sábado, 23 de agosto de 2014

COMO PLANTAR BANANEIRA




Outro SARESP chegando neste segundo semestre de 2014.
A sigla significa Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo. São avaliações externas direcionadas a determinados anos e séries escolares, com o objetivo de avaliar o rendimento do aluno e a partir da identificação das principais dificuldades encontradas, propor melhorias no ensino.
Coordenei sua aplicação na então chamada Delegacia de Ensino de Rio Claro, desde o início em 1996 até 2003, quando me aposentei.
Na época, dez municípios faziam parte desta Delegacia totalizando quase 50 escolas estaduais.
No período do SARESP ocorria uma verdadeira aventura estrada afora a fim de se distribuir os materiais, promover reuniões, recolher e conferir todo material e finalmente elaborar um imenso relatório da D.E. a partir dos relatórios de cada unidade escolar.
Ficava tão envolvida com o processo que certa vez, numa reunião em Brotas, uma coordenadora de escola municipal que também participava do evento, esquecendo meu nome, chamou-me de dona SARESP e assim fiquei conhecida por um bom tempo naquele município.
A despeito da importância do processo, para mim é impossível dissociá-lo de um acrobático tombo que finalizou deixando-me numa posição de ioga que jamais consegui fazer em condições normais: plantar bananeira.
O caminhão trazendo todo material a ser usado no SARESP chegou à Delegacia num momento em que eu não estava presente.  Foi solicitado aos carregadores que descarregassem as muitas pesadas caixas numa sala que ficava num local bem reservado e seguro.
Aconteceu, porém, que tais carregadores não tiveram o cuidado de colocar as caixas que iriam para o mesmo município, todas juntas ou ao menos próximas entre si. Na verdade eles promoveram uma verdadeira miscelânea com o material.
Quando vi o ocorrido, resolvi organizar tudo visando facilitar o trabalho no momento da distribuição. 
Como sempre, apressada e elétrica, não esperei que alguém pudesse vir ajudar. Decidida que estava não levei em consideração o tamanho de cada caixa (em torno de 40 cm x 40 cm x 40 cm), o peso das mesmas que deveria ser algo próximo a 30 quilos cada uma e muito menos considerei meu tamanho e minha força.
As caixas estavam empilhadas de três em três, formando colunas com espaços entre elas. Vendo que não conseguia erguer uma sequer, resolvi então empurrar as tais colunas a fim de aproximar as que teriam por destino, o mesmo município.
Nem bem pensei e já entrei em ação; ou melhor, desaceleração!
Com a ponta do pé direito tentei empurrar a caixa de baixo, ao mesmo tempo em que apoiando as mãos na de cima, apliquei a maior força que fui capaz. Julguei inocentemente, que a caixa do meio se deslocaria acompanhando a de baixo.
Na primeira tentativa elas nem se mexeram. Respirei fundo e parti com tudo para uma segunda tentativa e foi aí que o fato se deu.
A caixa que estava no chão, nem ligou para a pressão de meu delicado pezinho. Em compensação, a terceira e última caixa, acabou se deslocando para frente diante do forte empurrão, caindo no chão justamente no vão entre as pilhas.
Porém, contudo, entretanto, todavia, no entanto... a caixa do meio, acompanhando sua vizinha de baixo, nem sem mexeu.
Com pés travados pela primeira caixa, mas com o tronco bem curvado para frente em função da grande força que fiz com os braços, meu corpo acabou acompanhando a terceira caixa e quando dei por mim, estava passando (ou seria voando?) sobre o material. Fiquei alguns poucos segundos plantando bananeira no vão entre as colunas de caixas para finalmente dar uma cambalhota e esparramar-me no chão.
Assim que levantei e ainda atordoada sem saber onde estava, eis que entra na sala a chefe da administração, que felizmente não viu a performance circense completa e nem algunas otras cosas, já que eu usava um vestido curto nesta ocasião.
Mesmo assistindo somente o final da cena, ela ao saber o motivo de eu estar tão branca e um tanto decomposta além de descalça (as sandálias voaram longe durante o malabarismo), soltou sua tão gostosa e contagiante gargalhada.
Nunca mais consegui dar cambalhotas e muito menos plantar bananeiras. Acho que aproveitarei o próximo SARESP para me exercitar novamente.
Este desempenho acrobático não constou do relatório do SARESP daquele ano, apesar de ter sido fenomenal; eu garanto!

Santos, 23 de agosto de 2014.  


Para Zezé Varuzza, recordando sua risada tão gostosa.