.
Santos,
24 de agosto de 2013