segunda-feira, 30 de março de 2015

"FUI BUSCAR LÃ E VOLTEI TOSQUIADA"




Em recente viagem de ônibus percebi que era uma das poucas pessoas que usava o cinto de segurança.
Pensei  - Caramba, ainda continuo bem Caxias!
De imediato lembrei-me de um episódio em que passei o maior vexame por causa deste acessório importante.
Íamos pela estrada rumo à Itirapina (SP) onde faríamos uma reunião na escola, com todo o corpo docente.
No carro já um tanto velho (um modelo dos primeiros Gol, antes do popular bolinha), cinco mulheres matraqueavam ao mesmo tempo.  
Ao passarmos pelo trecho de serra, algumas brincaram com a motorista sobre sua capacidade ao volante.
Resolvi então fazer uma graça que quase me colocou em desgraça!
Dizendo estar preocupada, resolvi colocar o cinto de segurança.
Naquela época não havia ainda a obrigatoriedade de seu uso.
Eu estava sentada no banco traseiro do carro, entre duas amigas.
Falei e agi; de imediato  já estava protegida do risco de ser lançada para fora do veículo, serra abaixo, caso a motorista fizesse alguma barbeiragem.
Finda a viagem, o carro foi estacionado bem em frente à escola faltando apenas poucos segundos para o início da reunião.
Sendo assim, no momento em que o veículo parou, todas as ocupantes saíram rapidamente e se dirigiram para o prédio.
Todas não!
Eu fiquei sentadinha onde estava. 
Eu e a dona do carro, que em pé na calçada, esperava só minha saída para travar o veículo. Ela olhava e não entendia o motivo de minha demora, enquanto me via numa verdadeira luta com o cinto.
Aconteceu o que eu não esperava.  O tal acessório não me soltava.
Ao fazer a brincadeira lá na serra, não notei que as extremidades metálicas do cinto estavam enferrujadas.  Ao ser travado, a ferrugem provocou um problema no mecanismo que simplesmente não permitia que ele fosse destravado. 
Em outras palavras, eu estava literalmente presa ao banco sem conseguir me soltar.
Já um tanto nervosa devido ao horário, pus-me a digladiar com aquela faixa preta que apertava minha barriga.
A amiga na calçada alertou as outras, que voltaram para fazer o meu resgate.
Uma ajoelhou-se no banco ao meu lado, tentando sem sucesso me soltar.
Outra sugeriu que tentasse escorregar por baixo do cinto.  Tentei algumas vezes, mas o cinto estava super apertado e eu não conseguia deixá-lo mais folgado.
Após a terceira tentativa para escorregar, resolvi desistir. Achei que iria acabar enforcada pela barriga.
Claro que a estas alturas, as gargalhadas eram muitas.
Dando muita risada nós perdíamos a força e o corpo mole não permitia que déssemos os safanões necessários naquele acessório demoníaco.
Depois de um tempo, já conformada com meu destino, perguntei para a dona do carro quanto ela me cobraria de aluguel, já que tudo indicava que seu veículo seria meu novo lar.
Foi quando o diretor da escola surgiu no portão trazendo uma tesoura nas mãos.  Afinal toda aquela confusão já havia atrasado demais o início da tal reunião.
Nesse momento, uma amiga que já estava ajoelhada no chão do carro (eu pensei que ela fosse orar) deu um imenso tranco na trava do cinto conseguindo abri-la.
Eu havia acabado de ser libertada de meu cativeiro.
Como diz o ditado popular - "Fui buscar lã e acabei tosquiada"!!!!
A partir deste episódio, toda vez que tenho que colocar o bendito cinto, antes de mais nada, vejo se não está enferrujado.
Como diria minha mãe:  "Bita véia, tô fora!!!"

Rio Claro, 28 de março de 2015.
(Casa da Alice, no dia do casamento de Janaína Schmidt Traina).


