segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O SORRISO QUE NÃO ESQUEÇO

Há cenas na vida da gente que independente do tempo transcorrido e também de sua duração, por mais ínfimas que tenham sido, ficam gravadas na mente para sempre.
Quando estão associadas às boas lembranças volta e meia há um flashback e as imagens desfilam diante de nossos olhos como se estivessem ocorrendo em tempo real.
Uma situação dessas me acompanha há mais de quinze anos e por incrível que possa parecer, transcorreu em menos de um minuto envolvendo alguém que nem cheguei a conhecer.
A atitude de uma criança me surpreendeu e me serviu de lição.
Dirigindo o carro já próximo ao local de trabalho, fiz uma conversão à direita e andando poucos metros observei um garoto de oito anos aproximadamente que carregando material escolar, caminhava sozinho pela calçada. Vestia-se de maneira muito simples.
Inesperadamente a criança resolveu atravessar a rua sem olhar para os lados. Dados alguns passos, se deu conta do perigo ao ver o carro próximo e voltou correndo para a calçada.
Com o carro já parado, fiz um gesto com a mão avisando-o para fazer a travessia. Para meu espanto, em vez de continuar seu caminho e chegar até a calçada em segurança, o menino veio em direção ao carro parando ao lado da janela do motorista. 
Por instantes fiz indevidamente um prejulgamento imaginando que ele aproveitaria a situação para pedir algum auxílio. Apesar do receio consegui controlar a vontade de fechar o vidro.
Grande engano e grande lição.
Com sorriso nos lábios e no olhar, o menino colocou o braço dentro do carro e fazendo sinal de positivo com o polegar da mão direita, disse na sua simplicidade: “Valeu dona!”.  A seguir, sempre sorrindo, continuou seu caminho.
Minha surpresa só não foi maior que a vergonha pelo prejulgamento que havia feito.
Uma cena tão rápida mas tão marcante. 
Impossível esquecer o garoto que sorria com o olhar.

Santos, 06 de novembro de 2011  

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