terça-feira, 24 de abril de 2012

PEDACINHOS DE FELICIDADE



Diante de si a porta aberta esperando uma atitude.
Sentada na cama permanece assim um tempo, apenas observando as roupas penduradas, os objetos arrumados, alguns livros ali esquecidos.
No momento em que afasta algumas peças depara-se com a caixinha amarelada, cuidadosamente colocada em um canto não muito visível.  Não mexia nela há tempos e uma sensação de aconchego a invade ao vê-la assim de repente, sem que estivesse a sua procura como em outras tantas vezes.
Com cuidado a recolhe em seu colo, mas antes de abrir aperta-a contra o peito como se quisesse aproximá-la mais do coração.
O mundo lá fora para, seu mundo para e todos os sentidos se concentram no conteúdo daquela caixinha amarelada, que ela sabe tão bem de cor e salteado.
Poucas coisas ali se encontram, mas cada uma tem sua história para contar.
São histórias carregadas de lembranças que uma vez tocadas, trazem de imediato o passado ao presente com uma força tal que a temporalidade deixa de existir.
Nada de valor material ali se encontra.  Um marcador de livros, pedaços de uma fita de cetim amarela, uma medalhinha de honra ao mérito, um vidrinho vazio, alguns bilhetes e cartas de ex-alunos, papéis de embalagens de chocolates cuidadosamente dobrados, uma caneta.
Pensamentos livres, soltos e leves revolvem o sótão da memória numa ansiedade tal como se estivessem na expectativa de presenciar ali, naquele momento, o desenrolar de cada história contada pelos pequenos objetos.
Pelas ruas e esquinas de sua vida cruzara com todos os tipos de emoções. Algumas lhe marcaram a alma, outras não deixaram nem cicatrizes.
Aprendera que a felicidade e a paz de espírito são bem mais fáceis de serem encontradas na simplicidade dos gestos de ternura, na cumplicidade do olhar, no abraço amigo. E agora nesse instante, os objetos tão simples e guardados há tantos anos lhe proporcionam no presente, a mesma felicidade e a mesma paz sentidas no passado distante quando foram protagonistas de momentos importantes em sua vida.
A felicidade decididamente é atemporal.
Pega separadamente cada objeto um a um, revive com carinho cada emoção, agradece a oportunidade de ter vivido aqueles momentos e sente-se plena.
Após um tempo, sentindo a alma aquecida e ainda com um sorriso nos lábios, recolhe novamente cada peça ao interior da caixa amarelada.
Guarda com cuidado seus pedacinhos de felicidade!

           Santos, 24 de abril de 2012. 

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