segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

UM GPS POR FAVOR!



As décadas já vividas (fator preponderante), o cansaço provocado pelas compras de final de ano, a conversa, ou simplesmente a pura e total falta de atenção, já provocaram acidentes e incidentes nas melhores famílias.

Com elas não poderia ser diferente.

Em tempos de pandemia o jeito é programar-se para sair o menos possível de casa e sempre em horários nos quais é bem menor a probabilidade de encontrar muitas pessoas.

Pensando assim elas ainda bem cedo tomaram o rumo do supermercado.  Considerando que os preços estão elevados, cada qual levou sua listinha nas mãos para controle a fim de se evitar gastos supérfluos.

Compras feitas, pagas e já colocadas no carro, rumaram para seus apartamentos.

Para que as sacolas com as mercadorias não se misturassem, uma parte foi colocada no carrinho do prédio e a outra acondicionada em sacolas de tecidos.

Uma  delas reside no 5º andar e outra no 8º andar do mesmo edifício.

Já no interior do elevador e um pouco espremidas pelo carrinho e sacolas de pano, optaram por se deslocarem primeiro ao 8º andar pois as compras eram em menor quantidade, e na sequência a moradora do 5º desceria com suas aquisições devidamente acomodadas no carrinho.

E foi aí que a intervenção de vários fatores, dentre eles as décadas vividas, alterou todo o esquema.

Assim que a porta do elevador abriu, a moradora do 8º apressou-se em colocar todas as sacolas cheias de compras no corredor. Despedidas feitas, porta fechada e o elevador se deslocou novamente.

Ato contínuo, ao ocorrer a segunda parada, a moradora do 5º andar fazendo um certo esforço, conseguiu colocar o carrinho no corredor e se deslocou em direção à sua casa.

Surpresa total!

Vários tapetinhos decoravam as portas dos apartamentos, tapetinhos estes que com certeza não pertenciam ao andar em questão.  Feita a verificação ela constatou que estava no pavimento.  Voltou rapidamente com o carrinho e com novo esforço o colocou no elevador, agora com uma dificuldade maior pois ria muito e isso diminuiu suas forças.

Chegou finalmente ao 5º e nele encontrou no chão perto da saída do elevador, as sacolas que deveriam estar no 8º.  Nem sinal da dona das mesmas ali por perto.

Estacionou o carrinho num canto do corredor, recolheu as sacolas e embarcou novamente para o 8º andar. Ainda sem encontrar a proprietária deixou todas as sacolas na porta do apartamento e retornou ao seu pavimento.

Outra surpresa! Cadê o carrinho???

Passado o espanto inicial, o observou no final do corredor, já vazio, estacionado na porta de seu apartamento.  Ao se aproximar encontrou a companheira saindo da moradia, onde havia descarregado toda a compra. 

Aí as gargalhadas foram inevitáveis.

Com certeza apertaram errado os botões do elevador e uma delas nem percebeu que ele subiu quando deveria descer. Total desatino.

Toda esta lambança de entra e sai de elevador com compras descarregadas em andares trocados, levou praticamente mais tempo do que a própria ida ao supermercado.

Creio que num futuro próximo, bem próximo diga-se de passagem, haverá a necessidade de usarem um GPS para se deslocarem dentro do próprio prédio.

 

Santos, 21 de dezembro de 2020

Para Tutu, companheira de todo este desatino.


 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

PODEREMOS FESTEJAR 2021?



Há um ano quem de nós imaginaria um 2020 tão desastroso?

Vínhamos numa roda viva de acontecimentos com mais tragédias que fatos positivos.  Basta lembrarmos rapidamente alguns exemplos como Brumadinho, escola de Suzano, CT do Flamengo, imensas manchas de óleo nas praias do nordeste, e por aí afora. O Brasil perdeu também pessoas de destaque como Ricardo Boechat, Gugu Liberato, Beth Carvalho, Lucio Mauro, Rubens Ewald Filho, João Gilberto, entre tantos.

Em meio a tantas notícias ruins houve também algumas positivas como a canonização de Irmã Dulce, a primeira santa brasileira. 

