sábado, 12 de maio de 2012

HOJE O TEXTO SAIU



Desde criança os dias que antecediam a comemoração do Dia das Mães me deixavam muito emotiva.
Na escola sempre era solicitada nesse período, principalmente no curso ginasial (atual Ensino Fundamental), uma redação sobre as Mães.
Apesar de gostar de escrever encontrava dificuldade nesse trabalho pois me parecia que nunca conseguia escrever plenamente meus sentimentos.  Isso provocava uma sensação estranha de culpa, de eterno débito em relação a ela.
Certa vez ainda na 1ª série ginasial houve um fato que nunca esqueci.
Atendendo solicitação da professora de Língua Portuguesa, fiz uma descrição física de minha mãe e procurei ser mais fiel possível para mostrar o quanto ela era bonita e com efeito, era mesmo!   Caprichei na letra e fiz até uns desenhos como moldura aos meus escritos, afinal minha mãe leria e assinaria posteriormente esse trabalho.
Uma colega de classe chamada Nanci (até hoje não esqueço seu rosto) que não havia feito sua tarefa, pediu meu texto emprestado antes da entrega para a professora, a fim de ter uma ideia e poder fazer o seu próprio. 
Eu havia usado a palavra tez ao comentar o rosto muito claro de minha mãe, enfeitado por belos olhos verdes.  A colega perguntou-me o que significava o termo, tez. Expliquei-lhe rapidamente para não ser observada pela professora e ainda levar uma bronca.
Bem próximo ao final da aula recebi minha redação de volta mas com uma enorme rasura justamente na palavra tez que estava riscada várias vezes e sobre ela anotada com uma letra muito tremida, a palavra pele. 
Nanci havia entendido que não existia esse termo e resolveu corrigir meu texto.
Não havia tempo para refazer o trabalho e entreguei-o assim mesmo com imensa, mal feita e desnecessária rasura.  Fiquei indignada pois considerei que era até uma ofensa a minha mãe, entregar naquele estado justamente um trabalho que falava dela.
Ano após ano só foi aumentando essa sensação de incompetência em passar para o papel exatamente o que sentia sobre ela.  
Busquei os motivos e deparei-me com várias hipóteses como por exemplo timidez, vergonha de expor sentimentos e excesso de respeito já que talvez pela educação que ela recebera ou influência de meu pai, não era muito próxima dos filhos no sentido de gestos de carinho como abraços e beijos.  
Esse comportamento também tolhia nossas demonstrações de afeto que ficavam guardadas na alma esperando sempre uma oportunidade para se manifestarem.
Hoje já há vários anos sem poder desfrutar de sua presença física, sem poder dar-lhe um abraço sequer, o sentimento que me envolve nesse período continua o mesmo mas muito ampliado agora pela dor da saudade.
Esteja onde estiver ou Vó Daisy como carinhosamente a chamava, saiba que continuo a lhe amar muito.
Hoje o texto saiu!
Tenha um Feliz Dia das Mães!

Santos, 12 de maio de 2012  -  VÉSPERA DO DIA DAS MÃES

Eis minha mãe em três momentos:


         

10 comentários:

  1. Muito lindo,embora muito triste.

    Vera

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  2. Terno. Uma homenagem maravilhosa...e muito bem humorada para uma mãe querida.

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  3. Ligia Maria
    Como sempre,uma delicia te ler

    Cy Montels

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  4. Saudade de mãe é coisa que não tem jeito, chega quando menos imaginamos: um cheiro, uma melodia,uma imagem, uma palavra...uma redação, e eis que o cordão do tempo, nos convida ao retorno da infância.
    Belo e saudoso conto.

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  5. Adorei a sua homenagem, hoje tambem ja nao defruto da presença fisica da minha mae e essa data e em especial quando a saudade mais invade meu coraçao. bjos

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  6. Muito linda a homenagem asiim como sua mae, Liginha. Voce e genial! Parabens. Beijinhos.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Muito linda a homenagem que fez a sua mãe,ela também é muito linda!Eu não tenho mais minha mãe e nesse dia dia a saudade vem mais forte ainda!Voce escreve muito bem,parabéns,beijos

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  9. Linda homenagem Ligia
    Para uma linda mulher

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  10. Lindo, lindo e lindo! Cada linha , cada parágrafo, tudo tão perfeito!

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