segunda-feira, 23 de março de 2020

MOMENTOS QUE NÃO ESQUEÇO





Nestes tempos em que ouvimos a palavra vírus centenas de vezes por dia, lembrei-me das aulas de Programas de Saúde que faziam parte do currículo escolar nos cursos técnicos (2º Grau) lá pela década de 70.
Nesta época ainda universitária eu já lecionava em tais cursos em uma escola da cidade. 
Durante as exposições teóricas dos conteúdos sempre tive o costume de entre uma e outra fala provocar a participação dos alunos através de perguntas que fazia aleatoriamente, sem nomear alguém em especial, deixando livre para quem se sentisse seguro da informação pudesse dar a resposta tornando a aula interativa.
Essa dinâmica  espantava o sono tão comum entre alunos trabalhadores que estudavam no período noturno.
Um fato que após mais de 4 décadas ainda está muito presente em minha memória, foi justamente a aula sobre vias de penetração dos micróbios em nosso organismo.
Era uma turma de Química Industrial com 40 alunos, naqueles tempos em que o respeito fazia parte da educação que todos traziam de casa. Era uma turma bem participativa.
Comecei falando da via respiratória e questionei qual seria o local de entrada.  Claro que de imediato muitos responderam o nariz. 
Na sequência perguntei sobre as vias digestivas e os alunos também prontamente disseram que era através da alimentação.
Empolgada com a participação da classe fiz entusiasmada a terceira pergunta:
- E a via de penetração cutânea?
Deparei-me com expressões de espanto e um silêncio geral.
Conclui que tal comportamento havia sido causado pelo desconhecimento do termo cutânea.
Antes que eu pudesse explicar o significado ouvi uma voz carregada de sotaque interiorano vir lá do fundo da sala:
- Dona!!!!!!   Que pergunta é essa???  A gente não pode falar isso!!
Só aí me dei conta do que se passava na cabeça dos alunos e já rindo muito juntamente com todos,  passei rapidamente a mão no braço explicando que se referia à pele que cobre nosso corpo. Lembro até do rosto do aluno que ao me questionar estava vermelho de vergonha.
Se tal fato ocorresse hoje ouviríamos talvez até alguma música tipo funk falando o que a classe pensou e se calou naquela noite.
Em outra ocasião já dando aulas para o Ensino Fundamental e falando sobre higiene corporal, explicava a importância dos banhos diários para remover inclusive resíduos e células mortas da pele.   Estava em pé encostada na mesa da primeira carteira que era ocupada por um aluno muito espirituoso. 
Quando falei sobre a necessidade de levar uma bela chuveirada, ele fez um gesto brusco se encolhendo todo na carteira e colocando os braços sobre a cabeça.
Diante de meu espanto ele esclareceu:
- Professora, estou treinando como vou me proteger para levar uma chuveirada!
Diante da brincadeira dele percebi que minha orientação sobre  levar uma bela chuveirada poderia realmente se tornar muito perigosa....rs.
Em tempos de covid-19, nada como relembrar momentos tão alegres e felizes no magistério.

Santos, 23/03/2020

A todos ex-alunos que fazem parte de minha história e com os quais muito aprendi, e em especial ao Spagnhol e Vivaldo, protagonistas destes fatos.