Entretanto fatos tristes predominaram totalmente o ano de 2019.

Era comum ouvirmos e até mesmo concordarmos com a expressão: 

Tomara que este ano acabe logo!

E eis que 2020 chegou e como dizem alguns, chegou chegando e já nos assustando logo nos primeiros dias com notícias vindas da Ásia, posteriormente da Europa, da América do Norte e em março batendo na porta do Brasil.

Sem que ninguém esperasse nos vimos enclausurados em casa,  acompanhando a disseminação de um vírus mortal de forma acelerada, levando pessoas amigas, familiares, desconhecidos, enfim, acumulando perdas e mais perdas humanas.

De repente tivemos que nos afastar de todos, evitarmos qualquer contato físico com quem quer que seja. Pais separados de filhos, avós separados de netos, irmãos isolados e amigos também.

Entretanto o tempo no isolamento do lar permitiu muitos momentos de reflexões sobre nossos valores. Ficou mais do que claro que acumulamos muitas coisas desnecessárias no dia a dia. Constatamos que a companhia de familiares, de amigos, assim como os abraços reais, efetivos, não têm preço mas têm sim, valores inestimáveis.

Passou a ser arriscado até o simples toque suave de uma mão sobre nosso braço nos dizendo estou aqui com você, estou lhe apoiando. Imaginem então um abraço daqueles de urso, quando os corações batem no mesmo compasso! Em tudo isso o distanciamento colocou um fim de forma abrupta.

Agora, quando surge uma luz no final do túnel e as tais vacinas estão prestes a chegar, nossa esperança toda se deposita em 2021.

Será ainda um ano difícil em todos os campos, principalmente na saúde e economia, mas desejo e espero que tudo isso que vivemos neste 2020 abra nossa mente para o que realmente importa nesta vida: o SER é indiscutivelmente superior ao TER.

Que tenhamos aprendido que as melhores coisas da vida são gratuitas: abraços, sorrisos, beijos, família, amigos, amor, risos e boas lembranças. Quem me conhece sabe que curto muito minhas boas lembranças!

Desconheço a autoria da frase mas concordo com ela:

"A ciência já provou que não é possível "ganhar frio"; o que acontece é perda de calor. Isso nos leva a pensar que talvez o ódio não exista, é apenas falta de amor".

Um ano de paz e saúde a todos!

 

Santos, 16 de dezembro de 2020
 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

HUMOR NA TV: evolução ou involução?


 

Quem acompanhou na TV há alguns anos o programa A Praça é Nossa (antigamente era Praça da Alegria) deve lembrar-se da personagem Velha Surda interpretada por Rony Rios. 

Como não reportar-se de imediato a ela quando por distração ou pura surdez mesmo, entendemos erradamente a palavra que nos falaram? É a tal vida imitando a arte ou vice-versa como alguns preferem.

Recordando rapidamente duas destas situações, me vejo no próprio banco da praça quando em conversa em família sobre a performance de Sophia Loren, é dito que a atriz apesar da idade está inteirona.

De imediato se ouve a pergunta: 

- Ela está morando em Verona?

Na cabeça de todos a cena com a velha da praça aparece instantaneamente e as risadas são inevitáveis.

Também dei minha contribuição (para não chamar de mico) enquanto aguardava a atendente do plano de saúde anotar meus dados para uma autorização de ultrassonografia. 

A uma distância de 2 metros e com uma grossa máscara a jovem pedia meus dados pessoais quando, de repente, a ouço perguntar se eu usava lente de contato. Espantada com tal pergunta já que a visão não tinha nada a ver com o exame, devolvi-lhe a questão querendo saber o motivo deste  tão estranho pedido.  Foi quando mal segurando a risada a atendente em tom bem mais alto me esclareceu que queria um telefone de contato. 

Claro que não somente ela como eu rimos, mas também todos os demais que estavam por perto.   Foi minha mais recente interpretação da inesquecível Velha Surda.

