segunda-feira, 8 de abril de 2024
BULLYING SEMPRE EXISTIU
quarta-feira, 27 de março de 2024
AFEIÇÃO E INDIFERENÇA
A cada ano que passa, e já se vão várias décadas desta minha existência, mesmo sem planejar ou desejar, acabo fazendo comparações buscando analogias e diferenças em meu modo de pensar e me relacionar com o mundo, durante todo este tempo.
Observo alterações muitas vezes significativas.
Na infância e se estendendo até o início da fase adulta, prestes a entrar no mercado de trabalho, é inerente e esperado que todos tenhamos muitos objetivos a alcançar, sonhos a realizar, sempre buscando um crescimento pessoal e também sucesso na vida profissional.
Claro que estas realizações quando atingidas com resultados altamente positivos, trazem consigo na esteira, facilidades para aquisição de bens de um modo geral. Isto é perfeitamente compreensível.
Estamos, porém, presenciando atualmente uma verdadeira febre que costuma se chamar ostentação.
Pessoas ainda bem jovens que por um ou outro motivo conseguem se destacar dentre as demais (não entrarei no mérito deste fato), sentem uma necessidade enorme em exibir bens adquiridos, passeios caros, vida de luxo, numa ambição sem limites.
Nada contra. Cada um faz de sua vida o que lhe apraz, mas sinto uma vulnerabilidade enorme nesta tal ostentação, pois se deseja um objeto apenas para tê-lo, sem significado maior além da pura exibição.
Entretanto, voltando à análise de como enxerguei a vida nestes anos todos, observo que apesar de nunca ter sido consumista, o tempo me tornou mais seletiva ainda.
É a tal dicotomia: afeição e indiferença.
Não é qualquer fato ou coisa que me atraia ao ponto de desejá-la ardentemente.
Noto que as coisas que mais me falam à alma, mais tocam meus sentimentos, além é claro, das pessoas com as quais convivo, são objetos que carregam em si, uma parte de minha história de vida.
Assim é com uma mesa que está na família há muitos anos, uma jarra de porcelana, plantas que minha mãe cuidava com carinho, uma roupa que usei numa ocasião de plena felicidade, um local onde estive na companhia de pessoas que amo, um casa onde morei por anos e que me recorda momentos bons vividos em cada cantinho dela, assim como as pessoas que a compartilhavam.
Já me disseram, que coisas são coisas, assim como Chico César canta na música “De uns tempos para cá”. *
Claro, concordo que coisas são meramente coisas. Não é necessário ser discípula de Platão ou Sócrates para entender isso.
Reafirmo, entretanto, que aprendi através da vivência de décadas, que há coisas que são relevantes, justamente por nos trazerem lembranças boas, lembranças queridas que por si só, são excelentes companheiras.
Por estas eu tenho afeto, e me orgulho disso!
Santos, 27 de março de 2024
*Música: DE UNS TEMPOS PARA CÁ
Autor: Chico César
De uns tempos pra cá
Os móveis, a geladeira
O fogão, a enceradeira
A pia, o rodo, a pá
Coisas que eu quis comprar
Deu vontade de vender
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
O carro, a casa, o som
Tv, vídeo, livros, bom
O que em tese faz um lar
Admito eu quis comprar
Começo a me arrepender
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
De uns tempos pra cá
O pufe, a escrivaninha
Sabe a mesa da cozinha?
Lençóis, louça e o sofá
Não precisa se alterar
Pensei em me desfazer
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
Telefone, bicicleta
Minhas saídas mais secretas
'To pensando em deixar
Dê no que tiver que dar
Seu amor me basta ter
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024
NOSSAS ORIGENS
Desde pequena ouvíamos nosso avô paterno e também nosso pai, falarem sobre Lucca, uma cidade italiana na região da Toscana de onde nos fins do século XIX, nossos bisavós Angelo e Rosa vieram para o Brasil em busca de novas oportunidades.
Um cunhado de Angelo já havia feito esta mesma viagem e isso estimulou o casal a imitá-lo.
Com eles veio o primogênito Casemiro. Os demais filhos nasceram no Brasil.
Lembro-me que avô Adolpho dizia que quando ainda era bem menino a família retornou à Lucca, mas optaram mesmo por fixar residência no Brasil, especificamente em Rio Claro/SP, e para lá mudaram-se definitivamente após um tempo na cidade italiana.
Ficava evidente o desejo de Adolpho e também de meu pai, de conhecerem esta cidade italiana, mas naqueles tempos era realmente um sonho impossível devido às dificuldades na viagem, dificuldades na comunicação e financeiras obviamente.
Cresci com uma Lucca imaginária na mente.
Sempre fui muito interessada em História, e em se tratando da história de minha família então, esse interesse triplica! Com certeza isso se passa também com os demais membros da família.
Anos se passaram e com eles quase um século e meio desde a vinda do casal ao Brasil.
Nos meses finais de 2023 começamos a esboçar e programar uma possível realização deste sonho.
Graças ao empenho de minha cunhada Selma e a colaboração de todos, em especial de meu sobrinho, passo a passo fomos planejando tão almejada viagem.
No último mês do ano, precisamente em dezembro, o que me parecia inviável aconteceu.
Aproveitando nossa estada em terras lusitanas onde atualmente meu irmão e família residem, partimos com destino a Lucca, passando no caminho pela bela Milão e a indescritível Florença. Infelizmente as duas mais novas da família, Carolina e Luíza, não puderam nos acompanhar em função de compromissos profissionais.
Já na estrada a visão dos primeiros outdoors com propagandas do comércio na cidade, foram nos deixando cada vez mais ansiosos. A despeito de já termos visto reportagens e fotos dos locais, tudo nos parecia a mais pura novidade.
Era como se estivéssemos entrando verdadeiramente no túnel do tempo.
Com auxílio da tecnologia e acesso a determinadas informações, conseguimos chegar à Igreja San Cassiano a Vico.
Primeira parada e primeira emoção.
Foi justamente nesta igreja que em 6 de outubro de 1892, Angelo Cerri desposou Rosa Marcucci.
O ponto de partida de nossas origens estava ali, diante de nossos olhos.
Uma igreja antiga como já esperávamos, simples e pequena, mas que causou em mim e com certeza aos demais da família, uma emoção imensa.
Diante do altar singelo e ao mesmo tempo grandioso para nós, a fantasia criou asas e não foi difícil imaginar o casal ali, iniciando nossa família.
Como gostaria que meu avô e meu pai estivessem conosco ali, naquele momento.
Seria mais sublime ainda!
De posse de informações em documentos antigos, conseguimos também passar pelas ruas onde ambos moravam quando solteiros. Tudo era novidade, tudo era aperto no coração.
Permanecemos em Lucca por 3 dias e assim pudemos caminhar por locais onde nossos antepassados com certeza passaram, talvez já ansiosos e munidos de coragem planejando a travessia do Atlântico em busca de novas vidas.
Uma cidade medieval que conserva suas tradições e ao mesmo tempo caminha rumo ao futuro. Um lugar extremamente prazeroso onde cada cantinho nos conta uma história interessante.
Impossível não sentir que nossos bisavós nos acompanharam durante todo este passeio.
A visita a Lucca e a entrada na igreja San Cassiano a Vico, representam fatos dos mais marcantes em toda esta minha existência de mais de 7 décadas.
Retornamos às origens e vivenciamos nosso passado.
Sensação inesquecível!
Santos, 05 de fevereiro de 2024.
Obs: Meus agradecimentos a todos da família e em especial à Selma e ao Luís Fernando.