Nessas situações o contato verbal passa ao segundo plano e a mímica acaba auxiliando e muito a comunicação.
Exemplos claros e reais disso constatamos ao comprar um simples remédio para resfriado. O jeito foi simular alguns espirros para que o farmacêutico entendesse o que se desejava. Nos restaurantes ao deparar-se com um filé quase sangrando em seu prato, bastou um efeito onomatopéico como tchiiiiiiiiiiiiii prolongado e pronunciado várias vezes ao mesmo tempo em que se virava a palma da mão para cima e para baixo, para que o garçom entendesse que se desejava uma carne bem passada.
Confiante nessa linguagem gestual, ela resolveu fazer compras num local onde o idioma alemão era predominante.
A parede cheia de pequenos objetos coloridos chamou sua atenção.
Eram pequenos relógios cucos que estavam expostos para venda em uma relojoaria. O rapaz a seu lado, já sabedor de suas constantes trapalhadas, alertou-a sobre o risco de esbarrar em outros objetos, pois o espaço era minúsculo. O alerta foi em vão.
Encantada pelo colorido e pelo movimento dos relógios, ela se empolgou e se pôs a escolher um que lhe agradasse mais.
Mexe aqui, mexe acolá e o que era previsível aconteceu. De repente o vozerio alemão que se escutava na pequena loja foi suplantado pelo barulho forte de algo caindo e quebrando no chão.
Um passarinho cuco conseguira pela primeira vez, realmente alçar vôo livre mesmo que tenha sido em direção ao chão. Claro que para isso ele contou com a ajuda de um grande safanão.
Silêncio total enquanto ela abaixava-se para recolher os pedaços que se soltaram do relógio e entregá-los à proprietária que num piscar de olhos estava em pé ao seu lado com ares nada amistosos, falando algo que ela não entendia. Com certeza a alemã só não a estava chamando de Nossa Senhora.
Após catar os pedaços, fazendo gestos com a mão, avisou que levaria o tal relógio mesmo porque não lhe restava outra opção diante da situação constrangedora. Dirigiu-se para o balcão enquanto tentava remontar as partes quebradas.
Para sua surpresa, a proprietária colocou de lado o cuco quebrado e trouxe uma caixa fechada com um novo relógio perfeitinho.
Era justamente o que ela queria.
Pagou e saiu da loja satisfeita. Antes de fechar a porta atrás de si ainda olhou para a alemã que tinha cara de poucos amigos e fez um aceno de despedida. Usando seu vasto repertório da língua inglesa pronunciou um despretensioso..... bye bye .
Saiu feliz com seu mini relógio cuco nas mãos.
Munique, 25 de dezembro de 2011
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