Estive relendo há alguns dias um
texto muito conhecido de Rubem Alves, que tem por título: O Tempo e as
Jabuticabas.
Como sempre o autor passa sua mensagem
de maneira clara, objetiva, mas sem perder o lirismo.
Identifiquei-me com o texto.
Fui lendo e concordando. Parecia que eu mesma
estava falando.
Com mais de seis décadas percorridas,
considero-me vivendo justamente neste citado tempo das jabuticabas.
Incrível como a experiência nos
muda ao longo dos anos!
De um modo geral sempre consegui
manter a calma (às vezes apenas aparente) e controlar as emoções quando certas
atitudes de outrem contrariavam minhas certezas absolutas.
Olho para trás e recordo sim que poucas vezes e em determinadas
circunstâncias, diante de situações que não coadunavam com o desejado, com o
esperado, houve momentos de tensões, de raiva e de respostas ácidas.
A intransigência muitas vezes
conflitava com a flexibilidade. Neste embate, a falta de experiência acabava
por reforçar aquela máxima que diz: ser
mais realista que o rei.
Em determinadas condições havia a
possibilidade do chamado jogo de cintura, mas em outras isso não era possível.
No campo profissional tenho plena
consciência que andei contrariando interesses pessoais, bem como alguns
objetivos egocêntricos, por cumprir à risca o que ditava a legislação. Nestes
casos realmente a tal flexibilidade não poderia ter lugar, fossem amigos ou até
mesmo familiares como ocorreu.
Entretanto, assim como o tempo nos
ensina que não existem certezas absolutas, também nos mostra como atitudes
menores, comportamentos desprezíveis e invejosos e claras demonstrações de pobreza
de espírito, acarretam grande perda do precioso tempo que nos resta.
É justamente isso que Rubem Alves
explora em seu texto sobre as jabuticabas. Eu que nem gosto de jabuticabas,
concordo plenamente com ele.
Não tenho mais realmente paciência e
tempo a perder com pessoas ególatras que mascaram suas inseguranças, que se
preocupam com as aparências mas são totalmente desprovidas de conteúdos
verdadeiros e que desfilam mesquinhez por onde passam.
No ambiente virtual isso ainda é
mais corriqueiro e evidente e é justamente onde minha paciência se esgota num
piscar de olhos.
Paralelamente à participações construtivas
e prazerosas de amigos, circulam nas redes sociais postagens tão medíocres que
acabam desestimulando o acesso a tais redes.
Óbvio que temos o livre arbítrio de
lermos só o que nos interessa, mas ultimamente tem se tornado um trabalho
cansativo fazer tal triagem tamanha a quantidade de participações que vão de
insensatas, passando por absurdas, chegando algumas a esbarrar na hipocrisia.
As jabuticabas da bacia estão
acabando, mas ainda há tempo para crescermos e valorizarmos nossos momentos.
"Quero viver ao lado de gente
humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços...
não se encanta com triunfos...
não se considera eleita antes da
hora...
não foge de sua mortalidade"
É tempo de curtir valores reais, autênticos,
essenciais, sem mediocridades.
"Porque, se não o sabem, disto é feita a
vida, só de momentos. Não percam o agora"
- Jorge Luis Borges.
Santos, 26 de janeiro de 2015
Cidade de Santos/SP completa hoje 469 anos! Parabéns!
O TEMPO E AS JABUTICABAS
Rubem Alves
Contei meus
anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já
vivi até agora.
Tenho mais
passado do que futuro…
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas…
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas…
As
primeiras, ele chupou displicente… mas percebendo que faltam poucas, rói o
caroço…
Já não tenho
tempo para lidar com mediocridades…
Não quero
estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me
com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho
tempo para conversas intermináveis…
Já não tenho
tempo para administrar melindres de pessoas que,
apesar da idade cronológica, são imaturas…
apesar da idade cronológica, são imaturas…
Detesto
fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário
geral do coral…
As pessoas
não debatem conteúdos… apenas os rótulos…
Meu tempo
tornou-se escasso para debater rótulos…
quero a essência… minha alma tem pressa…
quero a essência… minha alma tem pressa…
Sem muitas
jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que
sabe rir de seus tropeços…
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..
Caminhar
perto de coisas e pessoas de verdade…
O essencial
faz a vida valer a pena…
e para mim basta o essencial…
e para mim basta o essencial…