Nestes
tempos em que ouvimos a palavra vírus centenas de vezes por dia, lembrei-me das
aulas de Programas de Saúde que faziam parte do currículo escolar nos cursos
técnicos (2º Grau) lá pela década de 70.
Nesta
época ainda universitária eu já lecionava em tais cursos em uma escola da
cidade.
Durante
as exposições teóricas dos conteúdos sempre tive o costume de entre uma e outra
fala provocar a participação dos alunos através de perguntas que fazia
aleatoriamente, sem nomear alguém em especial, deixando livre para quem se
sentisse seguro da informação pudesse dar a resposta tornando a aula interativa.
Essa dinâmica espantava o sono tão comum entre alunos
trabalhadores que estudavam no período noturno.
Um
fato que após mais de 4 décadas ainda está muito presente em minha memória, foi
justamente a aula sobre vias de penetração dos micróbios em nosso organismo.
Era
uma turma de Química Industrial com 40 alunos, naqueles tempos em que o respeito
fazia parte da educação que todos traziam de casa. Era uma turma bem
participativa.
Comecei
falando da via respiratória e questionei qual seria o local de entrada. Claro que de imediato muitos responderam o
nariz.
Na
sequência perguntei sobre as vias digestivas e os alunos também prontamente disseram
que era através da alimentação.
Empolgada
com a participação da classe fiz entusiasmada a terceira pergunta:
-
E a via de penetração cutânea?
Deparei-me
com expressões de espanto e um silêncio geral.
Conclui
que tal comportamento havia sido causado pelo desconhecimento do termo cutânea.
Antes
que eu pudesse explicar o significado ouvi uma voz carregada de sotaque
interiorano vir lá do fundo da sala:
-
Dona!!!!!! Que pergunta é
essa??? A gente não pode falar
isso!!
Só
aí me dei conta do que se passava na cabeça dos alunos e já rindo muito juntamente
com todos, passei rapidamente a mão no braço
explicando que se referia à pele que cobre nosso corpo. Lembro até do rosto do
aluno que ao me questionar estava vermelho de vergonha.
Se
tal fato ocorresse hoje ouviríamos talvez até alguma música tipo funk falando o
que a classe pensou e se calou naquela noite.
Em
outra ocasião já dando aulas para o Ensino Fundamental e falando sobre higiene
corporal, explicava a importância dos banhos diários para remover inclusive
resíduos e células mortas da pele. Estava
em pé encostada na mesa da primeira carteira que era ocupada por um aluno muito
espirituoso.
Quando
falei sobre a necessidade de levar uma bela chuveirada, ele fez um gesto brusco
se encolhendo todo na carteira e colocando os braços sobre a cabeça.
Diante
de meu espanto ele esclareceu:
-
Professora, estou treinando como vou me proteger para levar uma chuveirada!
Diante
da brincadeira dele percebi que minha orientação sobre levar uma bela chuveirada poderia realmente se tornar muito perigosa....rs.
Em
tempos de covid-19, nada como relembrar momentos tão alegres e felizes no
magistério.
Santos,
23/03/2020
A todos ex-alunos que fazem
parte de minha história e com os quais muito aprendi, e em especial ao Spagnhol
e Vivaldo, protagonistas destes fatos.