Em recente viagem de ônibus percebi que era uma das poucas
pessoas que usava o cinto de segurança.
Pensei - Caramba, ainda continuo bem Caxias!
De imediato lembrei-me de um episódio em que passei o maior
vexame por causa deste acessório importante.
Íamos pela estrada rumo à Itirapina (SP) onde faríamos uma
reunião na escola, com todo o corpo docente.
No carro já um tanto velho (um modelo dos primeiros Gol,
antes do popular bolinha), cinco mulheres matraqueavam ao mesmo tempo.
Ao passarmos pelo trecho de serra, algumas brincaram com a
motorista sobre sua capacidade ao volante.
Resolvi então fazer uma graça que quase me colocou em
desgraça!
Dizendo estar preocupada, resolvi colocar o cinto de segurança.
Naquela época não havia ainda a obrigatoriedade de seu uso.
Eu estava sentada no banco traseiro do carro, entre duas
amigas.
Falei e agi; de imediato já estava protegida do risco de ser lançada
para fora do veículo, serra abaixo, caso a motorista fizesse alguma
barbeiragem.
Finda a viagem, o carro foi estacionado bem em frente à
escola faltando apenas poucos segundos para o início da reunião.
Sendo assim, no momento em que o veículo parou, todas as
ocupantes saíram rapidamente e se dirigiram para o prédio.
Todas não!
Eu fiquei sentadinha onde estava.
Eu e a dona do carro, que em pé na calçada, esperava só minha
saída para travar o veículo. Ela olhava e não entendia o motivo de minha
demora, enquanto me via numa verdadeira luta com o cinto.
Aconteceu o que eu não esperava. O tal acessório não me soltava.
Ao fazer a brincadeira lá na serra, não notei que as
extremidades metálicas do cinto estavam enferrujadas. Ao ser travado, a ferrugem provocou um
problema no mecanismo que simplesmente não permitia que ele fosse
destravado.
Em outras palavras, eu estava literalmente presa ao banco sem
conseguir me soltar.
Já um tanto nervosa devido ao horário, pus-me a digladiar com
aquela faixa preta que apertava minha barriga.
A amiga na calçada alertou as outras, que voltaram para fazer
o meu resgate.
Uma ajoelhou-se no banco ao meu lado, tentando sem sucesso me
soltar.
Outra sugeriu que tentasse escorregar por baixo do
cinto. Tentei algumas vezes, mas o cinto
estava super apertado e eu não conseguia deixá-lo mais folgado.
Após a terceira tentativa para escorregar, resolvi desistir.
Achei que iria acabar enforcada pela barriga.
Claro que a estas alturas, as gargalhadas eram muitas.
Dando muita risada nós perdíamos a força e o corpo mole não
permitia que déssemos os safanões necessários naquele acessório demoníaco.
Depois de um tempo, já conformada com meu destino, perguntei
para a dona do carro quanto ela me cobraria de aluguel, já que tudo indicava
que seu veículo seria meu novo lar.
Foi quando o diretor da escola surgiu no portão trazendo uma
tesoura nas mãos. Afinal toda aquela
confusão já havia atrasado demais o início da tal reunião.
Nesse momento, uma amiga que já estava ajoelhada no chão do
carro (eu pensei que ela fosse orar) deu um imenso tranco na trava do cinto
conseguindo abri-la.
Eu havia acabado de ser libertada de meu cativeiro.
Como diz o ditado popular - "Fui buscar lã e acabei
tosquiada"!!!!
A partir deste episódio, toda vez que tenho que colocar o
bendito cinto, antes de mais nada, vejo se não está enferrujado.
Como diria minha mãe:
"Bita véia, tô fora!!!"
Rio Claro, 28 de março de 2015.
(Casa da Alice, no dia do casamento de Janaína Schmidt Traina).
Para as amigas Lázara
(a que mais ria), Graça e Sonia. Não me lembro quem era a quinta mulher no carro.