- ALÔ!!!!! ALÔ!!!! ALÔÔÔÔ???? - O telefone está novamente com linha
presa! Que droga de Telesp!!!*
Naqueles
anos iniciais da década de 90, era muito comum ouvirmos estas expressões em
casa, pois realmente o problema era frequente.
A
casa era grande e alguns cômodos ficavam bem distantes entre si, além da escada
a ser vencida. Isto acabou motivando a
instalação de 3 extensões do telefone fixo, além do ponto principal. Dois aparelhos ficavam no térreo e outros
dois na parte superior do sobrado.
Sendo
assim, não era raro estar se usando a
linha e ser interrompido por alguém que na outra extremidade da casa, pegava o
aparelho para também fazer alguma chamada.
Este
fato não criava problemas para os moradores, ou ao menos parecia não criar para
os adultos, mas sim para o neto adolescente.
Como
sabemos, a adolescência é uma fase linda, mas um tanto
complicada e com oscilações de humor inesperadas. Uma questão primordial tanto
para meninos quanto para meninas é a privacidade, fato perfeitamente
compreensível e lógico.
Acontecia
que o rapaz andava encontrando dificuldades em conversar tranquilamente com
quem desejasse sem correr o risco de uma provável escuta indesejável e
acidental. O celular ainda não reinava absoluto na vida das pessoas e dos
jovens especialmente.
Decidido
a ter seus momentos telefônicos preservados, resolveu puxar uma fiação,
obviamente clandestina, para seu quarto.
Sem que os adultos soubessem ele subiu no forro da casa, puxou o fio
telefônico, desceu-o pelo conduíte da rede elétrica e instalou um tipo de
chavinha comutadora, num local muito bem escondido. Tudo feito com capricho e sem deixar
vestígios. Um serviço profissional.
Conforme
a posição em que o botão desta chave fosse colocado, a linha do telefone
estaria liberada para a casa toda, ou então somente para seu quarto, e nesta
situação deixava mudos os demais aparelhos.
Assim ele falava sem receio de estar sendo ouvido.
Acontecia
porém que após seu uso, o rapaz esquecia de retornar a chave na posição que liberava
os demais aparelhos e por incrível coincidência, sempre a vítima era seu avô.
Ao pegar o aparelho e encontrá-lo mudo, ficava indignado e irritado com a Telesp.
Esbravejava enquanto seguidamente retirava e punha o monofone no apoio, na
esperança de liberar a linha presa.
O
rapaz ouvindo as reclamações ditas em alto e bom som, lembrava da tal chavinha
e corria para seu quarto.
Instantaneamente e para surpresa de todos, a linha era liberada. O avô, incrédulo, comentava que parecia até
que a Telesp havia ouvido as broncas tal a rapidez do conserto.
Assim
ocorreu por um bom tempo até que certo dia topei com o esconderijo da chavinha.
Mexi nela e acabei por descobrir sua utilidade.
Pesando
os prós e contras conclui pela manutenção da privacidade adolescente e
juntamente com minha mãe, tornamo-nos coniventes com a estratégia inteligente
usada para tirar não só o "boi", mas a "manada" toda da
linha.
Claro
que com isso acabamos também ficando com a responsabilidade de zelar para que a
tal chavinha liberasse a linha após seu uso clandestino no quarto do rapaz.
O
avô jamais veio a saber do fato e continuou a vociferar contra a companhia telefônica toda vez que ia usar o
aparelho enquanto o neto estrategicamente, tinha tirado o "boi da linha".
Santos, 30 de março de 2016
* Telecomunicações de São Paulo - empresa operadora de telefonia no Estado de São Paulo, antes da privatização ocorrida em julho/1998.