Os dias eram curtos para darem
conta das atividades das quais participavam.
Exerciam o magistério em cidades vizinhas
e um dia por semana já era reservado para ida a São Paulo onde cursavam matérias da pós-graduação
na USP. Os três períodos do dia e às vezes madrugadas, eram
destinados ao trabalho e estudo.
Em um determinado semestre as duas
amigas receberam um pedido do professor orientador da pós. Um geneticista texano viria a São Paulo, convidado
que fora, para ministrar uma série de palestras semanais no departamento de Genética
Animal da USP.
Ocorreu porém que não houve
inscrições na quantidade mínima exigida para que o evento fosse autorizado. Faltavam exatamente duas inscrições.
Era justamente isso que o
orientador desejava: que ambas se inscrevessem para completar o total
necessário.
As palestras seriam dadas por este professor
texano que não falava absolutamente nada em
português e portanto o evento seria totalmente no idioma inglês, sem tradução simultânea ou posterior.
Este fato por si só já as excluía de
imediato como possíveis alunas, pois mal dominavam o idioma estrangeiro para
traduções com direito ao uso do dicionário.
Conversação em inglês era algo que estava totalmente fora de cogitação
já que não tinham a menor condição para isso.
Entretanto, o tempo exíguo que
havia para o término das inscrições e a necessidade premente que o ciclo de
palestras ocorresse, já que era importante para algumas pesquisas específicas de outros
pós-graduandos, fez com que o orientador lhes assegurasse que assumiria
qualquer problema que por ventura viesse a ocorrer por causa das dificuldades
com o idioma.
Inscrições feitas e aulas
iniciadas, as amigas sempre tinham o cuidado de sentarem mais ao fundo da sala
e evitarem qualquer participação maior. Entendiam um termo aqui, outro ali, uma
frase inteira acolá, mas não saia muito disso.
O professor texano falava muito
rápido e às vezes até os que dominavam seu idioma, pediam-lhe que se
expressasse mais pausadamente.
Ao final do semestre quando já estavam na penúltima palestra, as amigas tiveram que faltar por causa de imprevistos particulares.
Não contavam, entretanto, com o
fato do professor vir a sentir suas ausências naquele dia. De imediato perguntou
sobre elas ao professor orientador. Foi informado que tais alunas eram
do interior e viajavam a São Paulo para assistirem suas palestras e que
provavelmente haviam tido algum problema com o transporte.
Na semana seguinte, as amigas compareceram
alegres e felizes já que era a conclusão do tal ciclo de palestras.
Nem bem chegaram e foram avisadas por
colegas, que o texano desejava conversar com ambas, pois se dispunha a acertar
uma data para a reposição exclusivamente para elas, da aula que haviam perdido.
Foi o que bastou para ligarem o
sinal de alerta e evitarem ao máximo, dar uma oportunidade a ele de vir ao
encontro delas.
Creio que naquele dia elas fugiram
mais do texano do que o diabo já fugiu da cruz.
Entraram na sala quando a aula já
havia iniciado e como sempre, em local discreto. Ao ser anunciado o intervalo, saíram
praticamente voando.
Naquele dia ficaram sem o esperado cafezinho
saboreado com todos os colegas e professor. Mantiveram-se em local seguro e distante
das vistas enquanto durou o intervalo.
Quando calcularam que fosse o
momento ideal para voltar à sala, levaram o maior susto. A porta do elevador se
abriu e dentro dele estava justamente a pessoa que mais evitaram a manhã
inteira. Foi por muito pouco, mas conseguiram disfarçar e se afastar quase
correndo. A crise de riso que se seguiu foi inevitável.
Finalmente retornaram para a classe
quando a segunda parte da aula já estava em andamento.
Ao encerrar a série de
palestras o professor começou a se despedir e ao dizer o primeiro BYE elas saíram quase se atropelando da sala e foram tão rápidas que no segundo BYE que ele pronunciou, já entravam no elevador.
Estava encerrada a série de
palestras com tema central que elas conheciam bem, mas cujos conteúdos jamais
saberão.
Do you understand English?
Yes, I do. The book is on the
table!
E tenho dito! Ops...And I have said!
Santos, 15 de novembro de 2014
Para Vera, recordando a cena do elevador e a crise de
riso que tivemos em seguida. I can't believe we did it.
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