domingo, 29 de janeiro de 2012

APUROS SOB O MAR


A expectativa era grande afinal iriam atravessar o Canal da Mancha sob a água, dentro de um trem numa velocidade em torno de 300 Km/h.
Será que daria para observar o momento da submersão?
Será que daria alguma sensação claustrofóbica?
Será que lá embaixo seria bem silencioso?
Será...será..será...???
Muitos “serás” passavam por suas cabeças enquanto aguardavam o embarque na bela estação ferroviária londrina St. Pancras.
Chegado o momento tão aguardado o grupo todo, sempre arrastando suas malas, procura o número do vagão para a viagem com duração de 2 horas e quinze minutos.  Os horários são cumpridos à risca por lá.
Poltronas localizadas malas devidamente guardadas e todos a postos para a viagem ansiosamente aguardada.
Seguindo o horário programado, o trem de alta velocidade partira levando centenas de passageiros para Paris.
Em meio a toda essa empolgação ela começara a sentir certo desconforto abdominal logo após o embarque. Entretida com tanta novidade não dera muita importância para aquilo.
A paisagem londrina se distanciava e antes que todos percebessem, já estavam trafegando pelo túnel ferroviário submarino subterrâneo com seus 50,5 Km de extensão.
As acomodações, o atendimento e o conforto não permitiam que a viagem se tornasse cansativa e a despeito de não haver nenhuma paisagem desfilando pelas janelas do trem, só a ideia de se estar sob o mar já causava uma emoção à parte.
Foi aí que ela começara a ficar preocupada.
O desconforto que a princípio era abdominal passara a ser desconforto...intestinal.
A princípio ficara surpresa já que muito raramente passava por esse tipo de problema fora de casa ou de locais onde estivesse hospedada.  Tentara distrair-se com joguinhos no computador, mas sentindo que a situação só piorava, concluíra que o melhor a fazer era se deslocar até o banheiro do vagão e foi o que fez.
             Com o problema orgânico resolvido ela deparara-se com outro contratempo, mas agora de ordem técnica.  No pequeno espaço do banheiro apertava e mexia nos botões, válvulas e alavancas que via na tentativa de provocar a descarga no vaso sanitário. Tudo em vão.
Trancafiada no pequeno espaço há algum tempo e após várias tentativas, abrira a porta e aproveitando que um rapaz de seu grupo estava ali perto, pediu-lhe ajuda. Novas tentativas sem sucesso até que ele dera o caso por perdido e concluindo que a descarga deveria estar quebrada, voltara a sentar-se em seu lugar.
Ela ainda ficara mais um tempinho tentando resolver o problema até que também se dera por vencida e decidira sair do banheiro.
Foi quando topou de cara com três homens muito bem apessoados, já fazendo uma mini fila na porta do banheiro.  O primeiro dava até uns passinhos de dança e talvez cantasse mentalmente... ”ai, ai...assim você me mata” ...mesmo porque tal música era ouvida com constância por lá.
E agora, o que fazer?
Sair na maior tranquilidade e deixar que eles fossem digamos, surpreendidos???  
Ou evitar um grande constrangimento já que ela era a última a ter usado tal local???
Ainda segurando a maçaneta da porta para evitar que alguém entrasse, pensou rapidamente como se expressaria em inglês para avisar do problema técnico na descarga.  Claro que seu “rico” vocabulário shakespeariano não ajudou em nada e como a situação exigisse rapidez de comunicação, optara pela mímica onomatopaica, se é que isso existe.
Apontando o interior do banheiro pronunciara um sonoro CHUÁÁÁÁÁÁ ao mesmo tempo em que fazia um sinal de negativo com o polegar da mão direita.
Bingo!
Nem precisara repetir os gestos. A expressão de desespero no rosto do primeiro da fila, aquele que já dançava, indicava que havia entendido muito bem o que se passava e antes mesmo que ela soltasse a porta, partiu em desabalada carreira vagão adentro com certeza procurando outro banheiro para usar.
Os outros dois homens o seguiam, mas não com tanta pressa.
Antes que nova fila se formasse a sua frente correra também para sua poltrona, lá permanecendo quietinha.  No final da viagem veio, a saber, por outra pessoa do grupo que o problema estava resolvido.
Lembrando-se que acabara de atravessar o Canal da Mancha ela riu sozinha já que de certa forma havia contribuído para aumentar a tal mancha!!!!