Lembrando-me então dos humoristas que se apresentavam na TV até há pouco tempo, não pude deixar de traçar uma linha comparativa com os atuais programas. Conclui não sem certa tristeza que já há alguns anos não tenho conseguido acompanhar na TV nenhum quadro dito de humor.

Às vezes até me obrigo a assistir algum que ouço comentários positivos, mas logo desisto. Desde o texto, passando pelas  caricaturas, por interpretações, tudo me soa tão forçado e falso (muitas vezes apelativo) que não consigo achar graça alguma e chego a sentir até a tal vergonha alheia.

Talvez o humor que hoje se exibe na TV não se enquadre mais em minhas preferências, ou então as décadas já vividas tenham me roubado um pouco o senso de humor, fato este que considero um pouco difícil.

Os valores, as expressões, as abordagens com certeza sofrem modificações com o passar do tempo. Alguém já disse que se ficarmos exclusivamente olhando para o passado, não viveremos o presente e perderemos o futuro. Concordo plenamente.

Mudanças são bem vindas e necessárias e temos que nos adaptar a elas se quisermos evoluir. Basta lembrar Darwin e sua Teoria da Seleção Natural para nos conscientizarmos disso.

O que porém tem ocorrido de um modo geral é que cada vez mais sinto que as transformações têm acontecido de maneiras tão descontroladas e aceleradas, que atropelam o homem e nem sempre nos levam a um progresso, a uma evolução e sim a um retrocesso.

Por conta disso ouço com muita frequência a expressão "no meu tempo", expressão essa que de imediato, como já testemunhei, coloca os mais jovens numa rápida postura de rejeição a todo o resto da frase.

A ideia não é desvalorizar o novo pura e simplesmente, mas analisar se realmente tal mudança trará algo benéfico.

Se sim, vamos aplaudi-la e adotá-la. Caso contrário é melhor estudar novas maneiras de implantá-la para que realmente nos leve ao desejado progresso.

Por essas e mais aquelas continuo a preferir a singeleza e simplicidade da divertida Velha Surda Bizantina Escatamaquia Pinto com sua música de apresentação: Ó querida, ó querida, ó queriiiiiiiiiiida Clementina!!!




Santos, 16 de novembro de 2020

Respondendo somente agora sua pergunta Edo, Sophia Loren mora atualmente em Genebra, mas tem imóveis em Nápoles e Roma.  Portanto ela não mora em Verona, mas está inteirona...😁😁😁



quarta-feira, 7 de outubro de 2020

TEMPOS DE CRIANÇA


 

Após longos anos de estrada percorrida nesta vida terrena é muito gratificante pararmos um pouco o relógio do tempo e olharmos, nem que seja por alguns minutos, todo o caminho já percorrido.

Da infância à fase adulta passamos por experiências das mais variadas possíveis.

Obviamente haverá muitas lembranças que nos machucaram, mas aí entra neste instante, nossa capacidade de sublimarmos tais fatos e nos atermos somente àqueles que fazem brotar instantaneamente um sorriso na face.

Quando me  proponho a fazer tal exercício meus pensamentos mais demorados correspondem à segunda infância e juventude.  Creio que isto deva se passar também com a maior parte das pessoas.

É inegável que a vida nestas faixas etárias, quando estamos ainda de certa forma descompromissados com nossa função e participação na sociedade como um todo, tudo se compare à conhecida expressão "mar de rosas".  Talvez por isso mesmo permitimos que nossa alma sonhe, e sonhe alto, dando-nos aquela vontade enorme de abraçar o mundo.

Quem já não teve ou ainda tem esta vontade?

As lembranças que trago da infância me são muito caras, a despeito de ainda crianças, faixa dos 7 e 8 anos, eu e meu irmão já trabalharmos várias horas por dia na papelaria de meus pais com obrigações e cumprimento de tarefas.

A memória guarda com muito carinho as brincadeiras com irmão, primos e outras crianças, tanto nas ruas quando o asfalto ainda não havia sufocado as pedras do calçamento, como nas dependências do armazém e fábricas de meu avô e tios-avós. 

Num instante me vejo escalando juntamente com mais crianças, sacas e sacas de açúcar cristal empilhadas num depósito escuro na refinação de açúcar, onde entrávamos escondidos dos adultos.

