sexta-feira, 1 de julho de 2011

A ESTRADA DESERTA

Início de carreira sempre apresenta um certo sacrifício e muitos desafios.
Não foi diferente com as três jovens recém-formadas professoras.  
Moradoras em uma mesma cidade, iniciaram a vida profissional numa escola do município vizinho.  Foi quando se conheceram e a amizade teve início.
As aulas aconteciam no período noturno e como não havia transporte público entre as duas cidades nesse horário, a única que já era motorista e tinha seu próprio carro, dava carona para as amigas todas as noites e assim dividiam as despesas das viagens.
O percurso por estrada não era superior a 30 Km mas havia um trecho onde o movimento pequeno tornava a pista praticamente deserta. Comentários existiam de que nesse trecho, às vezes, se ouviam barulhos de tiros e que marginais se escondiam nas matas próximas à estrada. 
Apesar das jovens considerarem estes fatos como lendas contadas pelos moradores simples da região, não escondiam um pouco de temor quando transitavam pelo local.
Uma noite já próximo ao final da última aula, as professoras foram avisadas de que um grupo de detentos havia fugido do presídio num município vizinho.
A princípio não se preocuparam uma vez que o risco de se depararem com tais foragidos era mínimo. Encerradas as aulas, as três mulheres iniciaram a volta para seus lares.
A viagem feita sempre tão descontraída desta vez foi acompanhada de apreensão e todas vinham observando com atenção, o canavial que margeava a pista.
Ao se aproximarem do trecho menos movimentado, uma das professoras em tom de brincadeira, resolveu abaixar-se no banco para, segundo ela, evitar alguma bala perdida. A outra amiga , rindo, resolveu imitá-la.
A motorista nesse momento vendo-se como único alvo dentro do carro apavorou-se e para desespero das amigas, inesperadamente escorregou no banco também mantendo as mãos no volante.
No instante seguinte o carro fez uma manobra brusca para um lado, rodopiou e em meio a uma gritaria parou atravessado no acostamento com a parte traseira já no meio do canavial.  
Nos segundos que se seguiram, constatado que todas estavam bem, respiraram aliviadas até que uma das jovens, apavorada por estarem ali paradas, gritou para a amiga colocar urgentemente o carro em movimento e saírem dali.
Ordem dada, ordem cumprida e num arranque de fazer inveja a Barrichello, cantando pneus e levantando muita poeira, em fração de segundos o carro já estava novamente na estrada.    
Controle do veículo retomado e passado o susto, concluíram que era melhor permanecerem sentadinhas em seus lugares, sendo ou não alvos móveis para supostos atiradores.
A viagem terminou sem outros imprevistos e nenhum marginal saiu da mata mas em contrapartida, elas sim, haviam entrado na mata com carro e tudo e só não atropelaram os bandidos porque eles com certeza estavam a quilômetros dali.

Santos, 10 de junho de 2011



Uma homenagem à Jade, Damaris e Ana Maria num período muito divertido pelos lados de Iracemápolis.

2 comentários:

  1. Ligia, o que eu mais gosto na sua maneira de escrever é o tom divertido que você sempre dá...A gente se diverte muito! Agora que estou descobrindo o mundo dos blogs, estarei sempre aqui.
    beijos,
    Clô

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  2. Obrigada Clô. São histórias que guardei na memória e agora resolvi escrever. Lembranças boas que me fazem rir mesmo após tantos anos.
    Bjs

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