domingo, 9 de junho de 2013

"QUANTO TEMPO DURA O ETERNO?"



Ah, o tempo! Sempre cronometrando nossas vidas.
Interessante como o conceito de tempo muda à medida que os anos se acumulam em nossa estrada.  Conforme a etapa de nossas vidas o consideramos lento ou rápido demais.
Na infância pouco nos importamos com ele.  Na verdade até o ignoramos. Vivemos cada dia a seu tempo, sem preocupações com futuros ou com passados.  O que nos interessa é o hoje, o presente, no qual depositamos nossas esperanças, satisfações, tristezas.
A entrada na adolescência e juventude que a segue provocam uma reviravolta em todos os sentidos. Buscamos algo que nem sabemos exatamente o que seja, mas o queremos com toda firmeza. Nesse período tão conturbado física e psicologicamente, temos a impressão que o tempo se arrasta vagarosamente, dia após dia, semana após semana.  Do alto (ao menos é assim que nos sentimos) dos 15 anos, queremos que ele passe depressa pois temos urgência de vida.
Nossos olhos já não focam somente o hoje, mas estão voltados principalmente para o futuro e aí é que o tempo parece querer frear nossos anseios. Buscamos a maioridade, um diploma, a carteira de motorista, enfim, queremos desempenhar efetivamente o que já nos consideramos capazes de realizar.  Os sonhos se sobrepõem à realidade. Buscamos a independência e desejamos erguer nossas bandeiras para conquistarmos o mundo, convictos de que conseguiremos.  
Já adultos e inseridos no mercado de trabalho, nossa visão se estreita. O ritmo acelerado dos dias nos consome. Nosso mundo se reduz. Os sonhos são encaixotados na alma à espera que nos sobre tempo um dia. Já não desejamos mais que ele voe; nossa pressa deixa de existir e em contrapartida, o tempo é que parece se apressar cada vez mais.
Mal conseguimos executar as atividades cotidianas, rotineiras, ligadas às obrigações profissionais e pessoais.  Reservar algumas horas para um lazer com família ou amigos nem sempre é possível. Às vezes chega-se a considerar lazer como desperdício de tempo tal a ânsia em acompanhar os ponteiros do relógio. Torna-se necessário organizar bem cada hora do dia para que tudo saia a contento e mesmo assim muitas vezes falhamos. 
Aquele tempo que antes se arrastava agora nos atropela.  Sua avidez nos suga e às vezes até nos cega.
Ocupados nas tarefas do dia a dia não nos damos conta dos anos que vão se acumulando em nossas vidas, até que chega a tão sonhada e também temida, aposentadoria.
Nesta etapa surge a preocupação contrária vivida anteriormente – o medo do excesso de tempo que agora nos parecerá sem pressa alguma.
Pois é justamente nessa fase que podemos observar que ele, o tempo, sempre caminha na mesma velocidade. Nunca retarda ou acelera seus passos. 
Nós sim que desequilibramos o tempo, aceleramos nossas vidas e muitas vezes esquecemo-nos do essencial, que é vivê-las.
A vida não é eterna!
Lembro-me agora do diálogo entre Alice e o Coelho*:

Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo.


Santos, 09 de junho de 2013


*Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll


  

6 comentários:

  1. Poxa Ligia voce conseguiu passar para o papel exatamente como me senti quando me aposentei ,foi uma sensação estranha ,eu não sabia lidar com o tempo que tinha agora todo á minha disposição.Hoje depois de tres anos aprendi a usa-lo bem,eu faço o meu tempo e consequi me equilibrar novamente,fiquei perdida por um tempo.Vc tem esse dom maravilhoso da escrita dado á voce pela natureza,tão grandiosa,e que sempre toca meu coração.

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  2. Obrigada Paula.
    Escrevi lembrando-me dos primeiros tempos como aposentada.
    De repente, eu tinha praticamente 24 horas para "gastar" no que desejasse. Nós não nos preparamos emocionalmente para isso. Com o tempo, acabamos nos equilibrando mesmo.
    Obrigada por suas palavras e pela visita.

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  3. É por aí mesmo amiga, a gente fica como um peixe fora da água. Mas eu vou aprender com o próprio tempo. Bjos.

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  4. Nossa Lígia, magnífico! Parabéns!

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  5. Atualmente sigo a famosa frase de Mario Lago:
    "Fiz um acordo com o tempo... Nem ele me persegue, nem eu fujo dele... Qualquer dia a gente se encontra".
    Obrigada pelas visitas e comentários, Vasni e Patrícia.

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