Santos, 29 de janeiro de 2012. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

MICO ABENÇOADO

O planejamento para a viagem no final do ano começara há um bom tempo.
Documentos, roupas, malas, cartões pré-pagos e uma boa dose de ousadia já que o domínio das línguas estrangeiras não era lá essas coisas.
Claro que no final sempre acaba dando certo, mas às vezes, até chegar-se a esse ponto, alguns tropeços e muitas risadas sempre acontecem.
Já na primeira conexão em terras portuguesas houve o primeiro apuro.
O tempo entre o desembarque e embarque na nova aeronave era razoável mas sem grandes folgas. Seguindo as indicações constantes nas placas que encontravam pela frente, o grupo foi se deslocando por um corredor imenso, interminável e ficando cada vez mais desconfiado que algo estivesse errado.
Dito e feito!
No final do corredor, após terem arrastado malas seguramente por quase um quilômetro, perceberam que o portão de embarque que procuravam havia ficado para trás.  Mas onde estava a placa com o tal número do portão já que ninguém a vira?
Surpresa! 
Ao retornarem pelo mesmo caminho, novamente arrastando malas e carregando mochilas e casacos (a essas alturas já havia até dado calor), viram que num certo momento o corredor tinha uma bifurcação e a indicação do portão desejado estava lá, já na curva do corredor, ou seja, colocada fora do campo de visão de quem havia desembarcado e iria fazer conexão.  Quem sabe se tivessem olhos nas costas, não teriam passado reto por ela e nem fariam o primeiro “Cooper” da viagem?
Chegando ao destino final o que se previa que pudesse causar transtornos ocorreu na maior normalidade. Provavelmente o serviço de imigração olhando para aquela turma concluiu que não tinham a menor pretensão de se estabelecerem em terras inglesas, mesmo tendo percebido que boa parte do grupo conseguia falar fluentemente the book is on the table.
O roteiro programado foi sendo cumprido trazendo belos e inesquecíveis momentos. Museus, prédios de arquitetura gótica, obras de arte, palácios famosos, castelos, igrejas antiquíssimas, cidades medievais e séculos de História acumulados em cada lugar visitado do velho continente. Tudo muito surpreendente.
Paralelamente a toda essa maravilha há que se ressaltar um detalhe.
Durante os deslocamentos de uma cidade à outra um barulho começou a perturbar (isto para não dizer traumatizar) o grupo todo.  Era o ruído provocado pelas rodinhas das malas deslizando pelo calçamento nos trajetos até as ferroviárias.  Levando-se em conta que em vários locais havia uma escadaria a ser verdadeiramente escalada e que o peso das malas aumentara ao longo dos dias, o tal ruído das rodinhas chegava a causar arrepios.  Creio que o faça até hoje.
Como soi acontecer, momentos de reflexão, de lazer e de pura cultura por vezes eram interrompidos por alguma trapalhada. Restaurantes foram palcos de vários micos, assim como o metrô de Viena onde por conta de um casaco caído nos trilhos os trens foram paralisados, luzes vermelhas começaram a piscar enquanto alarmes disparavam diante de preocupados olhares austríacos querendo saber o que se passava. Somente os quatro turistas parados na plataforma faziam a maior cara de paisagem.
Para finalizar, até uma catedral gótica construída no século XII e que sobreviveu a muitas guerras, não passou incólume diante da visita do grupo e acabou servindo de palco para o que podemos chamar de um mico abençoado.  
Ao entrar em seu interior, em sinal de respeito, ele tirou o gorro de couro e pele que trazia na cabeça. Por alguns instantes o segurou nas mãos, mas diante da beleza do lugar resolveu fazer algumas fotos.  Olhou para os lados e viu o que para ele seria uma mesa de pedra, local ideal para apoiar o tal gorro e assim manter as mãos livres para dar seus cliques profissionais. Mal havia focado o teto do templo quando notou com o canto do olho, que seu gorro deslizava altaneiro sobre a mesa. 
Olhou intrigado e somente nesse momento notou que na verdade o que ele julgara ser uma mesa era um tipo de bacia cheia de água benta sobre a qual o gorro peludo, triunfante, navegava tal qual um perfeito navio viking partindo para mais uma conquista.
Rapidamente recolheu seu pertence dando-lhe umas batidas para escoar a água, não sem antes dar aquela clássica e constrangida olhada para os lados para ver quantos haviam notado o mico e riam de sua situação.
Saiu da igreja feliz.
Agora trazia na cabeça um chapéu que além de aquecê-lo, estava abençoado.

