quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O CAMELO QUE FALAVA EM FRANCÊS

Finalmente chegara o dia combinado com as crianças para irem ao circo.
Há dias que ele estava instalado na cidade e todos comentavam as belezas das apresentações dos mágicos, trapezistas, domadores, palhaços e principalmente o impacto que causava o número do globo da morte.
No final da tarde lá foram os três irmãos mais um primo acompanhados do pai e da tia.  Para que pudessem assistir direitinho todo o espetáculo, as crianças foram acomodadas nas cadeiras próximas ao picadeiro enquanto os adultos ficaram um pouco mais atrás.
A abertura do show com a bandinha de música tocando alto e os palhaços fazendo a maior bagunça, agitou a criançada que batia palmas cantando junto.
Número após número, cada um mais surpreendente que outro, foi desfilando naquele espaço próximo às cadeiras das crianças que não perdiam nenhum movimento dos artistas.
Os palhaços a todo o instante avisavam que logo haveria uma surpresa: um camelo que falava em francês. Depois de vários anúncios, eis que chegou o tão esperado momento.
Por trás das cortinas fechadas ouviu-se um vozeirão gritando:
- Je suis français.
As cortinas então se abriram e um animal grande e todo desengonçado entrou no picadeiro. A entrada foi triunfal e a plateia caiu na gargalhada.
Na verdade era um falso camelo e as crianças logo perceberam que dois homens davam vida ao animal, escondidinhos por baixo daquela fantasia enorme.
Virando-se para o público, o camelo se apresentou:
- Je suis camelê e gostê de comê panzê francê com mortadelê!
O artista que falava pelo bicho não conhecia a língua francesa e propositalmente dizia todos os termos terminando com a vogal e dando-lhe um acento tônico.
As palhaçadas que o animal fazia divertiam a todos: mexia com os músicos da banda, com os palhaços, com os ajudantes do circo, até que finalmente ele resolveu descer para brincar com a plateia.
Os irmãos e o primo que estavam acomodados bem na ponta da terceira fileira das cadeiras, riam muito com a algazarra que o camelo fazia mexendo com as crianças, ora tirando o boné de um, ora pegando a pipoca de outro.  Tão entretidos estavam que não notaram que a irmã caçula, de olhos arregalados, estava na verdade apavorada com o tal camelo francês.
As gargalhadas aumentaram quando o camelo começou a circular entre as fileiras e eis que de repente ele se dirigiu ao local onde estavam os irmãos e primo.
Nesse exato momento a caçula não resistiu mais. Entrou em pânico. Levantou e saiu correndo em disparada entre as cadeiras.  Os irmãos, pegos de surpresa, nada puderam fazer para evitar isso.
Depois de dar a volta toda nas cadeiras da plateia, a garota sempre correndo, se dirigiu ao corredor principal que dava acesso ao picadeiro. Para sua infelicidade, era exatamente esse o trajeto que o camelo faria para voltar ao palco.
O pai da menina na intenção de socorrê-la partiu ao seu encontro, mas acabou se atrapalhando e pôs-se a correr atrás do camelo.
A plateia estourou numa gargalhada só, pois a cena era hilária demais. Parecia ter sido ensaiada: a criança gritando e correndo sendo seguida de perto pelo desengonçado animal e logo atrás dele, o pai da garota.  Os três correndo no corredor central, um atrás do outro.
Quando já estavam próximos ao picadeiro, a tia da menina veio ao seu encontro no sentido contrário e salvou-a daquela situação.
Demorou um pouco para os ânimos se acalmarem, mas o que não demorou foi a enorme bronca que os dois irmãos mais velhos levaram do pai por não terem cuidado da caçula.
Após o encerramento do espetáculo que contou com a brilhante participação, não tão espontânea, dos dois coadjuvantes - pai e filha, todos voltaram para casa.
No caminho as crianças vieram se divertindo à custa da caçula cujo apelido era Dudu. Imitando o camelo francês, diziam:
- Camelê corrê atrás de Duduzê.  Duduzê chorê e quasê se borrê de sustê.
Essa brincadeira durou pouco, pois os irmãos sabiam que o pai não havia gostado nada da fama repentina adquirida na cena, mesmo porque sua performance deixou a desejar. Seu humor não estava lá essas coisas e de repente o castiguê seria imediatê e aí viriam cascudês nas cabecês!

Santos, 14 de dezembro de 2011   

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