terça-feira, 17 de maio de 2011

A QUEDA

   


      Cai na rua e pasmem, cai de quatro com toda categoria!
    Subindo na calçada toda lampeira e usando uma sandália da moda, o pé escorregou.
    Capengando consegui subir na calçada literalmente catando coquinhos ou como também se diz, catando cavacos.
    Depois de uns três largos e desajeitados passos, vi que a calçada estava perigosamente chegando mais perto de meu rosto, ou melhor, meu rosto estava cada vez mais perto da calçada.
    Como eu vestia saia curta, decidi ao menos cair com classe e foi o que fiz ou tentei fazer, segurando a roupa com a mão esquerda, enquanto com a direita tentava amparar a queda.
    Escutei umas vozes ao meu lado gritando cuidado, cuidado, mas não houve tempo para maiores cuidados.
    Senti um baque duro nos joelhos e na palma da mão, enquanto via minha bolsa voando para um lado e os óculos (finos óculos de sol comprados de camelô) voando para outro.
     Parei de cair numa posição no mínimo curiosa: estava ajoelhada, tronco abaixado, quadris erguidos e o rosto quase tocando o chão.
    Apesar da dor e do susto uma pergunta passou por minha cabeça: Será que ao menos estou voltada em direção à Meca? 
    Como sou elétrica, fiquei em pé num instante ajudada por dois benfeitores que depois cataram meus pertences esparramados pela calçada.
    Enquanto me recompunha vi com os cantinhos dos olhos, que uma pequena roda de curiosos se formara à minha volta e mal disfarçava o riso. Quando pago mico faço o serviço completo e havia caído justamente em frente à porta de entrada de um shopping. 
    Apesar de ser o centro das atenções, fiz cara de paisagem como se nada fosse comigo, afinal categoria é categoria até no maior vexame!
    Limpei os joelhos, as mãos e acalmei meus auxiliares dizendo que estava bem. 
    Na verdade queria sair logo dali, pois ao imaginar como tinha sido a cena presenciada por toda aquela plateia, estava prestes a ter uma crise de riso incontrolável.
    Sai andando com toda classe (ou o que restava dela) e o mais importante, caminhei sem mancar apesar da imensa dor no joelho esquerdo que ainda sangrava um pouco e foi o mais prejudicado, já que a mão esquerda ficou segurando a saia durante minha acrobática performance.
    No caminho, virei na primeira esquina que encontrei e já fora da vista dos curiosos, não me contive e mesmo sozinha comecei a gargalhar. As lágrimas pingavam de meu rosto.
    Quem passava por mim olhava assustado para aquela figura com joelho sangrando e rindo sozinha até às lágrimas.
    Toda categoria tinha ido para o espaço!
    Mais tarde, já no recôndito de meu lar e devidamente medicada, fui conferir os pertences que na queda se esparramaram pelo chão. Uma boa notícia: os finos óculos do camelô não quebraram!!!
    Uma dúvida ainda paira no ar:
- Alguém sabe para que lado se encontra Meca?


Santos, 10 de março de 2005

4 comentários:

  1. Quem nunca viveu uma cena dessas????? Igual a sua não.... mas lembrei-me de quando torci o pé na frente daquele hotel em SP (estávamos você, Nídia e eu) e amassou o copo de água dentro da bolsa.....e começou a escorrer água da bolsa...você se lembra???? ....mas pra que lado se encontra Meca?
    um bjão,Eliete

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  2. Eliete, chorei agora de tanto rir ao lembrar do caso do copo de água.
    Havia esquecido. Vc, nas escadas laterais da "Caetano de Campos" (foi lá, não foi?)entornando a bolsa e deixando escorrer toda aquela água como se estivesse virando um galão d'água. Suas coisas todas boiando dentro da bolsa. Que cena!!!! muito legal lembrar disso!!! kkkkkkkk

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  3. Liginha, me delicio quando leio suas histórias! Você escreve de uma maneira deliciosa de ler! Parabéns e, continue!

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  4. ops, o comentário acima é meu: Sonia Ramalho (eu não sei como faço para que meu nome apareça junto ao comentário...) - coisas de quem entende de Internet "pra caramba"!

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