segunda-feira, 28 de junho de 2021

SEUS 80 ANOS

 




Conhecemo-nos há muitos anos e sua simpatia, dinamismo,  conversa fácil, bem como suas muitas histórias vividas, me cativaram desde sempre.

Admirava sua alegria de viver bem como sua preocupação com todos, inclusive comigo que nem da família era.

Embora não nos víssemos com frequência conversávamos por telefone praticamente todos os domingos pela manhã. 

Por volta das 10h o telefone tocava e eu já sabia que ouviria sua voz  desejando-me um bom dia e uma boa semana. Dificilmente ela falhava nas ligações. Em um domingo que isto aconteceu resolvi tomar a iniciativa e ligar para cumprimentá-la mas acabei provocando um pequeno constrangimento, pois se encontrava assistindo uma missa e se atrapalhou para desligar o celular.

Pessoa de coração amoroso e também de pulso firme que soube criar muito bem os filhos mesmo  tendo passado por momentos difíceis.

Gostava muito de ouvir suas histórias como as da época em que jovem ainda, tinha aulas com Mário Lago no Teatro Municipal de São Paulo chegando a conviver com alguns artistas que ficaram famosos posteriormente.

Quando completou 80 anos veio comemorá-los fazendo-me uma visita. Apesar de terem sido poucos dias pudemos passear bastante e visitarmos lugares dos quais dizia sentir muitas saudades como a Ilha Porchat e a cidade de São Vicente. Ficou emocionada ao pisar na areia da praia e sentir as ondinhas molharem seus pés, pois não fazia isso há anos.

Lembro-me como rimos assistindo juntamente com uma amiga  a peça "Trair e coçar é só começar", no Teatro Municipal de Santos. Ela estava feliz.

Numa véspera do Dia de São Pedro, há três anos, ela partiu.

Por um bom tempo eu ainda ficava esperando inutilmente o toque do telefone nas manhãs de domingo quando sua voz tão conhecida me desejava uma feliz semana.

Cumpriu com louvor e distinção sua passagem aqui na Terra e com certeza entrou para sempre na história de vida de quem a conheceu.

Esteja em paz dona Ida e fique com Deus, como sempre me dizia!

 

Santos, 28 de junho de 2021.

Para dona Ida Rossi.


segunda-feira, 14 de junho de 2021

A PAZ QUE O MAR ME TRAZ

 


Não tínhamos o hábito de viajar nas férias quando crianças mesmo porque meus pais possuíam uma casa comercial e nestes períodos éramos "escalados" para auxiliar no balcão o dia todo.

Particularmente para a praia creio que vim somente três vezes antes da idade adulta. 

A primeira foi quando eu e meu irmão tínhamos perto de 2 e 3 anos respectivamente.  A segunda foi aos 14 anos quando um casal vizinho convidou-me para acompanhá-los por uns dias juntamente com sua sobrinha Lucinda que era minha amiga. 

A terceira e última foi novamente com a família mas foi meio atribulada.  Nesta ocasião eu deveria ter em torno de 16 anos. Viemos de carro e meu pai perdeu-se ao passar por São Paulo. Se não me engano isso ocorreu tanto na ida como na volta da viagem.   Foram poucos dias mas ao menos respiramos o ar praiano apesar de alguns problemas como peles queimadas e ânimos exaltados.

Sem dúvida a segunda viagem foi a que mais aproveitei pois passeamos bastante por São Vicente e principalmente Santos que me cativou muito já naquela época.  Adorei o jardim, mesinhas na calçada, descontração, alegria. Fiquei encantada com o trecho formado pela Av. D. Ana Costa e suas palmeiras imperiais,  com a orla e seus hotéis na região principalmente o tradicional e ainda existente Hotel Atlântico.

O tempo passou e anos mais tarde já como professora as bonitas lembranças da cidade despertaram saudades. Acompanhada dos sobrinhos pequenos resolvi passar um período das férias escolares em Santos. Este fato se repetiu por alguns anos e sempre ficávamos em hotéis na região do Gonzaga. Foi uma época que deixou doces recordações.

Anos mais tarde perto da aposentadoria e considerando que familiares mais próximos já não moravam mais na minha cidade natal, lembrei-me da beleza e alegria de Santos, e claro, de sua grande faixa de areia e praias que possibilitam caminhadas que gosto muito de fazer.

Decidi assim mudar para esta cidade e pouco tempo depois minha irmã também fez  mesmo.

Fui muito bem recebida e me adaptei instantaneamente apesar das saudades da Cidade Azul e das pessoas que por lá deixei. Sempre que possível retorno para visitar minha Rio Claro. 

E assim já se foram quase 18 anos nos quais todos os dias agradeço a possibilidade de andar neste belo e sempre bem cuidado jardim,  fazer caminhadas na areia, observar a alegria que há na cidade o ano todo e curtir muito a paz que o mar me traz!

Gratidão sempre!

 

Santos, 14 de junho de 2021


Para Eunice Nedog Leme pela sugestão do tema.










segunda-feira, 7 de junho de 2021

A VISEIRA PINK


Não tinha por hábito frequentar com assiduidade consultórios médicos, mesmo porque não sentia necessidade alguma.

Com os passar das décadas e o desgaste natural das peças internas, viu-se obrigada a adotar tal hábito a fim de preservar a saúde e qualidade de vida.

Recentemente devido a problemas na visão procurou um  oftalmologista.  Recebeu o diagnóstico da necessidade de uma cirurgia que nos dias atuais é até relativamente simples desde que se respeitem os cuidados pós-operatórios exigidos.

Sem outra opção ela partiu para os preparativos  essenciais para tal evento.

Na data marcada a cirurgia foi efetuada com pleno sucesso. Voltou para casa com todas as orientações sobre os cuidados a serem tomados no período de recuperação.

Disciplinada que sempre foi, seguiu à risca tais orientações até que ...

Até que se deparou com uma necessidade: lavar os cabelos sem que a água e muito menos shampoo chegassem até o olho operado.

Poderia ir a um salão de beleza ou pedir ajuda a outra pessoa, mas optou por ajeitar-se sozinha.

Pensando nas estratégias a serem adotadas para preservar o olho, rapidamente lembrou-se de uma viseira pink que ganhou há tempos sem nunca usá-la já que tem uma cor chamativa demais.

Buscando ainda uma maneira de tornar mais confortável sua posição durante  o processo, colocou um banquinho de plástico dentro do  box.  Desta forma ficaria sentada e poderia inclinar a cabeça mais para trás de maneira a tornar a lavagem mais segura e obviamente usando o chuveirinho.

Esquema todo pronto e eis que ela olha para o tal banco e uma séria preocupação surge. 

Ele era de plástico e dobrável fechando-se justamente por um encaixe bem no centro do assento.  Cismou que sentar-se sobre ele poderia ser um risco caso esta parte articulada bem no centro resolvesse abrir mais ou fechar-se e isso com certeza lhe provocaria um grande desconforto.

Com tal pensamento resolveu dispensar o tal banquinho perigoso e usando apenas a viseira iniciou a tarefa necessária.

Para sua alegria deu tudo certo e o acessório preso em sua cabeça realmente impediu que a água chegasse aos seus olhos.

Satisfeita e feliz com o resultado de sua estratégia tomou tranquilamente seu banho e lavou os cabelos usando a chamativa viseira pink na qual se lia ironicamente em grandes letras a palavra Motorzão.  

Quem dera!!!

 

Santos, 07 de junho de 2021.