quinta-feira, 24 de julho de 2014
LIVROS
Os contos e crônicas constantes neste blog, originaram os dois livros acima.
O primeiro, PEDAÇOS DE MIM, publicado em 2013, traz 60 textos sendo alguns reflexivos e outros divertidos, relatando casos verídicos vivenciados por mim ou por amigos.
Recentemente saiu a edição de CONTOS QUE CONTO, com 36 textos relatando novas histórias.
A despeito das facilidades da internet, ainda gosto de ler segurando o livro nas mãos, sentindo seu cheiro, seu peso e ir curtindo calmamente, cada frase, cada capítulo, cada página virada.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
ENGOLINDO SAPOS E.......TARTARUGAS!
Comerciante sem muito tino
comercial. Assim era ele.
Confiava plenamente nas pessoas,
fossem fornecedores ou fregueses e via de regra acabava sendo ludibriado.
A esposa já tinha uma visão mais
aguçada para os negócios, mas de nada adiantava alertá-lo quando percebia
grande possibilidade de prejuízos.
Intervenções de terceiros só
serviam para causar-lhe irritação e às vezes até respostas não muito educadas,
já que não admitia questionamentos sobre sua capacidade na administração da
pequena casa comercial.
Foram inúmeros os casos de compras
erradas. Também efetuou pagamentos antes
da entrega do material, sendo lesado em algumas oportunidades quando tal
entrega atrasou demais, chegou com produtos alterados ou até mesmo, nem chegou.
Naqueles tempos não havia o PROCON e a ele só bastava resignar-se.
Certa vez um fornecedor que morava
relativamente próximo, com excelente lábia e extremamente simpático, apareceu
em um início de ano letivo oferecendo-lhe vários modelos de estojos escolares,
todos em madeira clara e pintados com bonitas paisagens.
Não apresentou nenhum dos estojos
para que pudessem ser manuseados; apenas e tão somente trazia os desenhos na
pasta de mostruário.
Confiante na conversa do rapaz, em
sua honestidade pelo fato de morarem relativamente próximos e aproveitando o
baixo valor pedido pelo vendedor, fez uma enorme aquisição de estojos. Sem
dúvida já imaginava o lucro que teria dali a alguns dias, quando as aulas
começassem.
Baseado em toda essa confiança fez
o pagamento antecipado, antes da entrega do material.
De nada adiantou o alerta da esposa
que queria ver os objetos e efetuar somente pequena parte do pagamento,
deixando o valor restante para ser quitado por ocasião da entrega.
Dito e feito.
O prazo da entrega passou, as aulas
começaram e nem um estojinho foi entregue. Visitas à casa do vendedor de nada
adiantaram visto que a família sempre dizia que o mesmo estava viajando a
trabalho e não sabiam quando voltaria.
Tantas idas e vindas à casa do já
considerado caloteiro, acabaram surtindo efeito e finalmente a esposa avisou
que em certa data chegaria toda a compra efetuada.
Desta vez o prometido foi cumprido,
mas ...
Sempre havia um MAS nestas
ocasiões.
A grande maioria dos estojos,
apesar de vistosos, tinha a madeira empenada.
As tampas quase não corriam no vão
próprio para isso. Elas deslizavam com
imensa dificuldade. Uma vez que se conseguia tal feito, ou seja, abrir o
estojo, restava outro exercício de paciência: tentar fechar a dita cuja tampa.
Neste ínterim, como um amigo
gostava de dizer, o vendedor mudou-se para Limeira em local incerto e não
sabido. Nunca mais se teve notícias dele ou da família.
Resultado: por vários anos aqueles
estojos ficaram encalhados nas prateleiras e acabaram sendo doados para quem
tivesse paciência para manuseá-los.
Claro que os filhos, sem direito a
reclamações, foram presenteados naquele ano letivo, com os benditos estojos
empenados.
Nem o Menino Jesus escapou destas compras
desastrosas.
Além de material escolar, romances,
livros e blocos ligados à área contábil, a papelaria também vendia brinquedos e
artigos para enfeites de Natal, juntamente com as peças para montagem dos
presépios.
E não é que além da Sagrada Família
e dos Reis Magos, ele resolveu comprar outras peças um tanto exóticas para,
digamos, enfeitar mais ainda os arredores da manjedoura onde repousaria o
Menino Jesus!
Levado novamente pela fácil
conversa de fornecedores, comprou pouca quantidade de São José, Nossa Senhora,
de Jesus e dos três Reis Magos, mas em compensação, aproveitando o baixo valor,
comprou centenas e centenas de sapos e tartarugas oferecidas pelo viajante, que
em sua bela explanação, o convenceu que teriam grande saída por serem novidade
na decoração de um presépio.
A entrega do material ocorreu
justamente quando ele não estava presente e foi a esposa (que desconhecia
totalmente a compra efetuada) quem recebeu a encomenda.
Ao deparar-se com a imensa
quantidade de pacotes, ela já cismada, preparou-se para o pior.
Até hoje me lembro da expressão de
seu rosto abrindo as caixas. Seu semblante transmitia um misto de espanto,
seguido de indignação, raiva e por fim, resignação.
A cada embalagem aberta mais e mais
tartarugas e sapos verdes surgiam. Eram verdadeiros exércitos destes bichinhos.
A quantidade era tamanha que quase ocasionou
a deflagração da 3ª Guerra Mundial na papelaria da família. Entretanto, nada
mais havia a ser feito e ela teve que “engolir” aquela saparia toda.
Depois de longo tempo
desencaixotando as peças, a esposa se deu por vencida e deixou o resto da bicharada
guardado no fundo de um armário para ser distribuído como brinde a quem estivesse
a fim de recebê-los, pois é bom que se esclareça: para piorar a situação, as
peças eram feias e mal feitas.
Não houve alguém da família ou de
amigos naquele ano, e acredito que nos 10 anos subsequentes, que não tivesse esta
fauna tão estranha à cena, fazendo parte de seu presépio. Os bichinhos podiam ser vistos aos pés dos
pastores, das ovelhas, dos Reis Magos e até mesmo próximos à manjedoura, como
que desejando ver de perto Cristo recém-nascido.
São José nunca imaginou que um dia o local que
escolhera para nascimento do filho, viraria um brejo infestado por sapos e
tartarugas.
Creio que se eu fizer neste momento
uma busca na caixa de presépio aqui, corro o risco de topar com uma tartaruga
hibernando e um sapo verde olhando para mim.
Alguém de vocês da família ou
amigos, ainda os tem????
Santos, 16 de julho de 2014
Ao Sr.
Italo, relembrando suas desastrosas aquisições.
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