Era uma delícia furarmos os cantinhos do tecido e comermos o açúcar que escorria pelos buraquinhos feitos.  Além de saborearmos o doce, havia também a emoção da aventura pois fazíamos isso sempre de olho na porta do depósito com receio que alguém nos flagrasse. Quando isso acontecia era uma correria só.  Cada criança corria para um lado com o coração aos pulos.

Outra aventura prazerosa era invadirmos a adega que ficava no quintal no centro da fábrica de macarrão.  Impossível esquecer a emoção temperada pelo medo e pela curiosidade ao descermos os degraus cheios de limbo verde, e entrarmos num ambiente na semiobscuridade sentindo teias de aranhas enroscando nos braços e rosto. A sensação da aventura suplantava qualquer receio maior.

No fundo da adega víamos garrafas e mais garrafas de vinhos que eram destinados ao consumo da família. Nunca mexemos nelas pois sabíamos até onde nosso atrevimento poderia chegar.  Esta brincadeira teve um final súbito pois numa das invasões fomos vistos por tia Fiorina, que da janela do salão do sobrado deu o grito de alerta aos funcionários e aí a correria foi imediata. Lembro-me que ficamos sem aparecer em casa por algumas horas até que a bronca dos adultos amenizasse.

Não há como esquecer a delícia que era na fábrica de macarrão, ser colocada sentadinha sobre a prateleira mais baixa dos carrinhos que possuíam vários andares de varais destinados a pendurar espaguetes recém preparados. Tais carrinhos tinham rodinhas e eram levados por funcionários (Gino e Zanardi) até a sala de secagem onde havia um enorme ventilador que tomava toda a parede do ambiente.  Como eu era a menor da turma e única menina, tinha o privilégio desta brincadeira. O carrinho era então empurrado em alta velocidade por um longo corredor que levava até a sala do secador e eu ria muito neste trajeto, sentido as pontas dos espaguetes úmidos batendo em meu rosto. Óbvio que essa brincadeira também não chegava aos ouvidos de meu avô e principalmente de meu  tio-avô  Casemiro (Pipe) que era muito sério e sisudo nos causando certo receio e distanciamento dele. Creio que fosse amoroso como meu avô, mas naqueles tempos as crianças não tinham a liberdade que hoje possuem no meio dos adultos.

Na esquina da fábrica, bem no canto da avenida 8 com rua 3, meu avô administrava o armazém da família onde sempre havia encostada à porta, uma caixa de madeira com bacalhaus secos. Uma de minhas traquinices era ao passar por ali, beliscar pedações destes peixes e sair curtindo o gostinho de sal na boca, enquanto meu avô entre bravo e sorridente, me dizia:  "Migila, não estrague o produto!"

Nunca soube o motivo dele às vezes se referir a mim com este apelido.

Interessante que depois desta fase passei a não gostar de peixes. Apenas recentemente comecei a aceitá-los no cardápio.

O portão da garagem da fábrica era de madeira grossa mas cheia de vãos pelos quais podíamos ver as pessoas passando pelas duas calçadas da avenida 8.

Isso era um convite para outra arte!  Fazermos canudinhos de papel na forma de cone, fechados numa extremidade e abertos na outra. Colocávamos tais canudinhos dentro de talo oco de mamona e ficávamos à espreita de uma vítima que passasse na calçada mas do outro lado, pois caso contrário seríamos imediatamente identificados.  Tínhamos portanto que dar um forte sopro. Ao sentir a batida do canudo em seu corpo a pessoa parava, se apalpava, olhava em volta e nada via, enquanto a criançada segurava a risada por trás do portão.

Essas e muitas outras lembranças da infância me fazem sorrir sempre ao revivê-las como neste momento.

Meus bons tempos de criança!

Sou obrigada a contrariar Ataulfo Alves: "Eu era feliz e sabia!"*




Santos, 07 de outubro de 2020

Aos companheiros destas aventuras da infância na fábrica da família: Edo, Chico, Benito (in memoriam), Arnaldo e Cláudio Emílio.



