Uma notícia vinda de longe causou
tristeza.
Embora não nos víssemos há muitos
anos senti bastante a partida desse mundo de uma ex-colega de trabalho, muito
prestativa, educada e que fora inclusive minha cúmplice em algumas brincadeiras.
Pessoa que trazia um histórico de
vida pessoal bem triste mas que não deixava que isso lhe tirasse o sorriso do
rosto.
É assim que me lembro de Dona
Nelly, sempre sorrindo.
Como trabalhava na portaria da
repartição tinha que ter o que chamamos de jogo
de cintura para atender bem a todos, inclusive àqueles que chegavam mais
exaltados e nervosos em busca de soluções para seus problemas.
Certa feita entrou em minha sala rindo
muito a tal ponto que mal conseguia relatar o fato. Acabei contagiada com sua risada mesmo sem
ter a menor noção do motivo de tanto riso.
Com muito custo contou que uma mãe de
aluno estava na portaria e queria fazer uma denúncia. Muito nervosa essa mãe
falava alto, gesticulava e mostrando a filha de 7 anos a seu lado, afirmava que
o gosto e preferência da menina haviam sido desrespeitados pela professora.
Segundo a mãe, o motivo de toda a
confusão era um par de brincos de bolas feitos com lã branca que a menina usara
para ir à aula naquele dia.
A professora havia pedido para a
aluna tirá-los ou então sentar-se numa carteira mais atrás, alegando que todas
as demais crianças da classe ficavam rindo e se distraindo ao verem o tal balanço
dos brincos a cada movimento da cabeça de sua dona que se sentava na primeira
carteira. Justificara o pedido
esclarecendo que tais acessórios eram grandes demais para uma menina tão
pequena e por isso mesmo chamavam muito a atenção perturbando o andamento da
aula.
Mostrando a criança com os brincos,
a mãe indignada dizia que eram bonitos e adorados pela filha. Acusava a
professora de ter má vontade para com a menina.
Sem parar de rir Dona Nelly
pediu-me que olhasse a cena da extremidade de um corredor que ficava a uma boa distância
de onde estavam mãe e filha.
Não deu outra – voltamos para o interior
da sala rindo muito.
Naquela razoável distância e por
conta da iluminação, vimos somente os dois vultos não sendo possível ver as
feições dos rostos, entretanto, aqueles dois brincos saltaram às nossas vistas.
Eles sim, eram perfeitamente visíveis. Com certeza eram bem maiores que bolas
de tênis e balançavam escandalosamente ao lado da cabeça da criança.
Realmente um grande exagero principalmente
se comparado ao tamanho da menina. Na hora lembrei-me de uma frase que meu pai
dizia: “Gosto não se discute, se lamenta”.
Não lembro mais o final dessa
história já que o caso foi repassado para o responsável pelo plantão naquele
dia, mas com certeza Dona Nelly sofreu para ouvir as reclamações iniciais da
mãe sem deixar escapar uma risadinha sequer a cada balanço dos “mimosos brinquinhos”.
Creio que agora há mais sorrisos no
céu.
Fique em paz Dona Nelly.
Santos, 25 de abril de 2012
Querida Ligia, lendo seu texto fiquei imaginando bolas de natal penduradas na menina... Oh dó! rs Que a Dona Nely seja mais um anjo no céu. beijos, Clotilde
ResponderExcluirRi muito agora pois você lembrou bem: bolas de natal!!
ResponderExcluirPara serem bolas de natal só faltava mesmo o brilho.....rsss
Obrigada por seu comentário. Bjss