sábado, 15 de novembro de 2014

O PROFESSOR TEXANO


Os dias eram curtos para darem conta das atividades das quais participavam.
Exerciam o magistério em cidades vizinhas e um dia por semana já era reservado para ida a São Paulo onde cursavam matérias da pós-graduação na USP. Os três períodos do dia e às vezes madrugadas, eram destinados ao trabalho e estudo.
Em um determinado semestre as duas amigas receberam um pedido do professor orientador da pós.  Um geneticista texano viria a São Paulo, convidado que fora, para ministrar uma série de palestras semanais no departamento de Genética Animal da USP.
Ocorreu porém que não houve inscrições na quantidade mínima exigida para que o evento fosse autorizado.  Faltavam exatamente duas inscrições.
Era justamente isso que o orientador desejava: que ambas se inscrevessem para completar o total necessário.
As palestras seriam dadas por este professor texano que não falava absolutamente nada em  português e portanto o evento seria totalmente no idioma inglês, sem tradução simultânea ou posterior.
Este fato por si só já as excluía de imediato como possíveis alunas, pois mal dominavam o idioma estrangeiro para traduções com direito ao uso do dicionário.  Conversação em inglês era algo que estava totalmente fora de cogitação já que não tinham a menor condição para isso.
Entretanto, o tempo exíguo que havia para o término das inscrições e a necessidade premente que o ciclo de palestras ocorresse, já que era importante para algumas pesquisas específicas de outros pós-graduandos, fez com que o orientador lhes assegurasse que assumiria qualquer problema que por ventura viesse a ocorrer por causa das dificuldades com o idioma.
Inscrições feitas e aulas iniciadas, as amigas sempre tinham o cuidado de sentarem mais ao fundo da sala e evitarem qualquer participação maior. Entendiam um termo aqui, outro ali, uma frase inteira acolá, mas não saia muito disso.
O professor texano falava muito rápido e às vezes até os que dominavam seu idioma, pediam-lhe que se expressasse mais pausadamente.
Ao final do semestre quando já estavam na penúltima palestra, as amigas tiveram que faltar por causa de imprevistos particulares.
Não contavam, entretanto, com o fato do professor vir a sentir suas ausências naquele dia. De imediato perguntou sobre elas ao professor orientador. Foi informado que tais alunas eram do interior e viajavam a São Paulo para assistirem suas palestras e que provavelmente haviam tido algum problema com o transporte.
Na semana seguinte, as amigas compareceram alegres e felizes já que era a conclusão do tal ciclo de palestras.
Nem bem chegaram e foram avisadas por colegas, que o texano desejava conversar com ambas, pois se dispunha a acertar uma data para a reposição exclusivamente para elas, da aula que haviam perdido.
Foi o que bastou para ligarem o sinal de alerta e evitarem ao máximo, dar uma oportunidade a ele de vir ao encontro delas.
Creio que naquele dia elas fugiram mais do texano do que o diabo já fugiu da cruz.
Entraram na sala quando a aula já havia iniciado e como sempre, em local discreto. Ao ser anunciado o intervalo, saíram praticamente voando.
Naquele dia ficaram sem o esperado cafezinho saboreado com todos os colegas e professor. Mantiveram-se em local seguro e distante das vistas enquanto durou o intervalo.
Quando calcularam que fosse o momento ideal para voltar à sala, levaram o maior susto. A porta do elevador se abriu e dentro dele estava justamente a pessoa que mais evitaram a manhã inteira. Foi por muito pouco, mas conseguiram disfarçar e se afastar quase correndo. A crise de riso que se seguiu foi inevitável.
Finalmente retornaram para a classe quando a segunda parte da aula já estava em andamento.
Ao encerrar a série de palestras o professor começou a se despedir e ao dizer o primeiro BYE elas saíram quase se atropelando da sala e foram tão rápidas que no segundo BYE que ele pronunciou, já entravam no elevador.
Estava encerrada a série de palestras com tema central que elas conheciam bem, mas cujos conteúdos jamais saberão.

Do you understand English?
Yes, I do.  The book is on the table!

                     E tenho dito!  Ops...And I have said!

Santos, 15 de novembro de 2014 

Para Vera, recordando a cena do elevador e a crise de riso que tivemos em seguida.  I can't believe we did it.




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