O aprendizado é o resultado de
nossos estudos aliados à experiência de vida; na verdade é essa experiência que
nos conduz a comportamentos bem mais adequados do que qualquer estudo por mais
profundo que seja.
Interessante que só nos damos conta
disso quando nossa bagagem de anos já pesa razoavelmente.
Pensando sobre isso, me veio à
mente um fato ocorrido logo no início da carreira profissional envolvendo um
aluno residente na zona rural. Estudava no período noturno, pois ajudava a
família na lavoura, apesar dos seus 13 anos somente.
Não era uma mente brilhante, mas
suas maiores dificuldades provinham justamente da falta de tempo para se
dedicar aos estudos.
O aluno já havia ficado retido para
os exames de segunda época (ainda não havia o processo de recuperação) em duas
disciplinas; com a reprovação nos exames
finais também em Ciências, completou a terceira disciplina, fato este que o
levou à reprovação na 6ª série do Ensino Fundamental.
Até hoje me lembro do erro que
cometeu na última questão da prova e que lhe resultou em uma nota abaixo da
média. Ele não soube explicar o que
eram pés acolimbéticos encontrados em algumas aves.
Na realidade o aluno errou também
outras questões básicas e importantes, mas esta última foi a que encerrou sua
chance de aprovação.
Recém-formada, trazia na bagagem
muitas informações adquiridas na faculdade, mas todo esse aprendizado não teve
sua aplicação de maneira adequada justamente por causa da inexperiência de
vida.
Com certeza essa minha memória para
o fato está associada ao arrependimento que veio posteriormente. Hoje me pergunto o que pretendia avaliar ao
formular tal questão? Talvez pela falta
de experiência, pus em prática a expressão ser
mais realista que o rei.
É a velha história de que não basta
saber O QUE avaliar, mas COMO avaliar, tema este que já foi
abordado no texto ENTENDERAM? publicado
neste mesmo blog.
Se encontrasse este aluno
novamente, depois de transcorridos quase 40 anos, iria lhe perguntar se o fato
de desconhecer o que eram pés acolimbéticos lhe trouxe algum prejuízo na vida,
além de fazê-lo perder um ano de estudos.
Provavelmente na ocasião, sentia-me
a dona da verdade. Hoje, já com anos e
anos de estrada nesta vida, sei que ninguém é senhor absoluto de verdade
alguma.
Realmente a vida é uma grande
Universidade.
A propósito, você sabe o que são
pés acolimbéticos?
Não????
Como você conseguiu viver até hoje
sem saber isso?????
Santos, 16 de junho de 2013
Nesta homenagem a um ex-aluno, faço aqui um mea culpa.
Simplesmente lindo o seu texto...é maravilhoso quando descobrimos em pequenos fatos do passado, a construção de nossa sabedoria com essa experiência de vida. Provavelmente esse aluno não saiba até hoje a resposta para essa pergunta, e muito menos se lembre que essa questão foi o fato determinante para sua reprovação.
ResponderExcluirMas acredito que essa questão não resolvida por ele, trouxe mais apredinzado para você do que para ele, caso ele tivesse respondido corretamente.
Ligia, preciso lhe contar um segredo...rsrs...Daquela turma, apenas você ainda hoje sabe o que são pés acolimbéticos...rsrs
Beijos, minha linda!!!
É verdade Débora!
ExcluirAprendi muito mesmo com essa questão não resolvida.
Marcou-me tanto esse episódio, que quase 40 anos depois ainda me lembro.
Obrigada pelos comentários Débora.
Lidar com a insegurança inicial de estar na frente de dezenas de adolescentes, gerir uma classe, a vontade de planejar uma aula que instigue a curiosidade, motive, provoque reflexão, questionamentos e estimule o pensamento crítico, querer sempre o melhor para nossos alunos. Ufa! Sim, nós, professoras, somos muito exigentes!Rs,Rs,Rs...
ResponderExcluirPois é Terezinha.
ResponderExcluirTantos assuntos importantes e motivadores para tratar e fui logo invocar com denominações complicadas para tipos de pés.
Vivendo e aprendendo sempre, não é?
Obrigada pela visita e pelo comentário Terezinha.
Perfeito, Ligia! Excelente texto e mais um importante aprendizado para a vida. Inclusive estou me questionando aqui como fiquei até hoje sem saber o que são pés acolimbéticos, rsrsrs. Coitado, e ele nem tinha o Google para pesquisar. Beijinhos
ResponderExcluirAté hoje brigo com os professores de Odontologia que cobram insignificâncias nas provas, que os futuros dentistas jamais utilizarão na vida prática ... Beijos, com muita saudade
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