sábado, 30 de julho de 2011

O GOLPE BAIXO

O movimento era grande na agência bancária e ele ainda tinha outros afazeres a cumprir naquela tarde.
Com um olho no relógio e outro na fila que se arrastava a sua frente, começou a calcular o tempo que ainda restava para chegar ao escritório de seu cliente. Foi com satisfação que viu sua vez chegar e ser atendido prontamente pelo caixa. Transação efetuada, documentos ainda em mãos, saiu atabalhoadamente do banco.
Caminhava pela calçada ainda guardando seus papéis enquanto mantinha a pasta executiva aberta apoiada contra seu peito e amparada na palma da mão.  Isto prejudicava sua visão para baixo e próxima de si.
Pela mesma calçada porem em sentido contrário, vinha uma anãzinha em passos acelerados e com os olhos voltados para o relógio pois se dirigia ao banco que estava prestes a ser fechado.
Numa mesma rota de direção e sentidos inversos, a colisão entre ambos foi inevitável.
Com o baque violento de seu corpo com as pernas do homem, a anã para não cair, agarrou-se firmemente a elas dando-lhes um forte abraço e assim permanecendo por um tempo.
O homem que até então não enxergava o que acontecia, sentiu aquele travamento nas pernas e isto lhe tirou o equilíbrio.
Para desvencilhar-se do que o retinha, tentou dar chutes no ar o que o levou a perder mais ainda o pouco equilíbrio que lhe restava.
Em segundos os dois corpos agarrados desabaram no chão: pasta executiva e papéis para um lado e o homem com a mulher ainda agarrada em suas pernas, para outro lado.
Instantaneamente formou-se um círculo de curiosos transeuntes que com olhares atônitos pensaram que agora além da chamada “saidinha de banco”, outra estratégia de roubo começara a ser usada: o golpe baixo.

Campinas, 27 de julho de 2011

História vivenciada por um amigo há muitos anos. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

PERDIDO NA CURVA

Não era dia de festa mas a alegria e ansiedade eram evidentes.
Há muito tempo as crianças apoiadas pela mãe, queriam visitar o zoológico da cidade vizinha, onde também havia um grande lago para pescarem e andarem de barquinhos.
Avesso a passeios nos finais de semana o pai havia finalmente concordado em viajarem no domingo bem cedinho.
Os pequenos levantaram-se antes dos pais e já vestidos, ficaram esperando somente o café para se dirigirem ao carro.  A euforia era imensa. 
Café tomado e lanches preparados, todos se acomodam na velha Chevrolet Veraneio 1969.
No banco de trás, as 3 crianças satisfeitas da vida, já combinavam as brincadeiras que fariam durante o passeio.
A distância a ser percorrida não era muito grande mas a estrada apresentava várias curvas bem acentuadas e por isso mesmo exigia cautela dos motoristas.
            A garota ia sentada entre os dois irmãos justamente para evitar algum desentendimento entre ambos, fato meio comum.
Poucos minutos de estrada e os pais já estavam chamando a atenção dos pequenos que não paravam quietos no lugar, mesmo porque não havia ainda a exigência de cinto de segurança para os passageiros.
A certa altura o filho caçula começou a cantarolar uma música cuja palavra final desencadeava uma nova frase e assim sucessivamente, tornando a música extremamente repetitiva, mas do agrado da molecada.  Os irmãos o acompanhavam na cantoria e os pais no banco da frente, resignados com o barulho, começaram a conversar outros assuntos.
Numa curva mais acentuada, o filho caçula foi literalmente espremido pelos corpos dos irmãos que não se seguraram e foram deslocados na direção do garoto.  Em vez de queixa, o fato resultou numa brincadeira adotada pelos três. 
A cada curva da estrada, fosse para a direita ou para a esquerda, as crianças deixavam seus corpos soltos e pressionavam o garoto que estivesse na ponta.
As risadas eram altas e os pais distraídos, não observaram o motivo de tanta risada.
Aconteceu porem que numa dessas curvas, o menino mais velho esbarrou o cotovelo no trinco da porta que se abriu de imediato, forçada pelo movimento que o carro vazia no momento. 
Ato contínuo, o corpo do garoto foi projetado para fora do veículo, rolando no asfalto.   Como na sequência havia mais uma curva para o outro lado, a porta fechou novamente fazendo um barulho forte.
Ao ouvir esse som a mãe ainda sem olhar para trás, questionou o motivo daquele barulho.
Espantada ouviu a filha dizer com a maior naturalidade que o irmão havia caído do carro.
Pai e mãe instantaneamente olharam para trás e pelo vidro traseiro viram apavorados o garoto já um pouco distante, correndo em plena pista, puxando um pouco a perna esquerda e gesticulando muito.
Uma brusca virada no volante do carro seguida de uma brecada violenta fez todo mundo gritar enquanto o carro parava no acostamento.
O pai desceu rapidamente e foi correndo em direção ao garoto, gritando para que fosse para o acostamento.  Por sorte naquele momento nenhum outro veículo estava transitando pela estrada.
Quando se encontraram, o pai muito assustado abraçou o menino e ouviu dele uma solene bronca: 
- Ia me deixar para trás? Não sei chegar ao zoológico sozinho!
Com os ânimos acalmados e por sorte apenas um pequeno esfolado no joelho do menino, a família pode seguir viagem não sem antes acontecer um rodízio de lugares dentro do automóvel: como uma sentinela, a mãe passou para o banco de trás acomodando-se entre os meninos e decretando o final das brincadeiras.