Para as amigas Lázara (a que mais ria), Graça e Sonia. Não me lembro quem era a  quinta mulher no carro.

sexta-feira, 20 de março de 2015

APUROS COM A MARIPOSA




Um comentário feito numa rede social a respeito de uma mariposa, fez passar um filme em minha cabeça.
Não sou do tipo que morre de medo de insetos ou outros animais pequenos, haja vista que sou formada em Biologia.
Porém, não fico nem um pouco tranquila quando por perto algum inseto alado está fazendo acrobacias aéreas, nem sempre com senso de direção.
Basta pensar no voo de uma barata para me arrepiar e me encolher toda. Ela correndo no chão é uma situação, agora, ela voando como doida, aí é gritaria na certa.
Aliás já me disseram que eu não mato as baratas, mas que na verdade elas morrem sozinhas de enfarte fulminante tamanho o susto que levam com meus gritos.  Eu grito e bato, grito e bato, até o final da batalha. Talvez seja intriga da oposição, mas que elas morrem, morrem mesmo.
Em função dos trabalhos práticos de coletas de mosquinhas nas matas durante o curso de pós-graduação, vivenciei experiências que já relatei em outros contos, como a visita que recebi de um enorme gafanhoto passeando por dentro de minha calça jeans. 
No desespero ao senti-lo subindo por minha perna e pensando que pudesse ser escorpião ou até mesmo aranha, avisei minha amiga de coleta e ela própria acabou tirando minhas calças em plena mata, já que eu mesma estava constrangida em fazer isso no meio dos eucaliptos do horto florestal onde estávamos. 
Por sorte era um inofensivo gafanhoto. Pense em um gafanhoto grande, bem grande.  Já pensou?  Pois bem, aquele era maior ainda.  O maior que vi na vida.
 O coitado mais assustado do  que eu, havia enroscado suas patinhas na costura interna da calça. Assim que se livrou, saiu num voo estabanado a toda velocidade e sem tempo de dizer adeus, me deixando ali parada com as calças arriadas, mas aliviada.
A montagem do insetário (com mais de 300 exemplares)  proporcionou também muitos momentos de sustos seguidos de muitas gargalhadas, como a verdadeira luta que foi para coletar as ditas baratas (sempre elas) intactas, sem quebrar antenas ou patinhas. 
O caso da mariposa que lembrei acima, ocorreu quando já exercia o magistério.
Era uma noite muito quente e havia chovido na véspera. 
As luzes fluorescentes das salas de aula eram chamarizes para os insetos que entravam pelas janelas e se debatiam nas lâmpadas.  Eram na maioria besouros e mariposas pequenas.
Até que...  Até que uma enorme mariposa de corpo negro com muitas escamas (parecem pelos) e asas com desenhos amarelos e pretos, entrou toda estabanada dando rasantes sobre as cabeças dos alunos. 
Era classe de adultos de um curso técnico de eletrônica, formada na sua totalidade por homens.
Eu estava bem no meio de uma explanação sobre velocidade, espaço e tempo, com vários esquemas feitos na lousa. Movimentava-me de um lado para outro na frente da classe explicando os tais esquemas.
Conforme a mariposa se aproximava de algum aluno, ele somente dava um safanão com o caderno e continuava a olhar para a frente, na maior calma.
Com certeza eu era a única que estava preocupada, para não dizer apavorada, com as acrobacias da dita cuja.  Continuei a explanação mas nem piscava, só de olho na maldita.
Até que finalmente alguém a acertou de jeito e ela caiu no chão, no canto da sala e bem junto à parede da lousa.   E lá ela ficou quietinha, para minha alegria. 
Continuei a caminhar de um lado para o outro concluindo as explicações e numa das paradas, não percebi que meu pé esquerdo ficou muito próximo da mariposa.  A calça comprida era preta e de tecido fino; tinha a boca um pouco larga (era moda na época) e quase tocava o chão. 
De repente senti umas patinhas roçando em minha coxa.  
Gelei.
Olhei para o canto onde estava a tal mariposa e para meu desespero vi que ela havia sumido. Conclui no ato que ela havia subido por dentro da calça.
Procurei ficar impassível diante dos alunos.
Sem parar de falar, embora minha vontade fosse gritar e sair correndo, segurei-a por cima da calça e apertei o máximo que pude. Soltei logo em seguida e vi o corpo dela caindo ao lado de meu pé esquerdo. 
Afastei-me rápido e respirei aliviada. Não a havia matado mas com certeza ela não voaria tão cedo.
Controlei-me tanto que se algum aluno percebeu o que houve, não comentou nada, nem os que estava nas primeiras carteiras.
Assim que terminou a aula fui voando ao banheiro. Queria lavar a roupa por dentro pois estava enojada.  O tecido preto no avesso, brilhava com tantas escamas que haviam saído do corpo da mariposa.
Como eu disse no início, não morro de medo de insetos, principalmente daqueles que estão bem longe de mim!

