domingo, 12 de junho de 2011

A LÓGICA INFANTIL

Nos horários em que não havia expediente, ele circulava livremente por aqueles corredores e fazia daquele espaço seu local de brincadeiras.
Tinha no máximo cinco anos, mas era super ativo e vivia dando preocupações à avó, zeladora daquela repartição.   A despeito de suas reinações, era figurinha conhecida e querida por todos que por lá circulavam.  Sua vivacidade era notável.
Durante a semana, recebia ordens de não sair do espaço destinado à zeladoria, pois a avó estaria trabalhando e sem tempo de lhe dar atenção.
Geralmente essas normas eram quebradas uma vez que ele jamais teve paciência para ficar sentado diante de uma televisão ligada, por mais divertido que fosse o programa.
Era comum encontrar o garoto circulando fora da área que lhe era permitida.
Naquela manhã de inverno ocorria uma reunião em uma das salas e aquela figurinha infantil foi vista circulando pelas proximidades. Já próximo do horário de almoço, a reunião estava chegando ao seu final quando alguém deu um alerta de cheiro de queimado no ambiente.  No mesmo instante todos concordaram e passaram a olhar as lâmpadas e fios procurando o ponto de partida daquele cheiro forte de coisas queimando.
Não demorou muito para que algumas labaredas surgissem por trás dos vidros da janela aberta, com o fogo já dando algumas lambidas para dentro da sala.
Pânico geral. Todos saíram rapidamente do local buscando o pátio externo, bem distante dali. Todos não; três funcionários já munidos de extintores de incêndio se dirigiram para o local das chamas.
Um amontoado de sucata formada por restos de móveis e papéis velhos alimentavam o fogo que já havia alcançado uma altura razoável.
Com certa dificuldade já que nunca havia mexido com isso, o funcionário esvaziou dois extintores para conseguir apagar todos os focos do incêndio.
A uma distância segura, a zeladora e seu neto acompanhavam todo o trabalho.
Quando só havia cinzas e pouca fumaça saindo, começou o questionamento sobre o que teria provocado aquilo.  Não havia rede elétrica por perto, não havia sistema de gás. Era somente um amontoado de material que ali estava acumulado.
Uma a uma cada possibilidade foi sendo descartada até que se observou ali perto, caída no chão, uma caixa de fósforos com alguns palitos usados ao lado.
Os olhares se dirigiram para o pequeno garoto que até então estava muito quieto, fato inusitado para todos.
A avó percebendo a situação começou a questioná-lo para que contasse o que sabia e o olhar arregalado dele o denunciava. 
Quando todos já haviam concluído que ele era o causador de toda aquela confusão, o garoto mostrando ares de revolta resolveu fazer sua própria defesa e muito indignado falou com toda convicção que a lógica infantil lhe permitiu:
- Esse fogo não fui eu que fiz não!!!  e fazendo um gesto com o dedo indicador e o polegar deixando-os a uma distância de uns dois centímetros um do outro, completou:
- O fogo que eu fiz era pequenininho assim ó, e não grandão como esse que o tio apagou!

Santos, 09 de maio de 2011                                                    

Nenhum comentário:

Postar um comentário