A cada ano que passa, e já se vão várias décadas desta minha existência, mesmo sem planejar ou desejar, acabo fazendo comparações buscando analogias e diferenças em meu modo de pensar e me relacionar com o mundo, durante todo este tempo.
Observo alterações muitas vezes significativas.
Na infância e se estendendo até o início da fase adulta, prestes a entrar no mercado de trabalho, é inerente e esperado que todos tenhamos muitos objetivos a alcançar, sonhos a realizar, sempre buscando um crescimento pessoal e também sucesso na vida profissional.
Claro que estas realizações quando atingidas com resultados altamente positivos, trazem consigo na esteira, facilidades para aquisição de bens de um modo geral. Isto é perfeitamente compreensível.
Estamos, porém, presenciando atualmente uma verdadeira febre que costuma se chamar ostentação.
Pessoas ainda bem jovens que por um ou outro motivo conseguem se destacar dentre as demais (não entrarei no mérito deste fato), sentem uma necessidade enorme em exibir bens adquiridos, passeios caros, vida de luxo, numa ambição sem limites.
Nada contra. Cada um faz de sua vida o que lhe apraz, mas sinto uma vulnerabilidade enorme nesta tal ostentação, pois se deseja um objeto apenas para tê-lo, sem significado maior além da pura exibição.
Entretanto, voltando à análise de como enxerguei a vida nestes anos todos, observo que apesar de nunca ter sido consumista, o tempo me tornou mais seletiva ainda.
É a tal dicotomia: afeição e indiferença.
Não é qualquer fato ou coisa que me atraia ao ponto de desejá-la ardentemente.
Noto que as coisas que mais me falam à alma, mais tocam meus sentimentos, além é claro, das pessoas com as quais convivo, são objetos que carregam em si, uma parte de minha história de vida.
Assim é com uma mesa que está na família há muitos anos, uma jarra de porcelana, plantas que minha mãe cuidava com carinho, uma roupa que usei numa ocasião de plena felicidade, um local onde estive na companhia de pessoas que amo, um casa onde morei por anos e que me recorda momentos bons vividos em cada cantinho dela, assim como as pessoas que a compartilhavam.
Já me disseram, que coisas são coisas, assim como Chico César canta na música “De uns tempos para cá”. *
Claro, concordo que coisas são meramente coisas. Não é necessário ser discípula de Platão ou Sócrates para entender isso.
Reafirmo, entretanto, que aprendi através da vivência de décadas, que há coisas que são relevantes, justamente por nos trazerem lembranças boas, lembranças queridas que por si só, são excelentes companheiras.
Por estas eu tenho afeto, e me orgulho disso!
Santos, 27 de março de 2024
*Música: DE UNS TEMPOS PARA CÁ
Autor: Chico César
De uns tempos pra cá
Os móveis, a geladeira
O fogão, a enceradeira
A pia, o rodo, a pá
Coisas que eu quis comprar
Deu vontade de vender
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
O carro, a casa, o som
Tv, vídeo, livros, bom
O que em tese faz um lar
Admito eu quis comprar
Começo a me arrepender
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
De uns tempos pra cá
O pufe, a escrivaninha
Sabe a mesa da cozinha?
Lençóis, louça e o sofá
Não precisa se alterar
Pensei em me desfazer
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
Telefone, bicicleta
Minhas saídas mais secretas
'To pensando em deixar
Dê no que tiver que dar
Seu amor me basta ter
Pra ficar só com você
Isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar
Coisas são só coisas
Servem só pra tropeçar
Têm seu brilho no começo
Mas se viro pelo avesso
São fardo pra carregar