domingo, 1 de abril de 2012

ÁGUA QUE PASSARINHO NÃO BEBE



Uma mensagem recebida contendo um arquivo com materiais escolares que já caíram em desuso, lhe trouxe lembranças de um fato que literalmente quase a fez cuspir fogo.
Naquele dia estava sem carro e olhando o relógio considerou que havia tempo suficiente para ir a pé até uma escola que não era tão distante. Organizou o material de trabalho que usaria na reunião com os professores e sem maiores atropelos pôs-se a caminho. 
Nos primeiros quarteirões percorridos começou a achar que a distância não era afinal tão pequena e que havia sido má ideia ir a pé.  Estava quente demais e quase não havia sombras nas calçadas que lhe protegessem ao menos um pouco dos raios solares que queimavam a pele.
Na metade do percurso, suando demais e já sentindo o peso do material que carregava, conformou-se em continuar caminhando já que naquela “altura do campeonato”, não compensaria chamar um táxi.
Com passos cada vez mais lentos por causa do cansaço e do calor, chegou ao local da reunião quase se arrastando. Finalmente teria um pouco de sombra sobre sua cabeça!
Afoita e com a boca e garganta totalmente secas, entrou na sala onde os professores já a aguardavam fazendo um grande burburinho.
Antes mesmo dos cumprimentos formais, perguntou a uma funcionária onde havia água para beber. Solícita a jovem apontou para uma mesa no canto da sala onde havia alguns equipamentos pedagógicos, uma bandeja com vários copos de vidros e um galão branco ao lado.
Enquanto ela se dirigia até a tal mesa, uma professora veio ao seu encontro no intuito de lhe mostrar um trabalho que estava desenvolvendo.  Tentou ser educada e dar atenção à pessoa que lhe falava mas na verdade naquele momento, só imaginava ter em suas mãos um gigantesco e transbordante copo com água.
Ainda ouvindo as explicações da professora abriu rapidamente o galão e virou-o enchendo um copo até a boca. Fez isso com tanta pressa que quase derramou o líquido sobre a mesa.
Ato contínuo entornou o copo em sua boca dando vários e grandes goles, bebendo com avidez aquele líquido que ansiava por tomar. 
Foi quando sentiu que o mundo parou de repente!
Sentiu uma imensa queimação que começava na boca, descia pela garganta e revirava o estômago. Chegou a achar que seus olhos iriam saltar para fora das órbitas enquanto tossia sem parar. Lágrimas escorriam em seu rosto.
Sem conseguir falar, viu a expressão de pavor na face da professora à sua frente que não entendendo o que havia acontecido, perguntava insistentemente se estava passando mal.
A essas alturas várias pessoas já estavam até lhe abanando.
Passados alguns segundos, sua respiração voltou ao normal e ela aos poucos se recompôs. Pegou novamente o galão que estava ao lado da bandeja de copos, abriu-o e cheirou seu conteúdo.  
Era álcool puro, puríssimo! 
O galão branco que estava junto aos copos na bandeja, na verdade era galão de álcool que havia sido deixado ali de maneira irresponsável por alguém que o havia usado no equipamento chamado mimeógrafo* que estava na outra ponta da mesa. O galão com água estava na verdade dentro da geladeira.
As primeiras palavras que lhe vieram à mente ainda com os olhos lacrimejantes são impublicáveis mas as que acabou falando foram:
- Proibido acender fósforo ou isqueiro perto de mim.
Somente nesse momento é que as demais pessoas se deram conta do que havia acontecido e claro, não apareceu o insensato que havia deixado o galão ao lado dos copos. Sugeriram-lhe que bebesse água em seguida, mas ela se recusou ao lembrar que o álcool iria aquecer a água e aí sim acabaria cuspindo fogo.
Foi assim que ela até então abstêmia convicta, acabou caprichando em seu début tomando logo de vez, grandes e bons goles de puro álcool !

Santos, 31 de março de 2.012  



Instrumento utilizado para fazer muitas cópias de papel escrito ou com desenhos. Usado principalmente para fins escolares até o início da década de 1990.

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