Santos, 23 de maio de 2011 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DESCULPE, FOI ENGANO !

Era inverno.
Saiu de seu trabalho mais tarde do que previa e preocupou-se com a escuridão da avenida embora fosse ainda início da noite.
O pouco movimento da rua aumentava ainda mais a sensação de insegurança.
De longe avistou seu carro estacionado sob uma árvore e próximo a ele, dois rapazes conversavam.  Talvez ela andasse assistindo muitos filmes policiais mas o fato é que o cenário estimulou sua criatividade. Já imaginou um assalto acontecendo.
Em passos rápidos e olhando disfarçadamente para os garotos, dirigiu-se ao carro e acessou o dispositivo para desligar o alarme. Pretendia entrar rapidamente no carro e sair de um arranque só.
Ainda olhando de soslaio para os dois, aproximou-se da porta e num ímpeto abriu-a. Já havia colocado parte do corpo dentro do carro quando de repente ergueu os olhos e viu uma jovem loira que sentada no banco do carona, mexia em um celular.
Como já estava assustada com seus próprios pensamentos, ao ver a estranha dentro do seu  carro, não pode evitar um grito.  A garota que até então estava distraída, ergueu os olhos e ao topar com aquela mulher já dentro do carro, recuou para o canto e começou a gritar por socorro.
Por instantes as duas gritaram juntas, uma  assustada com a outra.
Foi aí que  ela,  praticamente já sentada no banco do motorista, observou objetos estranhos dentro do carro.  Olhou pelo vidro e viu que estacionado logo à frente havia outro veículo  igual ao seu com um detalhe assaz importante – a placa era exatamente a de seu automóvel.
Havia entrado em carro errado. 
Saiu rapidamente para a calçada ainda ouvindo a gritaria da moça e constatou que o veículo no qual havia entrado era exatamente igual ao seu mas decididamente NÃO era o seu.
Olhou para a jovem loira procurando nela um botão off para ver se a fazia parar de gritar mas não teve sucesso. Conseguiu apenas balbuciar um - desculpe, foi engano!.
Ouvindo ainda as gargalhadas dos rapazes, entrou enfim no carro certo e partiu sem nem olhar para trás.
O receio de ser assaltada fez com que ela própria fosse confundida com assaltante! 
Agora não faltava mais nada para seu currículo de micos!!!

Santos, 4 de julho de 2011 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A ESTRADA DESERTA

Início de carreira sempre apresenta um certo sacrifício e muitos desafios.
Não foi diferente com as três jovens recém-formadas professoras.  
Moradoras em uma mesma cidade, iniciaram a vida profissional numa escola do município vizinho.  Foi quando se conheceram e a amizade teve início.
As aulas aconteciam no período noturno e como não havia transporte público entre as duas cidades nesse horário, a única que já era motorista e tinha seu próprio carro, dava carona para as amigas todas as noites e assim dividiam as despesas das viagens.
O percurso por estrada não era superior a 30 Km mas havia um trecho onde o movimento pequeno tornava a pista praticamente deserta. Comentários existiam de que nesse trecho, às vezes, se ouviam barulhos de tiros e que marginais se escondiam nas matas próximas à estrada. 
Apesar das jovens considerarem estes fatos como lendas contadas pelos moradores simples da região, não escondiam um pouco de temor quando transitavam pelo local.
Uma noite já próximo ao final da última aula, as professoras foram avisadas de que um grupo de detentos havia fugido do presídio num município vizinho.
A princípio não se preocuparam uma vez que o risco de se depararem com tais foragidos era mínimo. Encerradas as aulas, as três mulheres iniciaram a volta para seus lares.
A viagem feita sempre tão descontraída desta vez foi acompanhada de apreensão e todas vinham observando com atenção, o canavial que margeava a pista.
Ao se aproximarem do trecho menos movimentado, uma das professoras em tom de brincadeira, resolveu abaixar-se no banco para, segundo ela, evitar alguma bala perdida. A outra amiga , rindo, resolveu imitá-la.
A motorista nesse momento vendo-se como único alvo dentro do carro apavorou-se e para desespero das amigas, inesperadamente escorregou no banco também mantendo as mãos no volante.
No instante seguinte o carro fez uma manobra brusca para um lado, rodopiou e em meio a uma gritaria parou atravessado no acostamento com a parte traseira já no meio do canavial.  
Nos segundos que se seguiram, constatado que todas estavam bem, respiraram aliviadas até que uma das jovens, apavorada por estarem ali paradas, gritou para a amiga colocar urgentemente o carro em movimento e saírem dali.
Ordem dada, ordem cumprida e num arranque de fazer inveja a Barrichello, cantando pneus e levantando muita poeira, em fração de segundos o carro já estava novamente na estrada.    
Controle do veículo retomado e passado o susto, concluíram que era melhor permanecerem sentadinhas em seus lugares, sendo ou não alvos móveis para supostos atiradores.
A viagem terminou sem outros imprevistos e nenhum marginal saiu da mata mas em contrapartida, elas sim, haviam entrado na mata com carro e tudo e só não atropelaram os bandidos porque eles com certeza estavam a quilômetros dali.

Santos, 10 de junho de 2011



Uma homenagem à Jade, Damaris e Ana Maria num período muito divertido pelos lados de Iracemápolis.