sábado, 19 de novembro de 2022

NÃO COMI E NÃO GOSTEI




Os hábitos alimentares têm sofrido significativas mudanças ao longo do tempo.

Graças às pesquisas, aos estudos detalhados, à tecnologia, constatou-se os malefícios causados pela ingestão de determinados comestíveis como alimentos gordurosos, açúcares, sódio em excesso, etc.

Outro fator que interfere diretamente em tais hábitos é sem dúvida nenhuma o paladar de cada um de nós.

A despeito de saber da importância de certos comestíveis para nossa saúde, mantenho dentro das possibilidades, costumes alimentares bem simples. Meu paladar não é nada sofisticado e nem me preocupo com isso.

Particularmente confesso sem nenhuma crise existencial que pertenço ao grupo dos: Não comi e não gostei.

Se o visual do prato não me agrada, opto por nem experimentar.

Ainda na infância minha mãe tentou em vão me fazer gostar de certas comidas e até forçou a ingestão delas.  Ainda bem que neste ponto sempre tive apoio do meu pai que também não era dado a comidas muito diferentes.

Citando minha mãe me vem à mente o caso dos quiabos.

Aproveitando a ausência de meu pai ela tentou nos forçar (a mim e a meu irmão) a comermos quiabos cozidos.

Colocou uma boa quantidade em nossos pratos e voltou para a cozinha dizendo ameaçadoramente que quando voltasse queria ver os tais pratos vazios.

Entre a copa onde estávamos e a cozinha havia uma grossa cortina que a impedia de nos ver.  

A mesa ficava encostada na parede onde se abria uma grande janela que dava para o corredor lateral da casa.

Nem precisamos combinar nada, só uma troca de olhares e decidimos como nos livrar do problema. Em instantes subimos nas cadeiras e jogamos todos os quiabos pela janela.

Ato contínuo minha mãe retornou à copa e ficou contente em ver os pratos vazios, nos liberando para sairmos.

Era só o que queríamos fazer, ou melhor, precisávamos urgentemente fazer, pois todos os quiabos jaziam no chão do corredor. Corremos para lá pela porta de acesso da sala e assim evitarmos a cozinha.

Separando nosso corredor do prédio vizinho havia um muro não muito alto e lá funcionava uma gráfica. Como ela estivesse fechada naquele dia nem pensamos duas vezes: fizemos a festa dos quiabos voadores que passaram todos por cima do muro.

Jamais minha mãe veio a saber disso.

Não sei meu irmão, mas eu não como quiabos até hoje. Sei que os costumes alimentares dele não divergem muito dos meus.

Mais recentemente numa viagem ao nordeste com amigas, enquanto elas se deliciavam com caldeiradas, frutos do mar, peixes, casquinhas de siris, etc., eu me alimentava de frangos.  Ao final da viagem fiquei seriamente preocupada que começassem a nascer penas em mim de tanto frango que comi.

Não me esqueço de um almoço super elegante onde para o grande espanto dos amigos que comigo estavam, rejeitei o oferecimento de um garçom.  Era caviar. Eu não estava a fim de comer ovas de peixe.

Resultado: fui intimada pelos amigos e pegar tudo que fosse oferecido e caso não gostasse, que repassasse a eles depois. Assim foi feito em meio a muitas risadas.

Agora quando o cardápio é massa, aí não renego nada, nem a descendência italiana.

Uma mudança recente aconteceu: passei a comer peixes.

Então neste caso posso dizer que provei e gostei.....eita!

 

Santos, 19 de novembro de 2022

 

Para Rita pela inspiração ao tema comendo frutos do mar e para Luiz que me animou a comer peixes.

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

A TEIA DA VIDA

 

                    

Neste momento recordando Nelson Rodrigues, penso na “vida como ela é”.  Reflito em seus momentos de puro deleite, de explosões, de seus pontos altos e baixos. 

A imagem que me vem à mente é de uma bem elaborada teia de aranha.

A cada volta desta teia-vida vamos nos desvencilhando dos fios formados pelas desilusões, decepções e sonhos desfeitos.

Com dificuldades e certos bloqueios nem sempre saudáveis, vamos caminhando na teia, de fio em fio, até nos enroscarmos na próxima barreira que se apresentar no caminho.

A cada obstáculo superado, a cada vitória obtida, um novo alento vem povoar nossa alma que por sua vez, imediatamente, estimula a mente a não desistir, a seguir em frente em busca da plena satisfação.

Assim, de círculo em círculo da teia-vida, vamos buscando chegar ao centro de nossos desejos e finalmente sentir a sensação de missão cumprida.

Entretanto, assim como na rede real artisticamente elaborada pela aranha, temos que ficar atentos pois a hábil construtora pode estar à espreita de uma presa.  A atenção e dedicação devem estar sempre presentes até o final de nosso percurso, aliadas às motivações e atitudes positivas conosco e com terceiros.

Outro fator importante é a persistência que será avaliada pelas barreiras que superarmos.

Podemos perder oportunidades, mas jamais desistir dos sonhos.

Dê sempre o melhor de si. Acredite no seu potencial. Só saberemos se algo dará certo, se ao menos tentarmos realizá-lo.

Essa é nossa teia da “vida como ela é”! *

Santos, 07 de novembro de 2022

 

“A Vida Como Ela É – série de contos de Nelson Rodrigues.

 

Nota: Para Erika pelo Livro de Recortes.