Santos, 22 de janeiro de 2012   

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

UMA DÚZIA

Uma dúzia!
Exatamente no sábado, dia 21, fará uma dúzia de anos que você chegou. Olhos arregalados, claros, cabelos loiros encaracolados e já marcando presença pela graça e beleza. 
Por não lhe ver com frequência, em cada encontro sempre havia novidade: seu desenvolvimento, suas primeiras palavras ou algo que aprendera a fazer. Lembro que me preocupava quando você se aborrecia, pois punha literalmente a boca no trombone para quem quisesse ou não quisesse ouvir.
Primeira visita a Santos, primeiras brincadeiras no mar: no início com certo receio, mas depois até ousada demais a bordo de uma prancha. 
Chegou o tempo da bicicleta com rodinhas laterais. Lá chegavam vocês com a bike toda presa na parte traseira do carro.  Pedalando e tentando equilíbrio que demorou um pouco, mas veio com certeza, lá sumia você atrás dos arbustos mais crescidos desse jardim que olho nesse momento. 
Quando passou para a bicicleta um pouco maior e já sem apoios laterais, era comum perder-lhe de vista por alguns instantes e quando a preocupação já começava a chegar, lá longe apontava uma cabeleira loira brincando no vento.
Nos caminhos entre os canteiros do jardim já patinava com tanta desenvoltura que cheguei a achar fácil tal esporte. Bastou colocar um único pé de patins para sentir que não fui feita para andar sobre pequenas rodinhas. Capenguei um pouco patinando num só pé (lembra?) para matar a vontade, mas não me atrevi a fazer mais do que isso.
E assim, ano após ano, as brincadeiras foram se alterando seguindo novos gostos e opções.
Não demorou muito para ultrapassar-me em altura mesmo porque, convenhamos isso não é assim tão difícil. Entretanto uma vantagem consegui manter: ainda sou maior na largura....rs
Mais um tempo se passou e agora uma mistura de escolhas se observa em seu dia-a-dia. Brinquedos passam por suas mãos intercalando-se com livros, muitos livros.  Não mais aqueles coloridos, com mais imagens e pouco texto, mas sim romances dirigidos ao público jovem e até adulto. Você se apaixonou pelos livros!
Em 12 anos muita coisa aconteceu!
Quantas mudanças físicas, emocionais, comportamentais e quantas ainda estão por vir!  
Que sejam mudanças altamente positivas, que suavizem seu caminho e lhe tragam muita, mas MUITA FELICIDADE nas muitas dúzias de anos que lhe aguardam.
É o que lhe desejo de coração!
Parabéns Luíza e um grande beijo pelo SEU DIA!

Santos, 19 de janeiro de 2012 






Obs: “Mauricete”, já to com saudades...rss