Santos, 20 de março de 2015  

Saudades e gostosas lembranças de um ambiente tão amigo e acolhedor que encontrei na Organização Escolar Alem/Rio Claro.

sexta-feira, 13 de março de 2015

ERA UMA VEZ UMA SOMBRINHA








Uma pequena sombrinha esquecida do lado de fora do apartamento, se escafedeu durante a noite. É estranho dizer isso, mas era uma sombrinha de estimação!
Na verdade ela foi levada inadvertidamente por um funcionário que recolhia o lixo reciclável. Apesar de ainda estar em perfeito estado,  ela foi confundida com lixo e teve seu fim antecipado. 
DESAPEGA! 
Foi a divertida expressão que ouvi ao lamentar o ocorrido.
De imediato esta palavra remete a uma propaganda que circulou recentemente na TV, onde objetos já fora de uso são vendidos para desocuparem espaço.
Ao longo dos anos, por necessidade ou puro apego, vamos guardando coisas que acabam incorporadas ao nosso cotidiano.  Isso pode ser prazeroso, mas também pode causar certos transtornos se tais materiais já não são mais necessários.
Esta ação, desapegar, para mim em especial é uma ação que executo com certa dificuldade, mesmo em se tratando apenas de objetos materiais.
Isto acontece porque geralmente eles vêm acompanhados de lembranças que contam muitas histórias e particularmente sou "chegadinha" em histórias.
Agora mesmo estou diante de alguns móveis, ainda muito úteis e bons, que me transportam diretamente à infância contando divertidas cenas  que os envolveram.
Nos tempos atuais pela própria falta de espaço, não há como manter coisas que já não nos interessam.  A praticidade da vida moderna não permite isso.
Em uma das mudanças de residência, ante o desafio de sair de uma casa com muitas dependências para um pequeno apartamento, pude constatar que temos grande capacidade de adaptação que nos permite viver bem, com poucas coisas.
A felicidade, o sentir-se bem, não se encontram nas coisas que nos cercam, mas sim, em nosso próprio interior.
Apegos e desapegos se sucedem em nossa vida e assim, embora de maneira não prevista, tive que me desapegar daquele pequeno objeto, mas com certeza suas histórias permanecerão.
E foi assim que uma simples sombrinha, que mesmo não sendo Policarpo Quaresma, teve também seu triste fim.



