Final de tarde de um sábado
qualquer.
Chuva fina e constante escorria
pela vidraça, desenhando contornos curiosos. A natureza lá fora parecia adormecida. Mar
calmo, abandonado pelas ondas.
Momento convidativo para ouvir
alguns CDs especiais para mim.
Nas músicas, ora lentas, ora aceleradas,
a MPB cantava solta através das vozes de Chico, Tom, Gonzaguinha, Adoniran,
Elis, MPB 4, Cartola, Nara, Toquinho e Vinícius entre outros tantos. Músicas
feitas há décadas, mas que nunca envelhecerão. São mesmo atemporais.
Mentalmente fui acompanhando as
letras, velhas conhecidas.
Sempre me espantou e me encantou a
delicadeza das poesias contidas nas belas melodias.
Com certeza alguma magia, algum
encanto mesmo, domina a alma dos artistas no momento da criação de suas obras.
O som flutuava no espaço, invadindo
a alma.
De repente, um ritmo lento que mais lembrava um lamento, tirou-me de um estado meio que de contemplação. Já havia ouvido esta música outras vezes, mas nunca atentado para detalhes da letra.
De repente, um ritmo lento que mais lembrava um lamento, tirou-me de um estado meio que de contemplação. Já havia ouvido esta música outras vezes, mas nunca atentado para detalhes da letra.
Vinícius falava sobre a morte de um
vizinho, Alfredo, que se matou de solidão.
Descreveu a situação em que vivia Alfredo e a certa altura ele cantou:
- Gente sem mão para dar.
Eu particularmente nunca havia
pensado desta forma, numa solidão tão dolorida e intensa que a pessoa não tem
sequer uma mão para dar. Pessoa, que
como diz a letra, é “gente que a gente
não vê porque é quase nada”.
Creio que todos nós ao longo da
vida, já nos sentimos sozinhos em alguns momentos, já sentimos necessidade
daquele abraço apertado que diz – estou aqui!
O que sentirá quem vive
constantemente esperando este abraço? O
que sentirá quem vive dia após dia numa solidão total, sem atenção de quem quer
que seja?
Com certeza já cruzamos com gente
que assim se sente, inclusive pela nossa vizinhança, como foi o caso de
Vinícius.
E a música continuou:
- Gente com olhos no chão, sempre pedindo perdão.
Envolvidos em nossos pensamentos,
em nossos próprios problemas, ou mais objetivamente, com nosso próprio umbigo,
não enxergamos estas situações (ou não queremos enxergá-las), e com certeza
tratamos tais pessoas realmente como se nada fossem.
São seres para quem muito
provavelmente, receber um simples olhar, um simples sorriso, faria toda
diferença.
O que dizer então, de um
cumprimento e de “uma mão para dar”?
Quantos Alfredos deixamos
constantemente passar por nós como se fossem quase nada? Quantos ainda deixaremos passar?
Alfredo?
Sim, Alfredo... “mas ninguém sabe de quê”.
Santos, 30 de outubro de 2013
* Um Homem Chamado Alfredo
Autores: Toquinho e Vinícius de Moraes