sábado, 18 de junho de 2022

Nós e os lusos

 


          Nada mais curioso e divertido do que vivenciar ou mesmo ouvir as histórias de gafes na comunicação entre brasileiros e os descendentes de nossos colonizadores.

          Nestes últimos tempos nos quais constatamos um número cada vez mais crescente de migrantes partindo de nossa terra com destino a Portugal, os choques principalmente no vernáculo são constantes a despeito da língua pátria ser a mesma.

          Na verdade todos sabemos que o idioma português não permaneceu em sua antiga colônia de maneira pura e simples. Em terra tupiniquim ele foi recebendo ao longo dos anos uma conotação abrasileirada.

          Diante disso há expressões e costumes com significados totalmente diversos nos dois países.

          Aí as gafes são inevitáveis e as gargalhadas também, principalmente por parte dos brasileiros já que os lusos são bem mais contidos.

          Foi uma dessas situações presenciadas em uma doceria de Lisboa.

          Após o cordial atendimento por parte da funcionária, alguém resolveu agradecer com mais ênfase e dirigindo-se a ela soltou em alto e bom som para todos ouvirem:

- “Obrigado moça!”

          Na hora viu-se o semblante dela fechar-se numa carranca e num tom ríspido ela devolveu:

-“ Não sou moça, sou rapariga. Aqui moça é mulher que não presta”.

          O espanto foi geral entre os brasileiros.

          Outra dificuldade foi comprar um simples lubrificante para maçanetas. A orientação dada foi para se dirigir a uma drogaria. E lá foi ele todo pimpão seguindo as dicas do caminho. Topou com uma farmácia e na hora concluiu que tinha chegado ao local indicado.

          Para seu espanto havia nas prateleiras apenas e tão somente remédios.

          Aparvalhado (expressão rotineira em seu rosto ultimamente), perguntou ao atendente que o orientou a ir numa drogaria.

          Já se preparando para pagar um micão, timidamente e até com certo receio, perguntou:

-“ Uai! Aqui não é uma drogaria?”

-“ Não! Em Portugal farmácia vende remédios e drogaria vende materiais básicos para ferragens, gás, rede elétrica, etc.”

          Lá saiu ele em busca de uma drogaria novamente!

          É notório que os lusos levam as frases citadas ao pé da letra.

          Vai daí que novamente a “parvice” entra em ação.

          Ao ser solicitado o número de seu documento, lampeiro e querendo facilitar, soltou:

-“ 5, 8, 9 e meia dúzia “.

          Na hora a rapariga parou de digitar. Ele pensou: Pronto! Já fiz alguma burrada!

          A jovem com certa carga de ironia lascou a pergunta:

-“ Meia dúzia de quê?”

          Ele não segurou a gostosa gargalhada, fazendo a atendente zombeteira rir junto.

          Outro ponto de confusão foi com a letra K.   Soletrando uma palavra preocupado em oralizá-la corretamente, foi logo ditando:

-“ B- A - F - K”.

          Foi o que bastou!

          A jovem parou de digitar e olhou seriamente para ele. Seguiu-se o curioso diálogo:

-“ Depois do F vem o C e o A?”

-“ Não!!!! Depois do F vem o K”, ele respondeu.

-“ Então, isso é o C mais o A”!!!!

-“ Não é não! É o K sozinho!!!”

          Já um tanto irritada a rapariga afirmou:

-“ Essa letra não existe!”.

          O olhar embasbacado estava estampado em seu rosto! Já pensando em invocar Fernando Pessoa e todos seus heterônimos, ou até Camões se preciso fosse, ele se indignou:

-“ COMO ASSIM???”

          E ato contínuo pegou o documento e indicou a letra para a jovem. E ela:

-“ Ah!! Essa letra se chama capa”.

-“ Capa?????”

-“ Sim! Portanto depois do F vem o capa!”

          E assim de gafe em gafe ele vai aprendendo os costumes lusos, aprendizado este sempre acompanhado de uma bela gargalhada ao final, ao menos da parte dele!!!


Santos, 18 de junho de 2022.

Para Edo pelas dicas, pela colaboração e por estar sempre fornecendo motivos para boas e saudáveis risadas!

Nota: O K vem do grego Kappa, portanto capa!