* Meus tempos de criança - Ataulfo Alves



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A ARTE DE VIVER EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS


 

Estamos praticamente há 7 meses evitando o convívio social com familiares, com amigos e com o mundo de um modo geral.  Este distanciamento físico que a princípio pensávamos ser breve, prolonga-se  muito e hoje entramos no mês de outubro sem grandes perspectivas de liberação maior.

Quem pertence aos grupos de risco têm maior cuidado nesta exposição pois o vírus que ainda circula livre por aí, mostra-se nos organismos humanos com uma agressividade diferenciada e ainda não plenamente compreendida por especialistas, visto que em algumas pessoas a situação se complica em poucos dias e leva a óbito e em outras, às vezes até com mais idade, a virulência não se mostra tão forte.

Como enfrentar um inimigo invisível e perigoso a não ser nos abstendo de circular por lugares muito movimentados e fechados?

Esta situação de isolamento e reclusão em nossas próprias casas deu-nos momentos para muitas reflexões. Depois das rotinas domésticas, de home office, de aulas online,  de gravações de vídeos e outras atividades rotineiras, o tempo livre nos permite soltar o pensamento e analisarmos como tem sido nosso dia a dia mesmo antes de tal pandemia.

É justamente nestes momentos reflexivos que as diferentes expressões artísticas vêm nos alegrar, distrair, ensinar e mostrar quão criativo é o ser humano.

Nunca a arte foi tão útil e necessária na vida de todos nós como neste complicado ano de 2020!

Creio que todos conheçam uma ou outra pessoa avessa às obras artísticas seja no campo da pintura, poesia, escultura, literatura, música, dança e artesanato de um modo geral.

Não me cabe analisar estas posições visto que não sou especialista em psique, mas atrevo-me a pensar que tais posicionamentos são adotados mais para mostrar uma falsa postura de segurança ou até de autocontrole de sentimentos que equivocadamente colocariam tais pessoas num patamar superior aos demais reles mortais.

  Considerando isto só posso lamentar a opção de tais seres pois com certeza seus mundos são desprovidos de qualquer toque de beleza interna que alegre a alma.

A saúde mental tão prejudicada pelo confinamento é agraciada por estes  momentos nos quais paramos para apreciar ou até mesmo interagir com atividades artísticas. 

Este período de isolamento forçado acabou provocando descobertas de fatos que somos capazes de executar e apreciar e que nós mesmos não sabíamos até então.

Visitas on-line a museus, transmissões ao vivo via internet bem estruturadas e sobre todos os assuntos, aulas virtuais de pintura, de trabalhos manuais entre outras opções, aumentaram significativamente seu público.

Dentre estas escolhas acima, a que mais tem chamado minha atenção é a apresentação de corais on-line.

Tive oportunidade de assistir a várias delas e encantei-me com a criatividade, com o trabalho de montagem, com a organização, com o roteiro e com o preparo de todo o pessoal envolvido, que na segurança de suas casas cantam e nos tocam o coração com suas performances. 

Fico imaginando quanto tempo foi dedicado a esta atividade toda para obterem resultados tão perfeitos!

Mais do que nunca a arte tem sensibilizado nossa alma, tem ajudado a nos libertar de nós mesmos e a exprimir sentimentos que não conseguimos verbalizar. A arte perpetua seu autor.

Paralelamente a todo desconforto e insegurança que tal vírus nos trouxe este ano, estamos aprendendo e reconhecendo a vital importância das manifestações artísticas.

     "É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente"- Simone de Beauvoir


Santos, 01 de outubro de 2020.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

FESTA HOJE NO CÉU!






