domingo, 8 de junho de 2014

DA IRONIA AO SARCASMO



Admiro pessoas com facilidade para darem respostas rápidas, inteligentes e muitas vezes irônicas.
Já circula há tempos na internet uma série de perguntas um tanto óbvias, para não dizer idiotas, que são seguidas de respostas divertidas e até sarcásticas, seguindo o critério da chamada tolerância zero.
Exemplos dessa intolerância há em quantidade em nosso cotidiano.
 Quem já não ouviu ou mesmo até fez as perguntas abaixo?
Numa fila:
- Aqui é o fim da fila?
- Não, não, é o começo, só que estamos todos de costas.
Após uma queda:
-Caiu?
-Não, gosto de cheirar cimento.
Deitado:
-Você está dormindo?
-Não. To treinando para morrer.
Num filme de terror, quando a pessoa grita:
-Tem alguém aí?  Como se o assassino fosse responder:
-To aqui na cozinha; quer pão com ovo?
Conheço várias pessoas que usam de fina ironia em suas respostas inteligentes.  Algumas até extrapolam e chegam ao sarcasmo.
Minha mãe tinha esta peculiaridade e com seu pouco senso de humor, ficava muito irritada diante de situações absurdas, de pura burrice como se diz popularmente. Soltava nestas ocasiões suas frases que de tão irônicas, tão cáusticas, acabavam provocando risos.
Quando ela se deparava com atitudes sabidamente erradas, soltava o velho bordão:
- Não brota?????  Não brota????   Ou seja: não pensa, não raciocina, não tem cérebro?
Nos dias de inverno era comum ouvir dela uma resposta carregada de crítica, mas que eu gostava de provocar. 
Ao chegar em casa ao final de um dia de trabalho, a encontrava vestindo roupas próprias para o verão, enquanto eu toda agasalhada, ainda sentia frio.  Ela sabia que eu ficava muito tempo trabalhando sentada diante de um computador, enquanto ela em casa “ralava” nos serviços domésticos o dia todo.  Diante de minha pergunta sobre sua ausência de frio, ela sarcasticamente me respondia:
- Quem trabalha de verdade não sente frio!
A famosa Tela Quente exibida pela Rede Globo transformava-se em Cama Quente toda vez que o neto lhe pedia para ficar até mais tarde vendo o filme na TV. A tal Cama Quente é lembrada até hoje por ele.
Creio que ela foi criadora da expressão Bita Véio, usada sempre diante de alguma situação ameaçadora.  Este hábito ficou registrado na família e continua a ser usado pela mais nova geração.
Trabalhei alguns anos com uma professora expert nestas frases divertidas. Nunca esqueço o nome da escola em que ela trabalhou na cidade de Piracicaba.  Era a EE. Vista Alegre
O motivo desta minha memória a despeito das décadas que já se passaram se deve ao fato de que, quando ela se referiu a esta escola pela primeira vez, disse-me que trabalhava na escola do Zóio Contente.  Uma brincadeira simples, mas que dita por ela, provocou muita risada.
Mais recentemente a irritação com as expressões usadas a todo instante no facebook desencadeou uma resposta sui generis durante um jantar.  A conversa girava em torno de que hoje quase ninguém mais gosta, mas sim, curte; ninguém mais coloca, mas sim, posta, e aí por diante. 
Enquanto mãe e filha conversavam durante o jantar sobre o que amigas haviam postado em suas páginas, o pai que é um tanto avesso às tais redes sociais, levantou-se abruptamente e saiu da mesa.
Ambas assustadas com a atitude aparentemente irritada dele, o questionaram sobre o motivo.
A resposta veio rápida e sarcástica:
- Também quero postar alguma coisa. Vou ao banheiro POSTAR uma merda!
PANO RÁPIDO!


Santos, 07 de junho de 2014 

domingo, 1 de junho de 2014

"QUEM SABE, SABE"


Convivemos no dia-a-dia com diferentes situações que desafiam e testam nossas reações, diante de fatos positivos ou negativos. Geralmente não nos damos conta disso e agimos como se tivéssemos ligado o piloto automático.
Muitos rostos passam diante de nossos olhos diariamente. 
Alguns despertam sorrisos, outros poucos despertam nossa rejeição e a maior parte nos é totalmente indiferente.
Dentre a gama de sentimentos que o ser humano carrega, um em especial causa bem estar, sensação de aconchego e nos motiva a seguirmos  sempre em frente.
É o sentimento do bem-querer.
Bem-querer especial à família ou bem-querer a amigos.
Às vezes até mesmo pessoas com as quais pouco contato temos, desencadeiam uma verdadeira troca de energia altamente positiva.  Costuma-se dizer nesses casos, que a química combina e aí surge espontaneamente este bem-querer.
Tal sentimento nos faz tão bem que diante de momentos de desânimo e tristeza, a simples lembrança dessas pessoas, alivia a alma, nos dá coragem e até pode provocar um sorriso mesmo que se desenhe num rosto molhado por lágrimas.
Interessante é que mesmo quando a reciprocidade não ocorre no mesmo nível, esse bem-querer se basta por si só e desconhece o fator tempo.
Já cantava Joel de Almeida lá pela década de 1950, a marchinha carnavalesca:
-“Quem sabe sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém”.*
Mais atualmente, Marisa Monte soube extravasar muito bem tudo isso e, de maneira simples, poética, mas carregadinha de bem-querer, escreveu seus versos:

-“Deixa eu dizer que te amo,
deixa eu pensar em você.
Isso me acalma, me acolhe a alma.
Isso me ajuda a viver”. **

Necessitamos com certeza, desse sentimento que nos aquece a alma e nos motiva na caminhada.
“Quem sabe sabe”...sabe que é muito bom querer bem um bem-querer!






Santos, 01 de junho de 2014 

*    ”Quem sabe sabe”- Marchinha de carnaval: Autores: Jota Sandoval e Carvalhinho
** "Amor I love you! - Marisa Monte