Conhecemo-nos há aproximadamente 5 anos.
Cheguei novata entre as alunas, já antigas
frequentadoras das aulas.
De imediato me foi dito que talvez não houvesse
vaga naquela turma, mas sim em outro dia
e horário.
Lembro-me bem como foi a reação de algumas
alunas e a dela em especial, intervindo na questão e dizendo ao professor que me
permitisse frequentar as aulas naquele grupo.
Assim foi feito e comecei a participar
daquela turma.
Já no primeiro dia ainda um tanto quieta e
tímida, tive a primeira demonstração de seu temperamento autêntico e forte. Irritada por conta de uma dificuldade maior
em acertar os tons ao pintar a óleo
determinado espaço em sua tela, proferiu algumas palavras que num primeiro
momento me pareceram um tanto grosseiras demais. Alguns termos debochados foram
citados em alto e bom som.
Antes que me refizesse do susto ouvi sua voz relembrando
minha presença na turma, que em sendo novata, poderia me ofender ouvindo
determinadas expressões.
Percebendo e compreendendo que aquela
situação era mais que rotineira, sorri, a acalmei e esclareci que todos os
vocábulos e expressões que ouvira já eram de meu conhecimento e que infelizmente
não havia aprendido nada novo.
Foi então a vez dela rir alto ao perceber que
eu havia entendido que tais explosões eram costumeiras e serviam apenas como
desabafos momentâneos.
Assim era Thelma, explosiva e impetuosa. Escondia
por trás de seu comportamento impulsivo, um coração enorme e disposto a ajudar quem
dela se aproximasse.
Sua maneira autêntica de ser, apesar de a
princípio causar certo receio, fez com que a admirasse mais. Dizia o que realmente estava pensando, sem
bajular, sem eufemismos. Falava com o objetivo de aprimorar ou acrescentar algo
que julgasse necessário, sem a menor preocupação em "dourar a pílula".
Neste curto espaço de tempo em que
convivemos, pude observar embora de forma lenta, o declínio de sua saúde. Apesar de estar ciente de certas restrições
necessárias ao seu bem-estar, ela nunca preocupou-se muito consigo mesma e descumpria
com frequência tais restrições, não ouvindo os conselhos de ninguém.
Nesta semana, após um último ano muito
difícil e com os problemas de saúde agravados, Thelma partiu.
Sua presença física não mais será vista mas
com certeza seu jeito tão peculiar de ser, tão despojado de não me toques, bem
como seu enorme coração, jamais serão esquecidos.
Vá em paz Thelma!
Continue pintando suas obras nesta tela azul
e enorme do céu, que daqui debaixo estaremos admirando. Siga seu caminho com a certeza que
viverá para sempre na memória daqueles que a conheceram.
Santos, 11 de fevereiro de 2019.