Ontem ele partiu.
Partiu depois de um breve período de complicações de saúde.
Chegou aos 87 anos!
Não há como lembrar dele sem recordar muitos sorrisos infantis que ele provocou com suas artes no campo da marcenaria.
Despertou nas crianças, hoje jovens e adultos, o prazer de poder brincar com objetos artesanalmente feitos por suas mãos, com muito capricho e perfeição.
Carros, carrinhos, caminhões de vários tipos e modelos (às vezes trazendo o nome da criança pintado nas laterais), ônibus e vários outros objetos que não se encontram para comprar em lugar algum.  Eram exclusivos.
Suas mãos concretizavam sua criatividade. 
Desenhava muito bem e elaborava sua arte com extremo cuidado e carregada de detalhes que impressionavam.
Não teve o tempo todo uma vida de calmaria, muito ao contrário, teve momentos difíceis. A despeito disso sempre seguia em frente, ora construindo um brinquedo, ora inventando alguma novidade doméstica, ora cuidando de horta e plantas e enquanto pôde,  pescando.
Simples e amoroso, era seu jeito de ser.
Foi se despedindo de todos aos poucos, cada dia um pouquinho e agindo assim foi preparando a família para a partida final.
Ontem ele se foi.  Descansou de um grande sofrimento.
Hoje, 01 de junho, é aniversário de sua esposa. Ela já não está entre nós há alguns anos, mas lembro-me bem do carinho com que a tratava.
Andei pensando e concluí que ele premeditou a data de sua partida.
Com certeza quis surpreendê-la e fazer-lhe uma festa de aniversário no céu!
Siga em paz tio Sid e boas festas aí na companhia de tia Daiza.
Um abraço saudoso em ambos!


Santos, 01 de junho de 2020

A Sidnei Zoega, desejando-lhe muita paz!

* foto: abril/2019.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

UM CAFÉ NA QUARENTENA




                     
Sempre aos sábados e ao menos um dia durante a semana, eles se encontravam para um passeio pela cidade e também para saborearem um gostoso cafezinho nas cafeterias preferidas.

Isto acabou tornando-se um hábito gostoso e agradável por anos até que se instalou essa tal de quarentena.

Todo comércio fechou inclusive as cafeterias tão visitadas por eles.

Pertencem ao grupo de risco e este é outro fator que os faz respeitar com responsabilidade todas as orientações sobre os meios de se evitar contaminação.

Saídas somente por perto e para compras necessárias como em supermercados e farmácias. Usar transporte público nem pensar.

Resultado: as gostosas tardes batendo papo, saboreando um leve pedaço de bolo e um gostoso cafezinho foram canceladas.

O receio da contaminação é real e precisa ser respeitado.

O hábito adquirido começou a trazer saudades que vieram reforçar a vontade de repeti-lo, mas como?

Uma fugidinha rápida de carro para uma das duas casas foi a forma encontrada por eles para repetir aqueles momentos.

Claro que em suas casas o aconchego é maior, o conforto também e a conversa flui mais à vontade, propiciando um ambiente extremamente agradável.

Os passeios pelas ruas do bairro fazem falta sim, não há como negar, mas isto não neutralizou o que há de mais importante: o ar romântico de um encontro para um cafezinho, adoçado com carinho,  numa cuidadosa e rápida escapadela em plena quarentena com seus riscos.

É o que podem fazer nestes dias tão conturbados, que logo devem passar, assim eles esperam!


Santos, 21 de maio de 2020

Para Sylvia, pela sugestão!