Santos, 13 de março de 2015

domingo, 1 de março de 2015

TUDO ACONTECE COM ELE




Se algumas pessoas têm a capacidade nata de se envolver em trapalhadas, ele com certeza é uma delas.  A expressão "Tudo acontece com ele" -  é perfeitamente adequada neste caso.
Alegre e descontraído, sempre se diverte com seus próprios micos.
Desde pequeno se contam histórias engraçadas nas quais foi o protagonista.
Quando um grupo de amigos se reúne e ele está presente, sempre há novos casos a serem contados e aí as gargalhadas são garantidas.
Lembro de um caso antigo ocorrido no trânsito na região central da cidade.
Com o semáforo fechado, ele aguardava o momento de colocar a velha Kombi do amigo, em movimento novamente.  Assim que a luz verde acendeu, num gesto um tanto afoito, em vez de engatar a primeira marcha para sair, ele simplesmente conseguiu arrancar o câmbio de seu encaixe.
Nervoso, tentou sem sucesso, encaixar a barra do câmbio em seu devido lugar, socando repetidamente a barra de ferro no buraco que ficara.
 Como o veículo bloqueava a passagem, uma grande fila de carros formou-se atrás da Kombi.
Teve então início um imenso e ensurdecedor buzinaço.
Muito irritado com toda aquela barulheira, ele não teve dúvidas:  pôs o braço esquerdo totalmente para fora da janela e começou a brandir vigorosamente no ar, o que havia restado do câmbio.
Foi quando os demais motoristas entenderam o problema e improvisaram um desvio para liberar o trânsito.
Mais recentemente, sua distração provocou mais risos.
Resolveu almoçar em um restaurante que oferecia almoço por quilo.
Foi se deslocando pelos balcões de frios e quentes, recolhendo os alimentos que desejava.
Na sequência, com a bandeja nas mãos,  dirigiu-se em direção à balança para pesar o prato.
Eis que, para sua surpresa,  ao chegar a sua vez, o rapaz responsável avisou que não poderia pesar os alimentos naquelas condições.
Diante de sua expressão espantada e sem entender o motivo, o rapaz o alertou:
- O Sr. não pegou o prato. Colocou toda a comida diretamente na bandeja.
Constatou então atônito, que havia esquecido de colocar um prato sobre a bandeja, para somente depois pegar os alimentos.
Resignado foi buscar o prato, salvou uma pequena parte da comida que estava por cima e entrou novamente na fila da pesagem.
Em outra ocasião, como fã incondicional de esporte, fazia de modo inflamado a locução de um acirrado jogo de basquete para uma radio da cidade.
Eis que nos segundos finais da partida, quando um último lance de bola na cesta definiria o campeão do torneio, sua empolgação foi tão grande que ele acabou por quebrar a cadeira onde se sentava.   Despencou com tudo no chão, sem ter tempo de ver se a bola havia entrado ou não na cesta.
Silêncio total e repentino na transmissão do jogo.
Quem acompanhava a partida pelo radio ficou sem entender nada, pois o aparelho emudeceu.  Os ouvintes ficaram a "ver, ou melhor, a ouvir navios" perdendo os instantes finais de uma vibrante partida. 
                 Com certeza muitos destes torcedores, neste momento, angustiados para saberem o resultado, socaram seus aparelhos imaginando ser problema de seu próprio radio. Depois de ouvir o jogo todo, acabaram sem saber quem foi o vencedor.
Em outro jogo, também de basquete, agora atuando apenas como torcedor, e bem fanático, acabou novamente perdendo  os segundos finais da partida.
No auge da empolgação, pulando e gritando muito, seu pivô dentário e frontal, não resistiu a tanta euforia e voou pelos ares.   
               Seu grito de guerra foi interrompido no meio, enquanto ele estarrecido via a pequena peça dar cambalhotas no ar e se precipitar três degraus abaixo na arquibancada, entre os pés do povo que sapateava comemorando a bela partida.
Desesperado e pedindo para que não pisassem em seu dente, acabou sem saber na hora, quem venceu a partida. Teve que perguntar o resultado aos amigos. Mesmo assim ficou satisfeito, pois recuperou seu pivô.
São alguns dos vários episódios protagonizados por alguém alegre, descontraído e desencanado,  que diverte os amigos e também muito se diverte, relembrando as trapalhadas nas quais se envolve com frequência, eu diria até, que com bastante frequência!

Santos, 01 de março de 2015

Ao Rubens, recordando somente uma pequena parte dos causos que tanto nos fez rir na praia.