segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O TEMPO É AGORA




Estive relendo há alguns dias um texto muito conhecido de Rubem Alves, que tem por título: O Tempo e as Jabuticabas. 
Como sempre o autor passa sua mensagem de maneira clara, objetiva, mas sem perder o lirismo.
Identifiquei-me com o texto.
 Fui lendo e concordando. Parecia que eu mesma estava falando.
Com mais de seis décadas percorridas, considero-me vivendo justamente neste citado tempo das jabuticabas.
Incrível como a experiência nos muda ao longo dos anos!
De um modo geral sempre consegui manter a calma (às vezes apenas aparente) e controlar as emoções quando certas atitudes de outrem contrariavam minhas certezas absolutas.
Olho para trás  e recordo sim que poucas vezes e em determinadas circunstâncias, diante de situações que não coadunavam com o desejado, com o esperado, houve momentos de tensões, de raiva e de respostas ácidas.  
A intransigência muitas vezes conflitava com a flexibilidade. Neste embate, a falta de experiência acabava por reforçar aquela máxima que diz:  ser mais realista que o rei.
Em determinadas condições havia a possibilidade do chamado jogo de cintura, mas em outras isso não era possível.
No campo profissional tenho plena consciência que andei contrariando interesses pessoais, bem como alguns objetivos egocêntricos, por cumprir à risca o que ditava a legislação. Nestes casos realmente a tal flexibilidade não poderia ter lugar, fossem amigos ou até mesmo familiares como ocorreu.
Entretanto, assim como o tempo nos ensina que não existem certezas absolutas, também nos mostra como atitudes menores, comportamentos desprezíveis e invejosos e claras demonstrações de pobreza de espírito, acarretam grande perda do precioso tempo que nos resta.
É justamente isso que Rubem Alves explora em seu texto sobre as jabuticabas. Eu que nem gosto de jabuticabas, concordo plenamente com ele.
Não tenho mais realmente paciência e tempo a perder com pessoas ególatras que mascaram suas inseguranças, que se preocupam com as aparências mas são totalmente desprovidas de conteúdos verdadeiros e que desfilam mesquinhez  por onde passam.
No ambiente virtual isso ainda é mais corriqueiro e evidente e é justamente onde minha paciência se esgota num piscar de olhos.
Paralelamente à participações construtivas e prazerosas de amigos, circulam nas redes sociais postagens tão medíocres que acabam desestimulando o acesso a tais redes. 
Óbvio que temos o livre arbítrio de lermos só o que nos interessa, mas ultimamente tem se tornado um trabalho cansativo fazer tal triagem tamanha a quantidade de participações que vão de insensatas, passando por absurdas, chegando algumas a esbarrar na hipocrisia.
As jabuticabas da bacia estão acabando, mas ainda há tempo para crescermos e valorizarmos  nossos momentos.
"Quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços...
não se encanta com triunfos...
não se considera eleita antes da hora...
não foge de sua mortalidade"
É tempo de curtir valores reais, autênticos, essenciais, sem mediocridades.
 "Porque, se não o sabem, disto é feita a vida, só de momentos. Não percam o agora"  - Jorge Luis Borges.

Santos, 26 de janeiro de 2015
Cidade de Santos/SP completa hoje 469 anos! Parabéns!


O TEMPO E AS JABUTICABAS
                       Rubem Alves
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho mais passado do que futuro…
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas…
As primeiras, ele chupou displicente… mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço…
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades…
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis…
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que,
apesar da idade cronológica, são imaturas…
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral…
As pessoas não debatem conteúdos… apenas os rótulos…
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos…
quero a essência… minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços…
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade…

