sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O DISCÍPULO DO PROFESSOR PARDAL



Criatividade era seu lema, mesmo quando nada de prático ou útil houvesse nisso. 
Quando sumia por certo período recolhido em seu escritório podia-se calcular que apareceria com alguma novidade.  Ficava horas caprichando em sua nova invenção. Era meticuloso por excelência.
Às vezes, quando flagrado durante a execução do projeto, se alguma pergunta lhe fosse feita a respeito do assunto, limitava-se a responder com toda calma:
- Espere e verá!
A família acostumou-se a isso embora continuasse a ser surpreendida a cada novidade que o pai punha em prática.
Certa feita deixou a todos muito curiosos. Passou horas manuseando a cola durepox fazendo caprichosamente seis rolinhos (que aos outros pareciam mais seis cobrinhas) de exatos 10 cm cada, medidos na régua.
Embora tenha sido questionado por todos negou-se a esclarecer a finalidade daquilo.  Que esperassem o momento certo e aí veriam a utilidade das tirinhas. Esse trabalho durou um tempão uma vez que era perfeccionista e quis deixar todos os rolinhos exatamente iguais. 
O dia acabou e na manhã seguinte cada um partiu para sua obrigação diária esquecendo-se do assunto. Somente na parte da tarde é que o tema voltou à baila. Foi quando avisou a todos que sua invenção já estava devidamente instalada. 
A princípio ninguém descobriu onde estavam colocadas as tais cobrinhas. Passados alguns minutos a mãe subiu ao pavimento superior com roupas para estender nos varais e aí ela deu o alerta aos demais curiosos membros da família.
Subiram a escada se atropelando enquanto o autor da façanha subia calmamente, aliás, como sempre fazia degrau por degrau, já curtindo a repercussão que seu feito teria.
A parte descoberta da área de serviço no pavimento superior era cercada por três muros baixos que tinham sobre si, como proteção, telhas coloniais tipo capas.  Em cada um dos muros, coladas sobre uma das telhas, havia dois rolinhos da tal cola. Estavam presos formando entre si a letra V mas deixando uma pequena abertura no ângulo formado por ambos.  Ainda sem entenderem o por quê daquilo, todos examinavam a situação quando seu criador chegou carregando um sabonete que acabara de usar no banho.
Calmamente foi em direção ao muro onde o sol batia fortemente e encaixou o sabonete no espaço entre os dois rolinhos de durepox, ou seja, dentro da letra V.
 Com toda sua lógica esclareceu que o objetivo era secar o sabonete ao sol.  A abertura deixada propositadamente no ângulo da formada letra V tinha por objetivo deixar espaço para a água escorrer.
Alguém de repente lembrou-se das outras letras Vs coladas nos outros dois muros mas foi prontamente esclarecido.  Dependendo da hora do dia em que ele precisasse tomar banho, o  sol poderia incidir nos outros dois muros e daí a necessidade de se implantar as tirinhas nos três locais.
Ele conseguira se superar! Criara um secador para ........sabonetes!
Ninguém se atreveu a perguntar qual seria a estratégia caso o banho fosse noturno, afinal já seria abuso demais questionar a validade total de sua invenção.
Mudez total na platéia familiar!

Santos, 21 de outubro de 2011   










Uma lembrança e um pensamento em meu pai, Sr. Italo, o Prof. Pardal da família.

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