sexta-feira, 25 de março de 2016

UM CHINELINHO SUSPEITO






Cada momento tem sua importância na vida de todos nós.
Seja no âmbito profissional ou pessoal, o que foi vivenciado ou apenas presenciado,  ficará armazenado para sempre em nossa memória e vez ou outra, sua lembrança será resgatada.
Uma frase solta ouvida numa conversa alheia, uma música tocada ao longe, uma data, qualquer coisa pode apertar o gatilho das lembranças e nos conduzir de imediato àquele momento já vivido há tanto tempo.
Ontem por exemplo, o dia em especial, uma 5ª feira Santa, levou meus pensamentos diretamente para um fato protagonizado por uma amiga há muitos anos.
Dentre as cerimônias religiosas tradicionais neste dia santo, há a chamada Cerimônia do Lava-Pés, na qual o celebrante repetindo um gesto de humildade de Cristo antes da ceia, lava os pés de 12 pessoas representando os 12 Apóstolos.
Ela fora convidada a ser uma das pessoas cujos pés seriam simbolicamente lavados pelo padre da paróquia.
Preparou-se para o evento sem maiores dificuldades e postou-se ao lado dos outros 11 convidados.
Finda a cerimônia da lavagem, como de costume, foi entregue a cada participante, devidamente embrulhado, um pão benzido representando o alimento servido na Santa Ceia.
Distraída e feliz já com o pé refrescado, ela recebeu o presente: um pacote alongado e macio. Ainda sem abrir o embrulho, deduziu apressadamente que deveria ser um par de chinelinhos para vestir já que tivera seu pé direito recém lavado. 
Preferiu continuar com suas sandálias e sem maiores preocupações, acomodou o pacote macio sob a axila, também conhecida mais popularmente como sovaco.
Caminhou assim por alguns momentos apertando bem o tal embrulho para que não escorregasse. Afinal, não queria perder os "chinelinhos" novos.
Somente ao chegar próxima a algumas amigas é que seu gesto tão casual foi questionado.
Não entendia o motivo de lhe chamarem a atenção pelo fato de ter carregado o pretenso  chinelinho na axila.
Finalmente alguém lhe esclareceu que não se tratava de um simples calçado, mas sim, de um pão abençoado que fora benzido especialmente para aquela cerimônia.
Foi quando retirou rapidamente o pacotinho já bem amassado, do sovaco onde o abrigara.
Constatou satisfeita que o pão sobrevivera.
É bem verdade que estava todo tortinho e amassado, mas sobrevivera sem nenhum outro aroma comprometedor.
O pão continuava abençoado.
Uma  Feliz Páscoa a todos!


Santos, 25 de março de 2016  - Sexta-feira Santa.


Para Cleide, que ficou sem seu chinelinho...rsss.