Creio que isso aconteça com muita gente.
Acordo às vezes sentindo uma tristeza profunda e o que é
pior, não sei o motivo.
Esse fato não é comum, mas me incomoda justamente porque passo
horas do dia com aquele aperto no peito e pensando no que poderia estar provocando
a sensação ruim, que já chegou a durar uns dois ou até três dias seguidos.
Claro que busco me distrair com leituras agradáveis, boas
companhias e evito ler ou assistir qualquer fato mais deprimente, mas como se
fosse um iceberg, aquela ponta de tristeza vez ou outra, consegue emergir e eis
de volta a sensação desagradável.
Sempre fui emotiva e sei também que ficamos mais ainda com a
idade (embora eu seja muito jovem...rs), mas nestas ocasiões de tristeza sem
causa aparente, me vejo chorando até em propaganda de papel higiênico.
Há alguns dias estive assim, nesta fase um tanto baixo
astral.
Embora eu seja totalmente leiga e até um tanto cética em
relação à astrologia e signos de um modo geral, cheguei até a pesquisar (dá-lhe
Google) sobre o chamado inferno astral, já que estava na semana anterior ao
aniversário.
Consulta feita e não cheguei à conclusão nenhuma.
Agora, enquanto fazia pequenos serviços domésticos (depois de
aposentada, virei “do lar”) sintonizei o som na estação chamada Radio Saudade
FM 100.7 MHZ, aqui de Santos.
Gosto de sua programação.
Acho até que vou pedir um “cachezinho” por esta propaganda.
Assim que sintonizei a rádio, ouço a voz de Maysa cantando um
de seus sucessos, Bom dia Tristeza,
composta por Vinícius de Moraes e Adoniran Barbosa.
Aliás, abrindo um parêntese aqui, esta música tem uma
história interessante, já que Adoniran e Vinícius nunca se encontraram e
naquela época, internet não existia.
Segundo relatos, Vinícius escreveu o poema num guardanapo de
papel e entregou-o a Aracy de Almeida, em Paris. A cantora era amiga de Adoniran. De volta ao
Brasil, mostrou-lhe os versos que empolgaram tanto ao sambista que ele resolveu
musicá-los. Assim nasceu a composição
Bom Dia Tristeza.
Pois bem, fechando o parêntese, eis
que ouço na rádio a bela voz de Maysa. Parei um pouco e fiquei refletindo sobre
os versos. Em seu poema, Vinícius diz
que a tristeza vinha do fato de amar.
Até o amor causa tristeza.
Talvez então seja isso. A gente ama a vida, ama os amigos, ama tantas
coisas que infelizmente, por circunstâncias diversas, muitas vão se perdendo ao
longo da vida. Em alguns casos, a perda é definitiva.
Seres que amamos e que partiram antes nos fazem falta, e
nosso inconsciente acorda vez ou outra lembrando tais perdas.
Assim como veio, aquela sensação ruim se foi.
Sou e sempre fui mais pela alegria, pela admiração à vida,
pela natureza e por momentos simples mas carregados de sentimentos e
sensibilidade. Momentos que passam ao
largo de bens materiais, mas que fazem realmente a vida valer a pena.
E relembrando Vinícius em seu Samba da Bênção ... “É
melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe”....
Por isso, hoje deixo de lado a bela música na voz de Maysa, e
fico mais com Drummond e seu poema sobre felicidade.
VOCAÇÃO PARA A FELICIDADE
CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE
Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades dolorosas,
paixões trágicas e não correspondidas.
Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da
vida.
Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.
A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim
E transborda em ternuras, em melodias,
em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.
Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.
Faço minha estrela brilhar.
Sem receio dos encontros, desencontros,
encantos e desencantos que o amor me diz.
Contrariedades? Eu as tenho.
E quem não as tem na vida secular?
Escassez de dinheiro? Nem é bom falar
Amores não correspondidos? Separações?
Rejeições? Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,
sem a contra parte do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.
Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar
sobre eles, procurando a solução
se a própria vida me conduz
a resposta final?
Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali
por onde os caminhos, as trilhas,
Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que felicidade
é o contrário de tristeza?
Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!
É, amigo, amanhã é sempre um novo dia
E quando a infelicidade passar por aqui,
minhas malas estarão prontas
para eu ir por ali.
..................
Que tal despertarmos em nossa alma, a vocação para a felicidade?
Santos, 5 de novembro de 2014
Sensacional! Parabéns!
ResponderExcluirObrigada Sonia. Quando estou assim, no baixo astral, passo longe do programa "Chegadas e Partidas"...rsss Beijão
ResponderExcluirParabéns! Vc escreve muito bem! Nos prende do começo ao fim do conto, dá até pena de acabar a leitura.
ResponderExcluirFiquei muito feliz lendo seu comentário Terezinha, principalmente por vir de você.
ResponderExcluirMuito obrigada por suas palavras e pela visita ao blog.
Obrigada de coração!!!
Um grande abraço.