segunda-feira, 23 de março de 2020

MOMENTOS QUE NÃO ESQUEÇO





Nestes tempos em que ouvimos a palavra vírus centenas de vezes por dia, lembrei-me das aulas de Programas de Saúde que faziam parte do currículo escolar nos cursos técnicos (2º Grau) lá pela década de 70.
Nesta época ainda universitária eu já lecionava em tais cursos em uma escola da cidade. 
Durante as exposições teóricas dos conteúdos sempre tive o costume de entre uma e outra fala provocar a participação dos alunos através de perguntas que fazia aleatoriamente, sem nomear alguém em especial, deixando livre para quem se sentisse seguro da informação pudesse dar a resposta tornando a aula interativa.
Essa dinâmica  espantava o sono tão comum entre alunos trabalhadores que estudavam no período noturno.
Um fato que após mais de 4 décadas ainda está muito presente em minha memória, foi justamente a aula sobre vias de penetração dos micróbios em nosso organismo.
Era uma turma de Química Industrial com 40 alunos, naqueles tempos em que o respeito fazia parte da educação que todos traziam de casa. Era uma turma bem participativa.
Comecei falando da via respiratória e questionei qual seria o local de entrada.  Claro que de imediato muitos responderam o nariz. 
Na sequência perguntei sobre as vias digestivas e os alunos também prontamente disseram que era através da alimentação.
Empolgada com a participação da classe fiz entusiasmada a terceira pergunta:
- E a via de penetração cutânea?
Deparei-me com expressões de espanto e um silêncio geral.
Conclui que tal comportamento havia sido causado pelo desconhecimento do termo cutânea.
Antes que eu pudesse explicar o significado ouvi uma voz carregada de sotaque interiorano vir lá do fundo da sala:
- Dona!!!!!!   Que pergunta é essa???  A gente não pode falar isso!!
Só aí me dei conta do que se passava na cabeça dos alunos e já rindo muito juntamente com todos,  passei rapidamente a mão no braço explicando que se referia à pele que cobre nosso corpo. Lembro até do rosto do aluno que ao me questionar estava vermelho de vergonha.
Se tal fato ocorresse hoje ouviríamos talvez até alguma música tipo funk falando o que a classe pensou e se calou naquela noite.
Em outra ocasião já dando aulas para o Ensino Fundamental e falando sobre higiene corporal, explicava a importância dos banhos diários para remover inclusive resíduos e células mortas da pele.   Estava em pé encostada na mesa da primeira carteira que era ocupada por um aluno muito espirituoso. 
Quando falei sobre a necessidade de levar uma bela chuveirada, ele fez um gesto brusco se encolhendo todo na carteira e colocando os braços sobre a cabeça.
Diante de meu espanto ele esclareceu:
- Professora, estou treinando como vou me proteger para levar uma chuveirada!
Diante da brincadeira dele percebi que minha orientação sobre  levar uma bela chuveirada poderia realmente se tornar muito perigosa....rs.
Em tempos de covid-19, nada como relembrar momentos tão alegres e felizes no magistério.

Santos, 23/03/2020

A todos ex-alunos que fazem parte de minha história e com os quais muito aprendi, e em especial ao Spagnhol e Vivaldo, protagonistas destes fatos.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

