sexta-feira, 5 de julho de 2013

A VISITA REAL





Durante uma comunicação com pessoas bem próximas, nós mulheres, achamos que poucas palavras são suficientes para uma perfeita compreensão do que dizemos. Entretanto, na maioria das vezes isto nem sempre ocorre, principalmente quando o ouvinte é um homem.
De certa forma as mulheres após fornecerem algumas informações, acreditam que o outro consiga assimilá-las e decifrá-las, sem que para isso seja necessária uma detalhada explanação. 
Acontece que às vezes tais informações não são as básicas, as essenciais, aquelas que permitam chegar-se a uma plena compreensão do que foi dito.  Surgem então a partir daí, desentendimentos que podem levar tanto a sérias divergências como também a boas gargalhadas.
Foi justamente essa segunda situação que ocorreu recentemente em uma família.
Os três Arcanjos da Anunciação, Gabriel, Rafael e Miguel, estavam simbolicamente na casa de uma amiga que teria que encaminhá-los a outra família, numa espécie de corrente imaginária, para que eles a visitassem levando-lhe também proteção e saúde.
Convidada a ser a próxima anfitriã dos Arcanjos, ela concordou de imediato e combinou com a amiga, dia e hora para recebê-los, claro que simbolicamente.
No horário e dia combinados, eles seriam convidados a sair da casa onde se hospedavam para se dirigirem, virtualmente, para a outra residência que deveria ficar com a porta de entrada devidamente aberta para recebê-los.
Ciente que o marido era totalmente cético em relação a assuntos místicos, religiosos e crendices de um modo geral, ela decidiu omitir-lhe detalhes do acordo que fizera, evitando assim as costumeiras brincadeiras e gozações.
Desta forma, ela não esclareceu que era uma visita fictícia, imaginária. 
Explicou somente que naquele dia, a partir de um determinado horário, receberiam a visita dos três Arcanjos e que por esse motivo, a porta da residência deveria ser mantida aberta.
Ele não fez no momento maiores questionamentos, pois conhecedor da religiosidade da família acreditou que receberiam a visita de parentes que trariam as imagens de Gabriel, Rafael e Miguel, para uma noite de orações.
No horário combinado ela pediu à filha que prendesse a cachorrinha da casa, obviamente para evitar que o animal fugisse para a rua.  Entretanto, o marido vendo a cena, entendeu que cachorra ficaria presa, pois poderia estranhar e latir para as pessoas que estavam prestes a chegarem.
Sentado em sua poltrona na sala, ficou olhando para a porta aberta e esperou, esperou, esperou...
Passado certo tempo e já invocado com a demora, não se conteve e perguntou se as visitas chegariam de carro.
Ela, pressupondo que ele estava sendo irônico, já ficou irritada, mas continuou a olhar a porta permanecendo num respeitoso silêncio.
Pensando em ser prestativo, o marido pegou o controle remoto e avisou que já iria deixar aberto o portão eletrônico da residência. Ouviu de imediato uma resposta carregada de agressividade que o deixou cismado, sem entender o que se passava.
De repente, embora não tivesse havido qualquer barulho ou movimento estranho, ouviu a esposa dizer:
- Podem entrar!
Sem entender absolutamente nada, ele esticou o pescoço para olhar para a rua.  Como não visse ninguém, indagou curioso:
- Se eles nem chegaram, por que você disse que podem entrar?
A esposa já bem irritada com aquela postura dele e achando que estava sendo alvo de gozações, respondeu-lhe de maneira brusca e em poucos segundos um grande bate boca se estabeleceu.
No meio do entrevero ele acabou finalmente entendendo de qual tipo de visita se tratava e aí as gargalhadas foram inevitáveis.
Como toda a discussão ocorreu bem no horário combinado para a recepção aos Arcanjos, o casal não sabe até hoje se as visitas entraram na residência ou se assustados com a confusão, bateram asas e partiram em revoada em busca de locais mais calmos. Afinal uma guerrinha familiar não é ambiente propício para uma visita, principalmente uma visita sagrada.

Santos, 18 de fevereiro de 2.014.

Para Dakota, cachorrinha que alheia a tudo, teve que ficar presa até que os humanos se entendessem.

9 comentários:

  1. A estória ganhou vida com a imaginação...curti!

    ResponderExcluir
  2. Pois é Terezinha, a imaginação correu solta já que ele realmente não havia entendido como seria a tal visita.
    Perguntar se os Reis chegariam de carro, foi demais!
    Se ao menos perguntasse se eles chegariam com seus camelos...kkkkkkk

    ResponderExcluir
  3. Erros de comunicação causam sempre muitos transtornos que podem ,terminar bem, ou muitas vezes,são irremediáveis!Que alívio quando se pode dar risadas no final ,como na sua história,como sempre muito bem escrita e agradávelde ler!

    ResponderExcluir
  4. É mesmo, ainda bem que ao final da história, depois do bate boca, foram só gargalhadas que se ouviram.
    Paula, obrigada por suas palavras e pela visita ao blog.

    ResponderExcluir
  5. Ficou ainda melhor na segunda versão! Você é uma escritora e tanto! Ah, e a dedicatória à Dakotinha foi demais... a foto dela tá ótima, parece que está se perguntando: hein?!?!?! rsrsrs

    ResponderExcluir
  6. Pois é, os Arcanjos vendo o rolo armado, devem ter dito "bita véio" ...kkkk e bateram asas numa grande revoada sagrada...kkkkk
    Obrigada por suas palavras Selma.

    ResponderExcluir
  7. Esta é a 2ª versão já corrigida: não eram os 3 Reis Magos mas sim, eram esperados os 3 Arcanjos: Gabriel, Miguel e Rafael.

    ResponderExcluir
  8. Gostei!! Quem mais sofreu foi a Dakota…ainda bem que deu tudo certo…só ficou a dúvida se os convidados entraram…🤣🤣🤣

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha Iara, eu acho que não devem ter entrado pois a discussão foi acalorada…kkkk

      Excluir