Uma notícia triste vinda de longe transportou
de imediato meus pensamentos para uma época distante, mas ainda muito viva em
minha memória.
Nos fins dos anos 50 eu era a única menina da
vizinhança e as brincadeiras de rua eram todas na companhia dos meninos. No começo da noite e finais de semana brincávamos
com carrinhos de rolimã, empinávamos pipas, fazíamos guerrinha de tampinhas de
garrafas com a turma da rua 3, corríamos nos pega-pega e às vezes eu até jogava
futebol (era sempre a goleira e o gol
era a porta de aço de um casa comercial).
Foi quando mudou-se perto de casa uma garota loirinha de nome Lucinda,
que tinha idade próxima à minha. Fiquei
maravilhada. Afinal teria uma
companheira para brincadeiras.
Não estudávamos na mesma escola, mas isso não
foi empecilho para ficarmos logo amigas e passarmos a frequentar uma a casa da
outra. Ela morava na ocasião com seus
tios que tinham um comércio de vestidos de noivas e também confeccionavam
flores em tecidos. Para mim era uma
festa ver as funcionárias montando aquelas flores de pano e na época
carnavalesca elaborarem os adereços para as escolas de samba da cidade.
Acabei aprendendo um pouco a mexer com isso e
nas ocasiões em que o serviço apertava, lá estávamos nós ajudando na oficina.
Era mais brincadeira que trabalho mesmo.
Tínhamos então por volta de 8 a 9 anos de idade.
Foi
com ela que comecei a frequentar um programa dominical dirigido totalmente às
crianças, na antiga Rádio PRF2 da
cidade.
Era o chamado Programa da Tia Joaninha. A apresentadora, a Sra. Joana Batista
Epiphânio, promovia uma espécie de seleção de calouros mirins, onde toda
criança que assim desejasse, poderia cantar uma música para um auditório que
ficava lotado.
A expectativa e torcida da plateia formada
por muitas crianças e seus familiares, eram contagiantes. Eu fazia parte da torcida de Lucinda que diga-se
de passagem, cantava muito bem mesmo músicas difíceis, não adequadas às vozes
infantis. Lembro-me bem do sucesso que
ela fez ao cantar "Se acaso você chegasse" *.
Nos carnavais sua tia inventava e nominava belas
fantasias para a sobrinha ir nas matinês. A última que lembro foi a Rainha da
Lua.
Numa ocasião por um problema familiar, eu não
iria na matinê. A tia, D. Rizolina, fez então às pressas uma fantasia para que eu
pudesse acompanhar sua sobrinha. Lá fui eu de última hora vestida de Colombina.
Nos levaram até no tradicional fotógrafo
Copriva para registrar o momento.
Creio que D. Rizo nunca soube o quanto fez
minha mãe feliz com este gesto!
Já na adolescência começamos a frequentar a mesma
escola e embora não estivéssemos na
mesma classe, íamos e voltávamos juntas para o Curso Normal (Magistério) no
tradicional Instituto de Educação "Joaquim Ribeiro".
Após este período nossas vidas mudaram e seguimos
caminhos diferentes. Aos poucos perdemos o contato.
Há pouco tempo e graças à tecnologia ela me
localizou numa rede social. Num piscar
de olhos toda aquela emoção vivenciada há tantos anos voltou à tona, assim como
as boas e belas lembranças.
Nesta semana infelizmente Lucinda nos deixou. Com ela se foi uma bela parte de minha
infância e adolescência.
Siga em paz amiga! Será sempre lembrada com muito amor e carinho!!!
Santos, 20 de julho de 2017.
Para Lucinda Fozzato Hebling, in memoriam!
* Musica: Se acaso você chegasse
Autoria: Lupicínio Rodrigues
* Musica: Se acaso você chegasse
Autoria: Lupicínio Rodrigues