HÁ CINCO DÉCADAS





Em pleno salão de baile carnavalesco ela gritava em meio à folia e às marchinhas:
- Guarde uma carteira ao lado da sua no primeiro dia de aula!
Falava com a alegria que sempre a acompanhou e acompanha até nos dias atuais.  Eu ria,  acenava positivamente e assim procedia.
Sentávamos lado a lado nas velhas carteiras modelo Brasil, aquelas cujos tampos eram presos ao encosto da carteira da frente. Assim foram os 3 anos do curso do Ensino Médio que nos anos 60 era chamado de Curso Normal, formando as futuras professoras de 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental, antigo primário.
Esta posição das carteiras facilitava o contato nos dias de prova. Minha letra sempre foi grande mas apesar disso era comum ouvir um sussurro vindo da carteira ao lado dizendo - aumenta a letra, aumenta a letra!
Sorrio só em lembrar! Eram atitudes inocentes e típicas de adolescentes que estavam bem longe de comportamentos como os que geralmente vemos nos tempos atuais, carregados de maldade e total falta de educação.
Nos efervescentes anos de 1967 a 1969  quarenta jovens na faixa de 15 e 16 anos estudavam na mesma classe.  Muitas delas já haviam cursado juntas também os antigos cursos ginasial e primário e aí os laços de amizade só se fortaleceram.
Cada qual com seu temperamento, com sua expectativa diante da vida; algumas expansivas, outras tímidas, algumas sempre alegres, outras mais contidas.
A verdade é que apesar das diferenças entre si todas formavam um grupo coeso de muita amizade e cumplicidade, cuja marca registrada eram a alegria e espontaneidade. Éramos felizes e sabíamos disso.
Era uma turma de boas notas e excelente educação mas que de certa forma desafiava os professores que necessitavam buscar muita bagagem para motivarem suas aulas.
Impossível não lembrar das aulas descontraídas de Psicologia quando o professor usando de fina ironia, brincava com os fatos que ocorriam. Até hoje me lembro da blusa que ele chamava de  psicodélica (era um termo da moda) que era sempre usada por uma das alunas, bem como do dia em que um pandeiro caiu no chão durante sua aula. Ele era doutor em sua área e sabia bem como lidar com aquela classe que transbordava dinamismo.
As aulas de Sociologia já eram mais silenciosas e o professor bem circunspecto. Fizemos a leitura e  interpretação completa do livro de autoria de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo. E não é que estamos vivendo realmente neste admirável mundo?
As temidas chamadas orais de História deixaram marcas em muitas alunas.  As dissertações sobre a História do Brasil e História Geral exigiam excelente memória!
Cada professor procurava se adequar àquela turma irrequieta e ao mesmo tempo curiosa diante do mundo que estava se abrindo à sua frente.
Muitas já namoravam e no sábado (havia aulas neste dia também) a sala mais precisamente o fundão da sala, transformava-se num salão de cabeleireiro.  Qualquer folga, qualquer tempinho, lá estavam algumas pedindo auxilio para as amigas que eram mais jeitosas com os arranjos nos cabelos e com a manicure, afinal era dia de namorar na Praça da Liberdade após as aulas da tarde.
Na semana que antecedia algum baile especial principalmente no clube Ginástico Rioclarense frequentado pela maioria, o alvoroço da moçada era imenso. Modelos de vestidos, escolha de penteados, de sapatos,etc
As saídas para passeios extraclasse eram diversão garantida.  Geralmente o transporte era improvisado e íamos na carroceria do caminhão do pai de uma das alunas.  Momentos que com certeza nenhuma de nós esqueceu e nem esquecerá.
Éramos 40 jovens e trazíamos no olhar muitos sonhos, esperanças e vontade de abraçar o mundo. 
E assim após 3 anos juntas chegamos à formatura, ao momento no qual cada uma já tinha traçado o rumo a seguir.  Algumas foram para a Universidade, outras abraçaram de imediato o magistério e algumas se casaram logo após a formatura e até mudaram de cidade. 
Nas voltas que o mundo deu acabamos nos desencontrando pelas esquinas da vida e ficamos reduzidas a pequeninos grupos.  Vez ou outra nos encontrávamos ao acaso.
A chegada da tecnologia com suas mil possibilidades de comunicação virtual, possibilitou o início  dos contatos. Como rastilho de pólvora as mensagens correram rapidamente em todas as direções e em pouco tempo quase a totalidade das jovens foram localizadas.
Infelizmente 6 já nos deixaram e algumas poucas não puderam ser contatadas.
Neste dezembro de 2019 completamos 50 anos de formatura. E claro, um almoço foi organizado para o reencontro das jovens formandas de 1969.
Na longa mesa que se formou no restaurante era impossível saber quem falava mais.
Na verdade talvez a frase correta seja:  impossível saber quem sorria mais.
O comportamento do grupo reunido era exatamente o mesmo  vivido há 50 anos. A alegria do reencontro, as novidades que cada uma tinha para contar, as lembranças de fatos ocorridos nas aulas. Enfim, uma infinidade de emoções para extrapolar! Risos e lágrimas de alegria ao mesmo tempo.
Realmente somos o que vivemos e posso garantir que nestas poucas horas que passamos juntas, foi como se estivéssemos nos arrumando para a festa de formatura.  
A euforia daquelas jovens no final do curso estava novamente presente, como se cinco décadas não tivessem transcorrido.
Recordando Vinícius de Moraes - "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida" .
Parabéns amigas pelos 50 anos de formatura no Instituto de Educação "Joaquim Ribeiro" - Rio Claro/SP

Santos, 12 de janeiro de 2020

Deixo aqui uma homenagem especial às amigas que já partiram: Cristina Nobreza, Bia Moreira, Marli Pacheco, Cecília Chinelato, Maristela Fernandes e Vanuza Leal.