A infância é um período de nossas
vidas no qual brincar, estudar e ser feliz, são ou ao menos deveriam ser, as
únicas responsabilidades.
Na criança, o lado emocional
suplanta o racional e sua personalidade ainda em formação, pode ser afetada por
atitudes que não compreende, principalmente quando tais atitudes são
constantes. Como consequência, os
receios infantis assim desencadeados, podem se manifestar mesmo na vida adulta.
Acostumado com repreensões por
parte do pai, algumas merecidas e muitas imerecidas, o garoto vivia sempre na expectativa de ouvir a qualquer momento, uma solene descompostura. Por mais que buscasse corresponder às
exigências paternas, geralmente alguma coisa não saia a contento e era o que
bastava.
Já na adolescência, o simples fato
dele usar uma camisa (camisetas ainda não eram tão comuns) para fora da calça,
gerou uma solene bronca que até a mim, mera espectadora, causou grande espanto.
Anos se passaram e o garoto, agora
pai de família, demonstrou que o receio de um ralho paterno ainda se mantém, embora
agora se manifeste mais no campo da pilhéria.
Vários anos após o falecimento do
pai, uma pequena troca de nomes o colocou de imediato em sobressalto.
O telefone tocou e sua filha, na
época com 5 anos, correu para atender ao chamado. Do outro lado da linha, uma voz masculina
pediu por seu pai e se identificou como filho de ITALA.
A menina que já havia ouvido muito
as histórias de um ITALO, avô que ela não chegou a conhecer, se confundiu ao
dar o recado e estendendo o aparelho para o pai, avisou:
- É o ItalO que quer falar com
você!
A expressão de espanto foi geral.
Todos os olhares se dirigiram para
o pai da garota, que com expressão assustada, evitava pegar no aparelho.
Passados alguns segundos de
silêncio total, eis que se ouve sua resposta, num misto de brincadeira e receio:
- É a cobrar? É interurbano?? É do além??????? To fora! Não vou atender não! Já me deu bronca demais em vida!
Dessa vez a repreensão não veio;
fora um simples engano na troca de vogais.
Sorte dele não haver telefone no
além.
Santos, 25 de maio de 2013