segunda-feira, 18 de julho de 2011

PERDIDO NA CURVA

Não era dia de festa mas a alegria e ansiedade eram evidentes.
Há muito tempo as crianças apoiadas pela mãe, queriam visitar o zoológico da cidade vizinha, onde também havia um grande lago para pescarem e andarem de barquinhos.
Avesso a passeios nos finais de semana o pai havia finalmente concordado em viajarem no domingo bem cedinho.
Os pequenos levantaram-se antes dos pais e já vestidos, ficaram esperando somente o café para se dirigirem ao carro.  A euforia era imensa. 
Café tomado e lanches preparados, todos se acomodam na velha Chevrolet Veraneio 1969.
No banco de trás, as 3 crianças satisfeitas da vida, já combinavam as brincadeiras que fariam durante o passeio.
A distância a ser percorrida não era muito grande mas a estrada apresentava várias curvas bem acentuadas e por isso mesmo exigia cautela dos motoristas.
            A garota ia sentada entre os dois irmãos justamente para evitar algum desentendimento entre ambos, fato meio comum.
Poucos minutos de estrada e os pais já estavam chamando a atenção dos pequenos que não paravam quietos no lugar, mesmo porque não havia ainda a exigência de cinto de segurança para os passageiros.
A certa altura o filho caçula começou a cantarolar uma música cuja palavra final desencadeava uma nova frase e assim sucessivamente, tornando a música extremamente repetitiva, mas do agrado da molecada.  Os irmãos o acompanhavam na cantoria e os pais no banco da frente, resignados com o barulho, começaram a conversar outros assuntos.
Numa curva mais acentuada, o filho caçula foi literalmente espremido pelos corpos dos irmãos que não se seguraram e foram deslocados na direção do garoto.  Em vez de queixa, o fato resultou numa brincadeira adotada pelos três. 
A cada curva da estrada, fosse para a direita ou para a esquerda, as crianças deixavam seus corpos soltos e pressionavam o garoto que estivesse na ponta.
As risadas eram altas e os pais distraídos, não observaram o motivo de tanta risada.
Aconteceu porem que numa dessas curvas, o menino mais velho esbarrou o cotovelo no trinco da porta que se abriu de imediato, forçada pelo movimento que o carro vazia no momento. 
Ato contínuo, o corpo do garoto foi projetado para fora do veículo, rolando no asfalto.   Como na sequência havia mais uma curva para o outro lado, a porta fechou novamente fazendo um barulho forte.
Ao ouvir esse som a mãe ainda sem olhar para trás, questionou o motivo daquele barulho.
Espantada ouviu a filha dizer com a maior naturalidade que o irmão havia caído do carro.
Pai e mãe instantaneamente olharam para trás e pelo vidro traseiro viram apavorados o garoto já um pouco distante, correndo em plena pista, puxando um pouco a perna esquerda e gesticulando muito.
Uma brusca virada no volante do carro seguida de uma brecada violenta fez todo mundo gritar enquanto o carro parava no acostamento.
O pai desceu rapidamente e foi correndo em direção ao garoto, gritando para que fosse para o acostamento.  Por sorte naquele momento nenhum outro veículo estava transitando pela estrada.
Quando se encontraram, o pai muito assustado abraçou o menino e ouviu dele uma solene bronca: 
- Ia me deixar para trás? Não sei chegar ao zoológico sozinho!
Com os ânimos acalmados e por sorte apenas um pequeno esfolado no joelho do menino, a família pode seguir viagem não sem antes acontecer um rodízio de lugares dentro do automóvel: como uma sentinela, a mãe passou para o banco de trás acomodando-se entre os meninos e decretando o final das brincadeiras.

Santos, 23 de maio de 2011 

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