O essencial faz a vida valer a pena…
e para mim basta o essencial…

domingo, 4 de janeiro de 2015

LAMENTÁVEL













                                     Indignada!
Assim me senti ao assistir as reportagens apresentadas na TV pelo Jornal Tribuna, segunda edição, nos dias 2 e 3 de janeiro deste ano recém-iniciado.
Ambas reportagens noticiaram o problema crônico e cada vez mais acentuado, referente à falta de vagas para estacionamento na cidade de Santos. Vide links ao final do texto.
Este fato já é vivenciado todos o dias pelos moradores e se estende da orla ao centro, independente da época do ano.
Óbvio que nos feriados prolongados e na alta temporada, este problema se agrava muito.
Entendo perfeitamente que a cidade que não consegue atender  bem seus moradores, tende a entrar em colapso ao receber grande quantidade de turistas.
Mas aí fica a pergunta: O que a municipalidade tem feito para resolver, ou ao menos minimizar este problema nesta mais de uma década que acompanho de perto?
As reportagens mostraram carros estacionados em vagas de idosos, pontos de ônibus e outros locais proibidos, chamando tais motoristas de abusados. 
Sou absolutamente contrária ao desrespeito às leis e portanto também discordo de carros estacionados em locais proibidos.  Entretanto, está evidente e absurdamente claro que a despeito de haver mesmo sempre aqueles que não se importam com as normas e leis, a imensa maioria dos turistas que aqui veio para comemorar a passagem de ano, rodou horas até conseguir uma vaga em local legal. Soube de casos que chegaram a mais de cinco horas circulando em busca de lugar para estacionar.
Considerando o cansaço da viagem, o calor extremo que fez neste dias e a irritação provocada pela falta de estrutura na cidade, muitos motoristas acabaram optando por estacionarem em locais proibidos por absoluta falta de opção nas vias públicas.
O problema concentrou-se mais ainda nas ruas próximas à orla já que os turistas vêm para a cidade buscando principalmente curtir a praia e portanto se hospedam em suas proximidades.
A reportagem também citou os casos de motoristas que qualificou de sensatos por procurarem os estacionamentos particulares.  Concordo plenamente que numa situação de demanda excessiva, procure-se tais estacionamentos que existem justamente para isso, além da segurança que oferecem.
Aconteceu porém, que o bom senso que a reportagem citou, faltou à própria reportagem e aos proprietários de tais estacionamentos, já que aproveitando-se da demanda, colocaram os preços nas alturas havendo inclusive cobranças de 100,00 por pernoite, ou como vim a saber posteriormente, até 100,00 por período. 
Da maneira como foi colocada esta questão do valor na reportagem do dia 2/1 por exemplo, a ideia que me passou é que a imprensa concordou com este abuso declarado e descarado, para não citar outra expressão pior. Em outras palavras seria como se dissesse: concorde com isso ou vá embora.
Confesso que cheguei a sentir vergonha alheia ao me colocar na posição de visitante da cidade enquanto assistia às duas reportagens.
A interpretação que fiz das falas das repórteres foi justamente que turistas vieram para atrapalhar a cidade e para tumultuar o trânsito.
Pareceu-me um tanto egocêntrico o texto das reportagens.
Como moradora sou consciente que nestes períodos de férias e de temporadas, realmente a vida do santista fica mais difícil por conta inclusive de filas em supermercados, bancos, etc.
Entretanto não podemos nos esquecer que moramos numa cidade onde o turismo é um importante gerador de receita e renda.
Cabe portanto à cidade oferecer condições viáveis no tocante à recepção aos visitantes.
Nesta mais de uma década que aqui resido, passamos por três administrações municipais e só tenho  testemunhado este problema de estacionamento agravar-se ano após ano.
Cita-se o VLT como fator que irá reduzir o número de carros circulando na cidade. Não creio que ele terá grande influência na solução deste problema enfrentado pelos turistas que para cá se dirigem com seus veículos.
Claro que a cidade cresceu, que a população aumentou e que o número de carros circulantes também, mas parece que a despeito disto tudo, a mobilidade urbana santista está estacionada no tempo e no espaço, ou melhor, na falta de espaço.

Santos, 4 de janeiro de 2015

Links para as reportagens:
Dia 02/01/2015
Dia 03/01/2015