segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

THELMA





Conhecemo-nos há aproximadamente 5 anos.
Cheguei novata entre as alunas, já antigas frequentadoras das aulas.
De imediato me foi dito que talvez não houvesse  vaga naquela turma, mas sim em outro dia e horário.
Lembro-me bem como foi a reação de algumas alunas e a dela em especial, intervindo na questão e dizendo ao professor que me permitisse frequentar as aulas naquele grupo.
Assim foi feito e comecei a participar daquela turma.
Já no primeiro dia ainda um tanto quieta e tímida, tive a primeira demonstração de seu temperamento  autêntico e forte.  Irritada por conta de uma dificuldade maior em acertar os tons ao  pintar a óleo determinado espaço em sua tela, proferiu algumas palavras que num primeiro momento me pareceram um tanto grosseiras demais. Alguns termos debochados foram citados em alto e bom som.
Antes que me refizesse do susto ouvi sua voz relembrando minha presença na turma, que em sendo novata, poderia me ofender ouvindo determinadas expressões.
Percebendo e compreendendo que aquela situação era mais que rotineira, sorri, a acalmei e esclareci que todos os vocábulos e expressões que ouvira já eram de meu conhecimento e que infelizmente não havia aprendido nada novo.
Foi então a vez dela rir alto ao perceber que eu havia entendido que tais explosões eram costumeiras e serviam apenas como desabafos momentâneos.
Assim era Thelma, explosiva e impetuosa. Escondia por trás de seu comportamento impulsivo, um coração enorme e disposto a ajudar quem dela se aproximasse.
Sua maneira autêntica de ser, apesar de a princípio causar certo receio, fez com que a admirasse mais.  Dizia o que realmente estava pensando, sem bajular, sem eufemismos. Falava com o objetivo de aprimorar ou acrescentar algo que julgasse necessário, sem a menor preocupação em  "dourar a pílula". 
Neste curto espaço de tempo em que convivemos, pude observar embora de forma lenta, o declínio de sua saúde.   Apesar de estar ciente de certas restrições necessárias ao seu bem-estar, ela nunca preocupou-se muito consigo mesma e descumpria com frequência tais restrições, não ouvindo os conselhos de ninguém. 
Nesta semana, após um último ano muito difícil e com os problemas de saúde agravados, Thelma partiu.
Sua presença física não mais será vista mas com certeza seu jeito tão peculiar de ser, tão despojado de não me toques, bem como seu enorme coração, jamais serão esquecidos.
Vá em paz Thelma!
Continue pintando suas obras nesta tela azul e enorme do céu, que daqui debaixo  estaremos  admirando. Siga seu caminho com a certeza que viverá para sempre na memória daqueles que a conheceram.

Santos, 11 de fevereiro de 2019.

Para Thelma Dib.