quinta-feira, 20 de julho de 2017

RESGATE DE EMOÇÕES


Uma notícia triste vinda de longe transportou de imediato meus pensamentos para uma época distante, mas ainda muito viva em minha memória.
Nos fins dos anos 50 eu era a única menina da vizinhança e as brincadeiras de rua eram todas na companhia dos meninos.  No começo da noite e finais de semana brincávamos com carrinhos de rolimã, empinávamos pipas, fazíamos guerrinha de tampinhas de garrafas com a turma da rua 3, corríamos nos pega-pega e às vezes eu até jogava futebol  (era sempre a goleira e o gol era a porta de aço de um casa comercial).
Foi quando mudou-se  perto de casa uma garota loirinha de nome Lucinda, que tinha idade próxima à minha.  Fiquei maravilhada.    Afinal teria uma companheira para brincadeiras.
Não estudávamos na mesma escola, mas isso não foi empecilho para ficarmos logo amigas e passarmos a frequentar uma a casa da outra.  Ela morava na ocasião com seus tios que tinham um comércio de vestidos de noivas e também confeccionavam flores em tecidos.  Para mim era uma festa ver as funcionárias montando aquelas flores de pano e na época carnavalesca elaborarem os adereços para as escolas de samba da cidade.
Acabei aprendendo um pouco a mexer com isso e nas ocasiões em que o serviço apertava, lá estávamos nós ajudando na oficina. Era mais brincadeira que trabalho mesmo.  Tínhamos então por volta de 8 a 9 anos de idade.
 Foi com ela que comecei a frequentar um programa dominical dirigido totalmente às crianças,  na antiga Rádio PRF2 da cidade.
Era o chamado Programa da Tia Joaninha.  A apresentadora, a Sra. Joana Batista Epiphânio, promovia uma espécie de seleção de calouros mirins, onde toda criança que assim desejasse, poderia cantar uma música para um auditório que ficava lotado.
A expectativa e torcida da plateia formada por muitas crianças e seus familiares, eram contagiantes.  Eu fazia parte da torcida de Lucinda que diga-se de passagem, cantava muito bem mesmo músicas difíceis, não adequadas às vozes infantis.  Lembro-me bem do sucesso que ela fez ao cantar  "Se acaso você chegasse" *.
Nos carnavais sua tia inventava e nominava belas fantasias para a sobrinha ir nas matinês. A última que lembro foi a Rainha da Lua. 
Numa ocasião por um problema familiar, eu não iria na matinê.  A tia, D. Rizolina,  fez então às pressas uma fantasia para que eu pudesse acompanhar sua sobrinha. Lá fui eu de última hora vestida de Colombina.  Nos levaram até no tradicional fotógrafo Copriva para registrar o momento.
Creio que D. Rizo nunca soube o quanto fez minha mãe feliz com este gesto!
Já na adolescência começamos a frequentar a mesma escola  e embora não estivéssemos na mesma classe, íamos e voltávamos juntas para o Curso Normal (Magistério) no tradicional Instituto de Educação "Joaquim Ribeiro".
Após este período nossas vidas mudaram e seguimos caminhos diferentes. Aos poucos perdemos o contato.
Há pouco tempo e graças à tecnologia ela me localizou numa rede social.  Num piscar de olhos toda aquela emoção vivenciada há tantos anos voltou à tona, assim como as boas e belas lembranças.
Nesta semana infelizmente Lucinda nos deixou.  Com ela se foi uma bela parte de minha infância e adolescência.
Siga em paz amiga!  Será sempre lembrada com muito amor  e carinho!!!


Santos, 20 de julho de 2017.


Para Lucinda Fozzato Hebling, in memoriam!

*  Musica: Se acaso você chegasse
                 Autoria: Lupicínio Rodrigues