sábado, 4 de junho de 2011

CAIPIRICES NA CAPITAL

Convocado para uma reunião de trabalho na Capital, o grupo formado por dez pessoas desembarcou no terminal de ônibus e seguiu direto para o metrô.  Era final de tarde e a imensa agitação provocou um pouco de receio em todos.
No interior onde moravam, não havia esse movimento intenso de pedestres circulando nas calçadas.
O hotel previamente reservado localizava-se no chamado centro velho de São Paulo e era o mais indicado ao grupo porque além de ser perto do local da reunião que aconteceria nas primeiras horas da manhã seguinte, também era próximo à estação de metrô.
Deslocando-se atabalhoadamente pelas calçadas congestionadas, o grupo chamava a atenção não somente por conta das malas, mas principalmente pelos típicos trejeitos interioranos.
No curto trajeto percorrido a pé entre o metrô e o hotel, as mulheres que constituíam a maioria do grupo, observaram a existência de grande quantidade de lojas de calçados. Isso despertou um desejo que principalmente as mulheres conhecem muito bem: uma vontade incontida de fazer compras.
Como se aproximava o horário de fechamento do comércio, aceleraram os passos para deixarem logo as bagagens no hotel e voltarem rapidamente até as lojas de calçados.        Entretanto, dez pessoas chegando num balcão de hotel para efetuarem os registros obviamente causaram certo tumulto e os poucos funcionários demoraram mais do que o esperado para acertarem os detalhes. Enquanto isso, ali mesmo, foi feita a divisão das duplas que ocupariam cada apartamento. 
Antes que começassem a subir com as malas, combinou-se que dali a cinco minutos todos deveriam estar retornando ao hall de entrada do hotel, já que teriam menos de uma hora antes do fechamento do comércio.
O cansaço da viagem, o atordoamento normal por conta de tanto atropelo e, claro, as trapalhadas características de alguns elementos, corroboraram para uma série de confusões que atrasaram mais ainda os apressados hóspedes.
Uma das primeiras duplas a receber a chave do apartamento foi justamente a última a descer e o fez de maneira triunfal em função da grande confusão que aprontou.
Assim que entraram no quarto, uma das mulheres já foi dirigindo-se ao banheiro enquanto a outra ficou aguardando sua vez.
Quando o banheiro foi desocupado, ela para lá se dirigiu e no intúito de ganhar tempo, de cabeça baixa, já foi tirando o cinto e desabotoando a calça jeans. 
Abriu a porta e entrou no banheiro, ou melhor, pensou que havia entrado no banheiro.  Fechou a porta atrás de si e de calças já abertas e ainda olhando para baixo, espantou-se ao ver carpete no chão. 
Que coisa mais estranha, pensou consigo mesma.  Banheiro com carpete!!!
Foi quando levantou os olhos e levou o maior susto.
Estava no corredor de acesso aos quartos. Na pressa e com a cabeça abaixada, não notou que a porta do apartamento ficava bem ao lado da porta do banheiro. Havia aberto a porta errada e saído do quarto.
Deu um pulo e certificando-se que ninguém a havia visto (as câmeras de segurança ainda não eram tão usuais), entrou novamente no apartamento onde sua companheira, pasma e de boca aberta, queria saber onde ela havia ido com as calças quase arriadas.
Não foi possível explicar naquele momento pois ria tanto que teve de correr ao  banheiro, não sem antes certificar-se de que desta vez abria a porta certa.
Finalmente prontas e já com certo tempo perdido pelo imprevisto, foram até o elevador.   Aflitas, já achavam que os demais amigos do grupo não as esperavam mais. 
Quando o elevador chegou depois de uma boa demora, a outra companheira que se encontrava bem à frente teve também seu momento de trapalhada.
Ao abrir a porta do elevador que era muito pequeno e totalmente revestido com espelhos, ela que estava sem seus óculos de grau, viu nos espelhos os reflexos de si própria e da amiga. Dizendo “está cheio”,  fechou novamente a porta liberando o elevador que desceu em seguida. Ainda chegou a ouvir a amiga gritando “somos nós no espelho”, mas sem mais tempo para segurá-lo.
Mais alguns momentos até que finalmente estavam descendo para o térreo. Ambas riam tanto dentro do elevador que uma delas acidentalmente encostou-se num botão de alarme do painel. Uma sirene forte começou a soar e não sabiam como desligá-la.
Quando chegaram ao térreo e a porta do elevador abriu, se depararam com uma grande comissão de recepção formada pelos assustados amigos e por vários funcionários do hotel, prontos para atenderem a emergência anunciada.
Explicações devidamente feitas e muita gozação de todos, lá foi o grupo na correria pelas calçadas para os últimos minutos de compras.
Na saída ainda ouviram o comentário de um funcionário do hotel que rindo muito, os comparou a Mazzaropi no filme “Um caipira em Bariloche”.
Qualquer semelhança com certeza não foi mera coincidência......


Santos, 25 de maio de 2011

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